Acusado de matar ex-bancário, capitão da Aeronáutica vai a júri popular em Fortaleza

Crime ocorreu em novembro de 2020. O militar também responde por tentativa de assassinato contra dois familiares da vítima

22:58 | Mai. 26, 2022

Por: Luciano Cesário
Fernando Carlos Pinto foi assassinado a tiros pelo pai da ex-namorada do seu filho (foto: Arquivo pessoal )

Acusado de matar um bancário aposentado e de tentativa de homicídio contra dois familiares da vítima, o capitão reformado da Aeronáutica Luís Eduardo Ferreira de Melo, 68, vai a júri Popular no próximo dia 6 de junho, em Fortaleza, quase dois anos após o crime. O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou ao O POVO que o julgamento está marcado para começar às 9 horas, no Fórum Clóvis Beviláqua. O processo tramita na 4ª Vara do Júri de Fortaleza.

O crime ocorreu no dia 22 de novembro de 2020, quando o militar assassinou a tiros o ex-sogro de sua filha, Fernando Carlos Pinto, 59, e ainda disparou contra a esposa dele e o ex-genro, que é filho do casal. O fato ocorreu no condomínio residencial onde morava o capitão, no bairro José Bonifácio, durante uma visita que as vítimas faziam a um garoto de dois anos, fruto de uma relação entre a filha do militar e o filho do bancário.

Preso em flagrante minutos após o crime, o capitão foi levado para o 34º Distrito Policial, no Centro, e dois dias depois transferido para a Base Aérea de Fortaleza, depois de ter o flagrante convertido em prisão preventiva pelo Poder Judiciário. A decisão foi da 17ª Vara Criminal de Audiências de Custódia, após solicitação do Ministério Público do Ceará (MPCE). Desde então, o réu aguarda o julgamento em regime fechado.

O militar era contra os vínculos afetivos do neto com a família paterna devido ao pai da criança não ter se casado com sua filha depois que a gravidez foi descoberta. As duas famílias travavam uma disputa na Justiça pela guarda e visitação do menino. O TJCE informou que até a data do assassinato nenhuma decisão definitiva havia sido tomada no âmbito do processo.

Contudo, acrescentou o Tribunal, existia um acordo provisório entre as partes que assegurava ao pai o direito de visitar o filho nos finais de semana no salão de festas do prédio em que a criança morava com a mãe. Foi durante uma dessas visitas que o crime aconteceu. A ação foi filmada por uma moradora de um prédio vizinho.

Nas imagens, três pessoas aparecem discutindo no estacionamento do condomínio. No fim da gravação, o grupo se dispersa após um disparo. A arma utilizada no crime, uma pistola calibre 38, foi apreendida pela Polícia Militar no imóvel do militar. O POVO procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para saber detalhes sobre o inquérito policial do caso, aberto à época, mas ainda não obteve retorno.

Família pede justiça

No próximo sábado, 28, familiares e amigos de Fernando Pinto irão se reunir em uma manifestação para pedir Justiça pelo assassinato do ex-bancário. O ato está marcado para às 16 horas, no largo da estátua de Iracema Guardiã, de onde os participantes sairão em caminhada pela Avenida Beira-Mar.

Segundo o irmão da vítima, Fernando Antônio Pinto, a mobilização é um gesto de respeito à memória do familiar e um pedido de resposta às autoridades. “Foi a forma que a gente encontrou para reagir à crueldade que foi feita com o meu irmão, mas vamos fazer isso dentro dos critérios de justiça, de tolerância e do respeito”, explica.

Sobre o julgamento do acusado, Fernando diz que a família espera a aplicação da pena máxima, 40 anos de prisão. “Que a punição seja à altura da barbárie que ele cometeu”, disse, acrescentando que o irmão era reconhecido por relações sólidas dentro e fora da família. “Um cara que transformava o teu problema num problema dele”, relembra.

O ex-bancário era o quinto dos sete irmãos da família. Ele deixou esposa, dois filhos e o neto de dois anos. Outros dois netos nasceram menos de um ano após o seu falecimento.

“Matou friamente”

Segundo Fernando Antônio, o militar queria obrigar seu sobrinho a se casar com a filha dele após os dois descobrirem que ela estava grávida. “Ele falava desde o início que não se casaria, mas iria assumir o filho. Inclusive pagou plano de saúde para a mãe e fez todo o acompanhamento do pré-natal”, relatou.

Não satisfeito com a situação, o capitão teria ameaçado de morte o rapaz. “Ele descobriu o endereço do escritório do meu sobrinho, que é advogado, e disse que ia mandar ele lá”, contou Fernando. A relação conflituosa seguiu até o nascimento da criança, quando o avô materno quis impedir a aproximação da família paterna.

O caso foi levado à Justiça e após a realização de duas audiências de conciliação, as partes fecharam um acordo para garantir à família paterna o direito de visitar a criança aos domingos. O militar, no entanto, não aceitava a presença dos parentes e, de acordo com Fernando, já estaria planejando o crime. “Ele tinha comprado essa arma pra isso”, disse.

“Matou meu irmão friamente, atirou duas vezes no meu sobrinho e uma vez na minha cunhada. Quando meu irmão já estava no chão, morto, e meu sobrinho baleado, ele pegou um jarro de plantas e tentou jogar em cima deles. Isso mostra o quanto ele era cruel. Que a Justiça seja feita”, apela o irmão da vítima.

A defesa do acusado enviou nota na manhã de sexta-feira, 27: "A defesa técnica do Capitão Luis Eduardo da Força Aérea Brasileira, representada pelo advogado criminalista criminalista e Professor da Unifor, Delano Cruz, que fará a defesa em plenário com o advogado potiguar José Maria Rodrigues Bezerra, entende como legítima e compreensível as manifestações da família das vítimas. Entretanto, fará um trabalho técnico objetivando preservar o direito de um julgamento justo e imparcial, tudo com o maior respeito vocabular ao exercer o seu papel na Tribuna do Júri Popular".

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