Chikungunya: Fortaleza tem 80 vezes mais casos que no mesmo período de 2021

Até a última semana de maio, a Capital registrou 3.540 casos da doença transmitida pelo Aedes aegypti. Nos primeiros cinco meses de maio do ano passado, foram 44 confirmações

17:40 | Jun. 03, 2022

Por: Marcela Tosi
Agentes visitam casas para combater focos de Aedes aegypti em Fortaleza. (foto: Marcos Moura/Prefeitura de Fortaleza)

De janeiro à última semana de maio, Fortaleza registrou 3.540 casos de chikungunya. O número é 80 vezes maior que o registrado nos primeiros cinco meses de 2021, quando 44 fortalezenses contraíram a doença transmitida pelo Aedes aegypti. Os dados são de boletim epidemiológico de vigilância de arboviroses na Capital. 

O informativo aponta ainda que 10 bairros concentram 61,8% das amostras reagentes para anticorpos (IgM) chikungunya. São eles: Jardim das Oliveiras (146), Prefeito José Walter (139 casos), Cidade Funcionários (104), Engenheiro Luciano Cavalcante (63), Mondubim (58), Parque Manibura (54), Sapiranga Coité (53), Jangurussu (42), Barroso (38) e Conjunto Palmeiras (32). Ao todo, 91 bairros têm amostras positivas e 30 bairros permanecem silenciosos para essa arbovirose.

Nas primeiras semanas de 2022, foram registradas oito suspeitas de óbito por chikungunya; destes, dois já foram investigados e um deles foi descartado por falta de evidência. O outro foi a primeira morte pela doença confirmada neste ano, no dia 24 de maio. Os demais seis casos seguem em investigação. O ano de 2021 não registrou qualquer morte óbito por chikungunya na Capital.

"Passamos dois anos sem nosso trabalho de campo; os imóveis não receberam visitas dos agentes de endemia. Essas visitas ou ficavam na lateral da casa ou se limitavam a uma abordagem de orientação sobre como identificar focos e eliminar criadouros de Aedes aegypti", analisa Nélio Morais, coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza, indicando a possibilidade de uma subnotificação dos focos de infestação pelo mosquito.

Morais pondera também que o isolamento da população diante dos picos das ondas de Covid-19 culminou com os períodos meses mais críticos para a transmissão das arboviroses. "A restrição de aglomerações pode ter contido o avanço de casos", explica. "Um outro cenário é de subnotificação das doenças, porque os pacientes ficaram receosos de ir às unidades de saúde e os casos leves não foram notificados. Isso aconteceu não só com as arboviroses, mas com diversas enfermidades", completa.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) alerta ainda sobre a positividade dos testes para chikungunya. A positividade parcial de 2022 (54,6%) é maior que os valores registrados no período 2018-2021 (que variou entre 7,4% e 14,5%) e mais de duas vezes a média da positividade no período (que foi de 20,6%). A positividade de deste ano é próxima aquela registrada no mesmo período de 2016 (55%) e pode ultrapassá-la uma vez que 855 amostras de 2022 ainda estão aguardando análise pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen).

Outras arboviroses

Os casos de dengue em Fortaleza neste ano também chamam a atenção: já são 3.630 casos registrados até o dia 27 de maio. No mesmo período de 2021, foram 2.231 confirmações. "É um cenário relativamente idêntico ao do ano passado, porém em 2021 tivemos um avanço de casos no mês de junho e chegamos a um patamar de 14 mil casos no total do ano", afirma Morais. 

De todos os testes positivos para identificação da dengue, 44,6% (204) das amostras são de moradores da Secretaria Regional de Saúde VI, com destaque para os bairros Cidade dos Funcionários, Jardim das Oliveiras, Jangurussu, Parque Manibura, Sapiranga Coité e Messejana.

“Dengue é uma doença sazonal. No Nordeste, inicia em março e os meses de abril, maio e junho são normalmente os mais críticos. Ainda não estamos livres do risco porque os casos começam a recuar somente a partir de julho. O nosso cenário é de muito cuidado”, alerta o coordenador de Vigilância em Saúde. Ele diz ainda que a quadra chuvosa de maior intensidade não necessariamente tem relação direta com o aumento de casos: o mosquito precisa de umidade e calor para se desenvolver, ao mesmo tempo fortes chuvas podem "lavar" as superfícies e destruir criadouros. 

Já em relação à zika, outra arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti, apenas um caso foi confirmado neste ano. Ao todo, 58 suspeitas foram descartadas e 26 casos seguem em investigação.

Nélio Morais destaca ainda que a Prefeitura realiza ações contra arboviroses a partir da intersetorialidade entre secretarias e órgãos municipais. "As escolas têm realizado um papel preponderante; entre as ações, os alunos recebem uma cartilha, orientações e inclusive uma lupa e vão para casa orientar os pais e investigar os focos do mosquito", cita. Segundo ele, a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) e Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) são parceiros relevantes na retirada de criadouros e na fiscalização em comércios.