Comunidade do Saporé, no Mucuripe, protesta por moradias após cheias do riacho Maceió

Manifestação foi realizada na tarde desta quinta-feira, 21, e reuniu pessoas da comunidade e movimentos sociais. Moradores pedem que a Prefeitura elabore um plano de reassentamento e cobra diálogo com a gestão

20:30 | Abr. 21, 2022

Por: Luciano Cesário
Com faixas e cartazes, manifestantes pediram plano de reassentamento e moradia digna durante caminhada (foto: Luciano Cesário)

Moradores da comunidade Saporé, no bairro Mucuripe, em Fortaleza, realizaram um protesto nesta quinta-feira, 21, para reivindicar moradia digna e assistência social às famílias da localidade. Eles pedem que a Prefeitura faça a desapropriação da área e elabore um plano de reassentamento para garantir um novo lar aos moradores. A ocupação fica localizada em área de risco, às margens do riacho Maceió, que transborda em períodos chuvosos e avança em direção às casas. A maioria delas são construções de alvenaria, palafitas e barracos.

Na manifestação, os participantes fizeram cobranças diretas ao prefeito José Sarto, que visitou a comunidade no último dia 7 de abril, após chuvas intensas terem causado inundação das moradas, e prometeu que a área seria desocupada. "Sarto, as famílias do Saporé estão debaixo d'água. Moradia digna já!", dizia uma das faixas carregadas pelos manifestantes. O grupo saiu em caminhada da rua João Arruda, seguiu pela rua Manoel Jesuíno, avenida da Abolição e encerrou o ato na avenida Beira Mar.

Segundo os organizadores, cerca de 200 pessoas teriam participado do ato. O protesto foi apoiado por movimentos sociais e contou com a presença do vereador Gabriel Aguiar (Psol), que tenta estabelecer uma "ponte" entre a comunidade e a Prefeitura. 

"Desde o ano passado nosso mandato vem conversando com a Prefeitura, mas até agora não tivemos ainda um espaço de diálogo do Poder Executivo Municipal com a comunidade. E é isso que as pessoas aqui reivindicam, sentar com a Prefeitura para colocar as propostas na mesa e conseguir uma solução. São famílias que lutam há décadas por um direito fundamental, que é ter uma moradia digna", afirmou o vereador.

De acordo com Amanda Letícia, 23 anos, liderança na ocupação, 105 famílias vivem no local. Em períodos chuvosos, os moradores sofrem com os constantes alagamentos causados pelo transbordamento do Riacho que fica ao lado das casas. A depender do volume das chuvas, as pessoas chegam a perder móveis e ficam desabrigadas. Foi o que já aconteceu diversas vezes com a família da Amanda.

"Quando a água invade a casa, a gente fica na rua ou abrigado na casa de parentes. Chuva é uma coisa boa para a maioria das pessoas, mas para nós aqui é uma coisa que traz medo e muita aflição. Quando começa a chover, a gente já sabe que vai perder nossas coisas, as roupas, os móveis, e ainda tem o risco de a casa desabar", contou.

Para ela, o problema poderia ser solucionado se a Prefeitura construísse um conjunto habitacional em algum terreno no entorno da área. Segundo Amanda, apesar de os moradores buscarem um novo lugar para morar, eles exigem que a área do reassentamento não seja distante da região.

"A gente mora na comunidade e não quer sair dessa localização, porque além de termos uma história nesse lugar, é aqui que as pessoas conseguem o ganha-pão, porque como é perto da [avenida] Beira Mar, muita gente vai lá vender dindin, coco, lanches, e assim conseguem trazer o sustento de suas famílias. Se colocarem a gente num bairro distante, como esses moradores vão viver?", questionou a líder comunitária.

Também moradora da comunidade, a vendedora ambulante Flávia Pereira, 49, sugere que o problema seja resolvido sem que os moradores tenham que deixar o local. “O melhor seria se pudesse ser construído um conjunto aqui mesmo, para que a gente pudesse continuar morando aqui. Porque essa área é onde a gente nasceu, cresceu, criamos os nossos filhos, então envolve muita coisa afetiva”.

O POVO tentou contato telefônico e por aplicativo de mensagem com a assessoria de imprensa da Regional II, divisão administrativa responsável pela área onde fica localizada a comunidade do Saporé, mas não havia obtido sucesso até a publicação desta matéria.

Por correspondência eletrônica, a reportagem perguntou quais providências serão tomadas em relação às reivindicações dos moradores. A resposta será acrescentada a esta matéria tão logo seja enviada pela pasta.

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