Em 10 anos, índice de alunos que faltam aula por insegurança no trajeto e na escola quase dobra em Fortaleza
Fortaleza foi quarta capital do Nordeste a ter mais crescimento da insegurança de estudantes do 9º ano do fundamental no trajeto e na escolaEm Fortaleza, o percentual de alunos do 9º ano do ensino fundamental que não compareceu à escola por falta de segurança no trajeto ou na instituição quase dobrou nos últimos 10 anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, 9,5% dos estudantes dessa série na Capital afirmaram ter faltado aula por não se sentirem seguros no caminho de casa para a escola ou da escola para casa, e também dentro do colégio. Em 2019, essa taxa subiu para 17,2%, aumentando 7,7 pontos percentuais.
Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2009-2019: Análise de indicadores comparáveis. O estudo trouxe um compilado de resultados da série histórica da pesquisa, desde o primeiro ano em que ela foi feita até o último, que compreende um período de uma década e quatro edições, feitas em 2009, 2012, 2015 e 2019. Por comparação, é possível perceber a evolução de indicadores sobre a saúde dos estudantes das capitais brasileiras.
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A insegurança no trajeto ou na escola é sentida principalmente por meninas (19,3%) e por alunos de escolas públicas (17,8%), conforme dados de 2019. Enquanto, no geral, o percentual de alunos que faltou aula por insegurança nos 30 dias anteriores à pesquisa diminuiu de 2015 para 2019, essa taxa com recorte apenas de estudantes do gênero feminino apresenta aumento em todas as edições desde 2009.
Dentre as capitais do Nordeste, Fortaleza é a quarta em que este índice de segurança mais cresceu de 2009 para 2019. A cidade fica atrás de João Pessoa, Natal e Recife, que tiveram, respectivamente, o aumento de 9,9, 9,6 e 9,4 pontos percentuais no indicador na década observada. No Brasil, as capitais que se destacaram pelo aumento da insegurança sentida pelos alunos foram Rio de Janeiro, Belém e Palmas.
Outros indicadores relacionados ao tema da segurança tiveram aumento nos 10 anos estudados. O percentual de alunos do 9º ano que estiveram envolvidos em luta física ou briga em que uma das pessoas utilizou arma branca também sofreu aumento em Fortaleza.
“O tema de segurança e violências nesses 10 anos da PeNSE tem buscado captar os diversos padrões de comportamentos dos escolares que podem resultar não somente em agravos à saúde dos adolescentes, como podem ter repercussões sobre a vida escolar, resultando em falta à escola e até o abandono”, afirma o texto de análise da pesquisa.
A PeNSE é feita por meio de questionário digital, entregue aos alunos em smartphones disponibilizados pelo IBGE. A interação dos estudantes com os entrevistadores se limita à explicação do que é a pesquisa e do porquê dela ser feita. As perguntas são respondidas de forma individual, com o objetivo de aumentar o conforto e honestidade nas respostas dos adolescentes.
Abandono escolar por insegurança é mais incidente em áreas periféricas
A insegurança como fator de evasão escolar na Capital cearense se manifesta em maior escala nas escolas da periferia. A conclusão é da coordenadora do Centro de Defesa da Vida Herbert Souza, Lúcia Vasconcelos, que aponta os bairros Bom Jardim, Siqueira e Granja Portugal como os mais afetados. para ela, o problema foi potencializado pela pandemia, que afastou os estudantes das escolas por um longo período devido à necessidade do isolamento social.
"Alguns alunos não voltaram depois da reabertura [das escolas] e essa questão da insegurança é um dos motivos. Soubemos recentemente de uma escola no Grande Bom Jardim que decidiu fechar duas salas porque os jovens não se sentem mais seguros em fazer esse percurso até a unidade”, afirma Lúcia. Apesar da constatação da coordenadora, os números do IBGE não abrangem o período pandêmico, pois são relativos até 2019.
Para entender como a violência urbana está distanciando crianças e jovens do ambiente escolar, o Centro de Defesa da Vida fará uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) a partir de agosto. "Estamos tendo todo um cuidado em relação à metodologia para superar algumas restrições naturais, como por exemplo o medo que esses estudantes podem ter de falar sobre essa insegurança que sentem e de revelar detalhes sobre o problema", explicou Lúcia. Ela ressalta que, para uma compreensão mais ampliada do problema, gestores escolares devem transpor os limites dos muros das escolas.
"Sabemos que essa insegurança é uma coisa que se dá fora da escola, mas evidentemente traz impactos para o contexto escolar. E um desses impactos é justamente esse aumento no nível de evasão. A escola não deve negar essa situação. Pelo contrário, deve enfrentá-la e buscar saídas coletivas, porque se é uma violência de contexto, ela [a escola] não vai responder sozinha ao problema", sugere.
Na avaliação da coordenadora, a reversão do quadro depende da união de esforços entre órgãos de Segurança, Assistência Social e Poder Judiciário. Juntas, diz ela, essas instituições têm a missão de entender não só as consequências do problema, mas aquilo que lhe dá causa. "Só assim é que conseguiremos dar uma resposta efetiva e evitar que esse quadro se agrave ainda mais", finaliza. (Colaborou: Luciano Cesário)
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