Navio encalhado na Barra do Ceará atrai curiosos; veja possíves causas
O Capitão de Cabotagem da Marinha Mercante e doutor em Ciências Marinhas Tropicais, Miguel Sávio, falou ao O POVO sobre os possíveis motivos que fizeram a embarcação encalharEncalhada em um trecho de praia na Barra do Ceará, a embarcação “Lagoa Paranaense” tem intrigado especialistas e curiosos os quais neste momento tentam entender os motivos que levaram o navio a ficar preso na faixa de areia. Após seis dias, o caso ainda é um mistério. Devido à maré baixa, a expectativa é que pelo menos até o fim da segunda semana de março o cargueiro permaneça atracado.
De acordo com moradores da região, no canal em que o navio encalhou há uma grande faixa de areia. Eles dizem que o problema deve ter ocorrido por falta de conhecimento do local pelo comandante da embarcação. Além disso, relataram que no mesmo dia um cargueiro maior que o “Lagoa Paranaense” também estava atracado na mesma região. No entanto, como os tripulantes teriam conhecimento do trecho, teriam saído antes de a maré baixar totalmente.
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O capitão de Cabotagem da Marinha Mercante e doutor em Ciências Marinhas Tropicais, Miguel Sávio, falou ao O POVO sobre os possíveis motivos que fizeram a embarcação encalhar. Segundo ele, só a Capitania dos Portos, com as investigações em curso, vai concluir algo definitivo sobre o caso, mas dentro do seu conhecimento existem algumas possibilidades que podem ter contribuído para o encalhe do navio na areia.
“Estou especulando o que pode ter acontecido. Pode ter sido desde uma falha de motor, uma falha de leme ou uma demanda incorreta de canal, ou seja, falta de instruções sobre a navegação no local por parte do comandante. Provavelmente não sabia de algum problema de mudança de leito do rio que leva a água até o canal ou desconhecia a profundidade da região, mas é tudo especulação”, explicou.
Miguel ressalta que, geralmente, para se navegar por regiões iguais ao trecho da praia da Barra do Ceará onde o “Lagoa Paranaense” encalhou, é preciso ter conhecimento técnico do local. Se o capitão da embarcação não tem esse entendimento, ele pede ajuda de estaleiros que ficam nesses locais e oferecem o serviço.
“A maré influencia nas entradas e saídas de canais, a pessoa entra no canal quando ele está na sua maior maré, para ter maior facilidade.” O especialista diz que pode ter faltado entendimento prévio da profundidade do local.
Curiosos no local de encalhe do navio
As proximidades do Marco Zero, no início da rua Dr. José Roberto Sales, onde a embarcação está encalhada, têm sido um trecho bastante visitado da Barra do Ceará. Inclusive moradores de outros bairros estão indo para tirar fotos. O POVO esteve no local nesta quarta-feira, 9.
O inspetor de segurança Iramar de Souza foi com a esposa e o filho ao local de encalhe do navio. O motivo da visita, segundo ele, era buscar entender a situação e ver de perto esse "fato raro" com a família. O homem diz que o interesse pela logística de como será a retirada do navio da faixa de areia também o deixou curioso, por isso ele vai ficar acompanhando os próximos acontecimentos.
“É interessante porque é raro ver isso acontecer e se torna uma curiosidade tanto para mim, como para minha esposa e o meu filho. Viemos ver pessoalmente.” Sobre a retirada do navio, o homem especula: “Eu acho que a maré tem que estar muito alta e só então com a ajuda de um rebocador ele vai sair”.
Antônio Orlando mora no Jardim Iracema e, diante do fato inusitado, resolveu levar o filho, Ezequiel Gustavo, de 6 anos, para visitar o "Lagoa Paranaense”. “É uma novidade, quis mostrar para meu filho, acho importante que ele se interesse por questões da natureza. É uma história acontecendo na nossa frente. Não é todo dia que um navio encalha na Barra do Ceará”, disse.
Será possível fazer o desencalhe da embarcação?
Para desencalhar a embarcação é preciso que a altura da maré seja maior que o calado - parte submersa do navio. Tecnicamente, é a distância da lâmina d’água até a quilha do navio. O encalhe só acontece quando a água no local não é suficiente para fazer o cargueiro flutuar.
Agora o ideal é que o navio aguarde a "maré preia-mar", o nível mais alto de uma maré, e esta acontece na fase de lua cheia. No mês de março, começa dia 17. “É preciso ter uma maré maior do que o calado, ou seja, quando ele estiver flutuando seja maior do que a lâmina d'água. Se ele estiver naquela posição, estiver faltando dois metros e a maré for de três metros, ele vai ter um metro de diferença e vai ser puxado”, disse o doutor em Ciências Marinhas Tropicais, Miguel Sávio.
Miguel Sávio afirma que, dependendo das circunstâncias de momento, existem condições de o navio sair da faixa de areia com seu próprio motor. Porém, pela sua experiência, no caso do “Lagoa Paranaense”, poderá haver a necessidade do rebocador. Assim, além de estar essencialmente na hora da maré alta para puxar a embarcação encalhada, a embarcação precisa ficar numa área ampla e com maior profundidade, diminuindo riscos de ter problemas. Ele descarta a possibilidade de o navio não ser retirado.