Sensação de normalidade diminui procura por doses de reforço, avaliam especialistas

Até a última terça-feira, 19, cerca de 519 mil pessoas acima de 40 anos estavam aptas a receber a quarta dose e não compareceram

A partir desta quarta-feira, 20, residentes de Fortaleza que possuam 18 anos ou mais já podem receber a quarta dose do imunizante contra a Covid-19, desde que tenham recebido a terceira dose há, pelo menos, quatro meses.

O andamento do processo de vacinação é comemorado por muitos, entretanto, a adesão à segunda dose de reforço (D4) não tem sido boa por parte da população. Até a última terça-feira, 19, quando apenas pessoas acima dos 40 anos podiam receber a quarta dose, na Capital, cerca de 519 mil pessoas que estão aptas a concluir o ciclo vacinal não compareceram a nenhum dos pontos de vacinação.

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O levantamento realizado pela Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) também apontou que o número de faltosos da terceira dose (D3) é superior a meio milhão de pessoas, já que 592 mil residentes de Fortaleza, sendo 447 mil adultos e 145 mil adolescentes, podem receber a D3 e ainda não procuraram os postos de vacinação.

Para a epidemiologista Lígia Kerr, que é professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a sensação de "falsa normalidade" contribui com o atual cenário.

"Os próprios governantes foram abrindo e as pessoas tratando a doença como uma coisa leve. As pessoas estão menosprezando o momento e minimizando a situação da Covid", destaca Kerr.

Para a especialista, criou-se um senso comum de que é "natural ter a Covid", já que os sintomas passaram a ser mais leves, na maioria dos casos, em pessoas vacinadas. Entretanto, Kerr destaca que já existem estudos que mostram que a doença pode gerar problemas futuros, imperceptíveis a curto prazo.

Para o infectologista Keny Colares, professor da Universidade de Fortaleza e consultor especial da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), a falta de percepção da gravidade da doença é um dos motivos para a baixa adesão.

"O fator mais importante é a redução da percepção de risco, as pessoas começam a perceber pelo noticiário e rede de amigos que muitas pessoas têm Covid, mas de forma leve. Começa a se ter a percepção de que não há mais o risco", relata.

O especialista destaca que normalizar a contaminação da doença pode ser arriscado à medida que o tempo passe, já que a eficácia da vacina diminui. "Está havendo um aumento da mortalidade. Sabemos que a proteção da vacina é temporária, então, a partir do quarto mês, há uma queda (na proteção)", destaca Colares.

No último dia 29 de junho, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou uma nota em que informava sobre a estagnação do número de vacinados no Brasil, o que permite que novas variantes surjam e que a velocidade de contágio da doença aumente.

Em Fortaleza, além dos faltosos de D3 e D4, há quem sequer tenha concluído o esquema vacinal primário (D1 e D2). De acordo com a SMS, cerca de 179 mil pessoas chegaram ao prazo de aplicação da segunda dose e ainda não compareceram aos centros de vacinação.

A epidemiologista Lígia Kerr destaca outro agravante do momento: a falta de testagem da população. Na avaliação de Kerr, com a sensação de normalidade, as pessoas passam a testar menos.

"Estamos tendo milhões de casos, a realidade não são o que os dados mostram. Muita gente não está testando, muita gente está testando em casa no momento errado. Então, uma soma de fatores está gerando a banalização da doença".

Até a última terça-feira, 19, foram aplicadas 2.405.997 primeiras doses, 2.286 segundas doses, 1.421.445 terceiras doses e 341.265 quartas doses da vacina contra a Covid-19.

Baixa movimentação

Na manhã desta quarta-feira, 20, dia em que a Prefeitura de Fortaleza iniciou a aplicação da quarta dose contra a Covid-19 em pessoas a partir dos 18 anos, a movimentação era bastante tranquila no ponto de vacinação do Shopping Iguatemi.

A atendente de loja Flávia Gomes, 31, aprovou a agilidade do serviço, mas espera que o local fique mais movimentado durante o andamento do processo. "Foi super rápido, espero que mais gente procure se vacinar. Temos muitos eventos voltando, é preciso conscientizar a população que o reforço é importante", opina.

O estudante Maycon Frota, 23, foi outro que aproveitou as primeiras horas da manhã para manter a imunização contra a Covid-19 em dia. "Achei bem vago, acredito que deveria ter mais gente procurando a quarta dose. O número de casos de Covid aumentou. Falta muita gente aqui".

Nos últimos dias do mês de junho, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), declarou que a cidade de Fortaleza passava por uma quarta onda de transmissão. Para as pessoas que estiveram contaminadas durante as últimas semanas, a recomendação da SMS é que procurem as doses de reforço 30 dias após o início dos sintomas.

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