Após sete anos, corredor expresso da avenida Bezerra de Menezes ainda divide opiniões

Motoristas, pedestres, comerciantes e usuários de transporte público possuem opiniões divergentes sobre a utilidade das intervenções realizadas nos últimos anos

Com fluxo de cerca de 42.029 veículos, diariamente, em seus 3,3 km de extensão, a avenida Bezerra de Menezes funciona como um dos principais pontos de entrada e saída da capital cearense. Além disso, serve como elo entre os dois municípios mais populosos do Estado, Fortaleza e Caucaia. Para melhorar o tráfego na região, o Poder Público implantou uma série de intervenções na via há sete anos. As mudanças até hoje dividem opiniões de usuários, embora a avenida seja apontada como bom exemplo de mobilidade.

Dentre as intervenções já realizadas na avenida, a mais polêmica foi a implementação do corredor expresso de ônibus, entre os anos de 2014 e 2015. De acordo com a Prefeitura de Fortaleza, a medida trouxe mais celeridade ao transporte público, já que a velocidade do tráfego passou de 15 km/h para 23 km/h. "Eu acho que melhorou muito mesmo. Acredito que a questão do engarrafamento não tem muito, talvez essa sensação seja causada pela pressa das pessoas, como são muitos sinais, o trânsito fica mais controlado" relata Kelvia Castro, 42, que mora na região há 14 anos.

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Para o motorista Jorge Braga, 65, que diariamente trafega pela Bezerra de Menezes, a avenida se tornou mais segura após a instalação dos corredores, já que, na avaliação dele, o risco de acidentes entre ônibus e veículos menores quase não existe. "Ficou uma maravilha. Acho que consegue fluir melhor, não é mais preciso ficar parado atrás de um ônibus, quando você ia tentar ultrapassar, tinha o risco de uma batida", opina.

Por outro lado, há quem não veja grandes melhorias para os carros e reclame do atual funcionamento da via. Para Sérgio Portela, 63, que trabalha como taxista desde 1986, o trânsito piorou. "Ficamos só com duas faixas, são muitos sinais, um perto do outro. Não sou contra ter o espaço do pedestre, acho que poderiam colocar passarelas, porque, com muitos sinais, o trânsito não flui", reclama.

Para o professor Mário Azevedo, do departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Bezerra de Menezes é um bom exemplo no quesito mobilidade. Ele explica que os congestionamentos em horários de pico são naturais em grandes cidades. "É uma entrada principal da Cidade, no horário de pico, vai congestionar, de manhã ou à tarde. De qualquer maneira, vejo que o investimento no transporte público compensa".

Na avaliação do especialista, a capital cearense possui poucas vias que liguem diretamente o lado leste ao lado oeste da Cidade, o que, segundo Azevedo, mostra a necessidade do investimento no transporte público, para que mais pessoas possam se locomover.  "Quando se dá prioridade a um meio de transporte que transporta mais pessoas, é mais vantajoso para a cidade. Entendo que não é simples falar para o motorista que deixe o seu carro e vá de ônibus, é uma mudança de postura que vai levar um tempo", completa.


Diferença de fluxo em horários distintos


O POVO visitou a avenida em três horários distintos. Por volta do meio-dia do último dia 20 de maio passado, não encontrou congestionamento de carros em nenhum dos dois sentidos da via.
No último dia 30, após as 17 horas, O POVO constatou bastante lentidão no trânsito da avenida Bezerra de Menezes, no sentido Capital-Interior. Até mesmo nos corredores exclusivos, foi possível visualizar um congestionamento entre transportes públicos.

Movimentação na avenida Bezerra de Menezes
Movimentação na avenida Bezerra de Menezes (Foto: Aurelio Alves)

Na opinião de quem usa diariamente os coletivos, nesse horário, as vans acabam atrapalhando a velocidade do corredor. "O que atrapalha, muitas vezes, são as topiques (vans), elas acabam andando muito devagar e seguram os ônibus. Acho que os motoristas precisavam ser orientados", pontua Antônio de Paula, 61, que aguardava o seu transporte.

Algumas irregularidades no trânsito foram constatadas pelo O POVO nas visitas realizadas à via, como pedestres atravessando fora da faixa, carros que avançavam o sinal vermelho e, consequentemente, bloqueavam a passagem dos ônibus, assim como veículos parando na via por alguns minutos, gerando congestionamentos.

Segundo levantamento realizado pela AMC, em 2021, foram registradas 23.198 infrações. As que lideram o ranking são transitar na faixa ou via de trânsito exclusivo para ônibus, avançar o sinal vermelho e transitar em velocidade superior à máxima permitida.

Sobre as colisões ocorridas na avenida Bezerra de Menezes, durante o ano de 2021, a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza (AMC) informa que 80 sinistros foram registrados. Ao todo, os acidentes ocasionaram 72 feridos e uma morte, durante o último ano.

Na outra visita realizada pelo O POVO, por volta das 8h da manhã, do último dia 23, não houve registro de engarrafamentos. Apesar do intenso fluxo de utilitários de transporte público, o serviço funcionava sem apresentar problemas. Nas quatro faixas disponíveis para os demais veículos, duas em cada sentido, também não houve registro de congestionamento.


  

Insatisfação dos comerciantes

Dentre os críticos as mudanças implementadas na via durante os últimos anos estão os comerciantes. A principal reclamação da categoria é em relação à falta de estacionamentos no local.

"Peguei a Bezerra antiga, a Bezerra boa. Depois que reformaram isso aqui, o comércio da gente caiu muito. Tinha retorno, estacionamento, o povo tinha como parar", lamenta Luiz Melo, 62, que trabalha na avenida há 22 anos, como vendedor, em banca de revista.

Já para Luciene Uchoa, 60, que vive da venda de acessórios para casa, as mudanças também não foram favoráveis ao seu comércio. "O movimento piorou muito. Não tem mais como parar aqui perto, todo mundo reclama que era melhor antigamente", desabafa.

Trafegando pela avenida Bezerra de Menezes, é possível observar que existem vários pontos comerciais inutilizados. Os comerciantes explicam que a situação da falta de estacionamento, somada à questão da pandemia, causou um impacto negativo no comércio local.

Para Samuel Fernandes, 54, que trabalha realizando reparo de carros, a movimentação em seu estabelecimento também foi prejudicada.

"Antes desse corredor, o comércio existia. Conheço quem fechou depois que colocaram isso aí. Não tem mais onde estacionar os carros, o cliente não tem como parar e ser atendido", reclama.

Obras não são novidade na via

Nas últimas décadas, intervenções se tornaram comuns para quem trafega nesta região da cidade. Ainda em 2008, uma obra de restauração foi iniciada e concluída somente em 2012, em prol de trazer mais fluidez ao trânsito e promover uma diminuição dos acidentes na área.

Intervenções como drenagem, terraplanagem, pavimentação, padronização das calçadas, implantação de ciclovia e revitalização de canteiros foram realizadas. 

Pedestres têm mais segurança para travessia após padronização de calçadas
Pedestres têm mais segurança para travessia após padronização de calçadas (Foto: Aurelio Alves)

Sob uma nova gestão municipal, obras voltaram a acontecer na avenida, desta vez, o foco foi a construção de corredores exclusivos para ônibus, que foram entregues, inicialmente, em abril de 2015.

Em fevereiro de 2021, foram construídas lombadas nas estações Cruz Saldanha e Instituto dos Cegos, da avenida Bezerra de Menezes. As lombadas são utilizadas como quebra-molas, com o intuito de reduzir a velocidade dos veículos próximo às áreas de travessia. O objetivo da intervenção era o de garantir a segurança de ônibus e pedestres que trafegam na região.

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