Falta de energia em Fortaleza: saiba como funciona a rede de distribuição elétrica

O POVO conversou com um doutor em Engenharia Elétrica que explicou como as transmissões de energia elétrica funcionam e quais problemas podem apresentar

13:50 | Jun. 15, 2022

Por: Levi Aguiar
Foto de apoio ilustrativo: LINHAS DA CHESF Linha de transmissão de energia elétrica de alta tensão (foto: FCO FONTENELE)

Alguns bairros da Capital cearense registram falta de energia na manhã desta quarta-feira, 15. Ao O POVO, a Enel Distribuição Ceará informou que houve falha numa linha de transmissão da Chesf que afetou a subestações da distribuidora, causando falta de energia. O doutor em Engenharia Elétrica e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lucas Melo, explica como funciona o circuito de energia em Fortaleza e os motivos que podem ter levado à queda da energia.

De acordo com a Enel Distribuição Ceará, houve rapidamente manobras remotas de transferência de cargas, e o fornecimento foi completamente normalizado às 9h57. A Enel Ceará também esclarece que equipes da distribuidora trabalham em campo, auxiliando a Chesf na localização do defeito.

Circuito de energia: o papel da Chesf e da Enel

O Brasil tem um sistema elétrico de potência, que é toda a rede que abastece os dispositivos elétricos. Nesse sistema, há três grandes subdivisões:

  1. Sistema de Geração: inicialmente são as usinas, em sua maioria, hidrelétricas, que usam a força das águas para gerar energia.
  2. Sistema de Transmissão: responsável por captar a energia, elevar os níveis de tensão para tensões altíssimas. A partir desta elevação, há a transmissão de energia em grandes blocos. Isso é feito dessa forma porque as usinas estão distantes, em sua maioria, dos centros consumidores. Então é preciso transmitir essa energia em grandes potência. A Chesf costuma atuar neste setor de transmissão.
  3. Sistema de Distribuição: designado para receber essa energia transformada em tensões elevadíssimas e baixar esse nível de tensão para tornar segura a distribuição da carga para todos. Após isso, há uma capilarização da energia para sua distribuição. A Enel atua no setor de distribuição.

A cidade de Fortaleza é suprida em três pontos de entrega em 69.000 volts, de acordo com o especialista. Os pontos são a subestação da Chesf, no bairro José Walter; subestação Delmiro Gouveia, próximo ao estádio do Castelão, e a subestação Pici ll, próximo ao terminal do Antônio Bezerra.

“O que deve ter acontecido é que uma linha de transmissão da Chesf falhou. É possível que a subestação tenha sido desenergizada, por questão de segurança. O próprio sistema de automação e proteção das linhas desliga o circuito, quando detecta uma corrente anormal dentro do sistema. Isso acontece para proteger o sistema”, explica o professor.

Em relação ao que ocasionou a falha, Lucas relata que só é possível saber quando sair um relatório do problema. “Muitos fatores podem contribuir para que haja uma falha no sistema elétrico, seja de ordem natural, problemas técnicos ou sabotagem. Pode ser em decorrência de queimadas, galhos de árvores encostando na rede, animais subindo na rede elétrica ou até um rompimento de um condutor por causa de falha na manutenção”.

O engenheiro explica ainda que o turno da manhã não é um horário de pico, então provavelmente não houve sobrecarga no sistema. “O horário de pico na rede elétrica acontece de 17h até 20h30min. Então sobrecarga muito provavelmente não foi. Nós temos três pontos de suprimento, e na falta de um deles é possível haver uma transferência de carga, como a Enel alegou. Você pode transferir as cargas de uma subestação para outra”.

Para o docente, esse tipo de acontecimento já deve estar previsto dentro das normas operativas da concessionária de energia elétrica de distribuição, a Enel. “Existe todo um procedimento padrão, e em caso de falha de alguma das subestações é possível transferir parte da carga para minimizar o impacto da falta de energia, até que o sistema volte à normalidade. Todo o controle é automático e feito de maneira remota para realizar as transferências de cargas”.

Prejuízos para quem transmite

 

O professor ressalta que esse tipo de evento causa um impacto financeiro para a Chesf. “A Chesf recebe por disponibilidade, então ela precisa estar disponível 24 horas por dia durante os sete dias da semana. A cada minuto que ela passa não disponível para o sistema é uma penalidade financeira que sofrerá. É de interesse total da Chesf que esse tipo de evento não aconteça. Quando acontece, a energia deve retornar o mais rápido possível”, finaliza.