Após morte em terminal de ônibus, usuários pedem mais segurança e fiscalização

No último sábado, 21, jovem de 21 anos morreu imprensada por um ônibus após tentar atravessar área restrita à circulação de veículos. Usuários ouvidos pelo O POVO pedem mais sinalização e fiscalização

A morte da atendente de telemarketing Maria Joyciane Ferreira da Silva, 20, imprensada por um ônibus dentro do Terminal do Siqueira, no último sábado, 21, em Fortaleza, trouxe à tona o debate sobre a segurança dos usuários nos terminais de transporte coletivo. O POVO foi ao local do acidente, nessa segunda-feira, 23, e ouviu reclamações dos passageiros sobre possível falta de fiscalização nas áreas restritas aos veículos pesados, necessidade de sinalização, tumultos nas plataformas de embarque e risco constante de assaltos.

No episódio recente, Jocyane foi pressionada por um ônibus contra a grade do portão de acesso à estação, onde a circulação de passageiros é proibida. Apesar da restrição, muitos usuários escolhem sair do terminal por esse local para não enfrentar longas filas na catraca ou por estarem com alto volume de bagagens de mãos.

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A manicure Antônia Tatiele Cavalcante, 35, que utiliza o terminal cotidianamente, atribui o problema ao tamanho reduzido da roleta por onde os passageiros devem deixar o terminal. "Essa catraca é muito apertada, se você tiver com mais de uma bolsa ou uma mochila, não consegue passar, assim como as pessoas mais cheinhas. Aí, por causa disso, muita gente acaba escolhendo sair pelo lado dos ônibus, mesmo sabendo do risco", disse a usuária.

"Eu mesma passo por lá todos os sábados, quando geralmente carrego mais bagagem. Poderia ser comigo esse acidente. Hoje tem gente ali fiscalizando, mas na maioria das vezes não tem, por isso que o povo passa. O ideal é que tenha um funcionário do lado da catraca para fazer esse controle e liberar a saída pela porta lateral para as pessoas que precisem", acrescentou.

A saladeira Eligiana Pereira, 34, também admite já ter utilizado a área restrita aos ônibus para agilizar sua saída do terminal. Apesar do erro, ela cobra que os motoristas tenham mais atenção. "Eu sei que é errado sair por esse lado, mas, às vezes, na pressa de chegar no horário no trabalho, a gente não considera o risco e acaba escolhendo não passar pela catraca. Já passei de ser atropelada, porque os motoristas não param, mesmo vendo que a gente está atravessando", reclamou.

Ainda conforme a passageira, outro fator que compromete a segurança dos usuários no terminal é a ocorrência frequente de tumultos nas filas de embarque. "A desorganização é muito grande, é um empurra empurra muito grande, gente sendo assaltada na fila, e os fiscais não estão dando conta da multidão de gente. Às vezes eu saio do terminal e vou para o ponto em frente à igreja porque aqui dentro não tem condições de pegar [ônibus] sem ser pisoteado", disse.

Com a alta movimentação nas plataformas, o risco de assaltos aumenta, segundo relataram os usuários ouvidos pela reportagem. A empregada doméstica Francivalda Batista, 48, que vai ao terminal todas as manhãs, de onde pega o ônibus para chegar ao trabalho, afirma haver roubos com frequência no local.

"Tem muito assalto pela manhã, principalmente no expresso 87. O tumulto é tão grande que uma amiga minha já chegou a quebrar a perna enquanto estava na fila. No meio do empurra empurra, muita gente perde celular, carteira, e por aí vai", contou.

A estudante Virna Silveira, 17, também usuária, considera que é preciso aumentar o número de fiscais e impor regras mais rígidas de organização para que os passageiros se sintam mais seguros. “Os fiscais deveriam dar o apoio, orientar, disciplinar as filas, mas a gente não vê isso na prática. Acho que eles são em pouca quantidade, por isso não fazem um trabalho melhor. Deveria aumentar a equipe e sinalizar melhor também os locais onde é proibida a circulação de usuários, justamente para evitar os acidentes", apontou.

O que diz a Etufor

Em nota enviada ao O POVO, a Etufor justificou que os locais com circulação restrita aos ônibus no terminal do Siqueira estão devidamente sinalizados. Contudo, prometeu reforçar as indicações de entrada e saída dos pedestres para tornar ainda mais evidentes as orientações.

Sobre as queixas dos usuários relacionadas ao risco de assaltos na estação, a empresa alegou que a segurança no espaço está garantida diuturnamente por meio da presença da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). Além disso, conforme a Etufor, também há a atuação de equipes de segurança privada contratadas pela empresa administradora do terminal, a Socicam.

Já com relação ao tumulto nas plataformas de embarque, a companhia informou que há fiscais designados exclusivamente para a organização das filas de passageiros nas linhas mais sobrecarregadas. “É importante lembrar que o embarque prioritário é respeitado, destinado às pessoas com dificuldade de locomoção”, diz trecho da nota.

Em relação ao tamanho da catraca, a Etufor argumenta que o equipamento segue o padrão adotado nacionalmente conforme as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Porém, a empresa afirma estar realizando um estudo técnico sobre a instalação de porta-volumes ao lado das roletas para facilitar o acesso dos passageiros.

Outras medidas que visam trazer mais conforto aos usuários também estão sendo analisadas, segundo pontuou a companhia. “Vale ressaltar que pessoas que apresentem algum tipo de dificuldade no uso das catracas podem utilizar o portão acessível localizado logo ao lado das estruturas”, diz a nota.

O texto ainda ressalta que, além das medidas adotadas dentro do Terminal do Siqueira pela administradora do equipamento, a Prefeitura também implementou um conjunto de ações preventivas na área externa. As mesmas medidas foram replicadas nas demais estações de ônibus de Fortaleza.

As ações incluem a instalação de bases emborrachadas entre as portas das estações e os veículos; faixas sinalizadoras para auxiliar no balizamento dos ônibus nas portas de acesso aos terminais; readequação de pontos de parada e proibição de desembarque de passageiros em áreas críticas.

Atenção redobrada

Nos portões de acesso e saída do Terminal do Siqueira, na avenida General Osório de Paiva, o entra e sai de ônibus é frequente a qualquer hora do dia. A alta movimentação, aliada com o fluxo também intenso do trânsito na via, exige atenção redobrada dos pedestres que circulam pelo trecho. Mesmo com a sinalização horizontal, vertical e semafórica, um simples descuido pode ser fatal.

De acordo com a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), o local tem recebido ações educativas continuadas sobre a importância do respeito à faixa de pedestres. As atividades foram intensificadas nas últimas semanas, por ocasião da campanha de conscientização no trânsito, Maio Amarelo.

Durante a abordagem, agentes e educadores de trânsito distribuem material informativo e dialogam com os passageiros a respeito dos comportamentos mais adequados para a prevenção de acidentes. A ação também é realizada nos demais terminais de ônibus da Capital (Antônio Bezerra, Conjunto Ceará, Lagoa, Messejana, Papicu, Parangaba e Praça Coração de Jesus).

Em dezembro do ano passado, o órgão de trânsito também iniciou um projeto educacional nas garagens de ônibus do transporte público de Fortaleza, orientando os motoristas sobre técnicas de condução segura e respeito aos mais vulneráveis no trânsito, que são os pedestres e ciclistas.  

Investigação

O POVO questionou a Etufor sobre as circunstâncias em que teria ocorrido a morte da passageira no último sábado, 21, mas a companhia disse ainda estar esperando o resultado da Perícia para se pronunciar sobre o assunto. A reportagem, então, procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que disse estar apurando o caso, por meio da Polícia Civil.

“O caso foi registrado no 30º Distrito Policial (São Cristóvão) e transferido para o 5º Distrito Policial (Parangaba), unidade que dará prosseguimento às investigações. Equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) foram acionadas para a ocorrência e realizaram os primeiros procedimentos sobre o fato”, diz trecho de nota enviada pela pasta.

No dia do acidente, a vítima voltava do trabalho para a casa do pai, em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Ao ser prensada, ela teve morte instantânea, antes que houvesse tempo para a chegada do socorro médico.

Histórico de ocorrências

O acidente ocorrido no Terminal do Siqueira no último sábado, 21, não é um fato isolado. Em 2016, um cobrador de ônibus de 40 anos morreu imprensado por dois coletivos no Terminal Antônio Bezerra. Seis anos antes, em 2010, foram pelo menos dois acidentes em estações de ônibus da Capital.

Um deles aconteceu no Terminal da Parangaba e teve como vítima uma cozinheira de 34 anos. Ela atravessava as passarelas da estação, fora da faixa de pedestre, quando foi atingida por um ônibus que dava ré e acabou sendo imprensada entre ele e um outro coletivo que estava estacionado no local. Apesar do choque, a mulher teve apenas ferimentos leves.

O outro caso envolve um homem de 33 anos atropelado por um ônibus dentro do Terminal do Papicu. Com a batida, ele morreu na hora. Antes disso, o último acidente havia ocorrido em 2004, no terminal rodoviário Engenheiro João Thomé, no bairro de Fátima, onde uma doméstica de 21 anos foi imprensada por um ônibus que dava ré dentro da estação. Com o impacto, ela machucou o braço e o abdômen, mas não teve complicações graves.

Os casos acendem um alerta para a necessidade de aprimoramento das medidas preventivas dentro e fora dos terminais. Para os passageiros, a principal orientação é o respeito às áreas de circulação restrita. Já das empresas administradores dos terminais, espera-se maior efetividade nas ações educativas e de orientação aos usuários.

Prevenção 

A AMC reforça que, embora os terminais estejam sinalizados, com velocidade regulamentada e sob a vigilância da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), os usuários devem redobrar a atenção ao circular nesses espaços e respeitar as leis de trânsito, conforme as seguintes orientações:

- Utilizar sempre as faixas de pedestres, túneis e acessos seguros dentro dos terminais;

- Respeitar a linha segura que delimita o espaço entre as plataformas e os ônibus;

- Nunca entrar ou sair pelo portão destinado aos ônibus;

- Sempre utilizar os portões de entrada e saída dos terminais ou portão acessível;

- Não atravessar as plataformas correndo;

- Os motoristas devem respeitar o limite de velocidade de 20 km/h;

- Obedecer às filas e respeitar o embarque das pessoas com prioridade;

- Nunca embarcar ou desembarcar com veículo em movimento;

- Não transitar entre os ônibus, nem na área destinada a estacionamento;

- Observar a área de pontos cegos sinalizada no veículo;

- Motorista só pode dar partida no veículo seguindo viagem após se certificar que todos os usuários embarcaram e as portas estão devidamente fechadas.

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