Maré de até 3 metros é observada na Praia de Iracema nesta sexta, 4; veja fotos das ondas
Comerciantes afirmam que a altura das ondas é inferior ao registrado há anos no Estado, quando a força da maré chegou a invadir o calçadão, e o impacto nas atividades na orla é menorOndas com altura significativa foram observadas no fim da tarde desta sexta-feira, 4, na Praia de Iracema, em Fortaleza. Conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a altura chegou a 3 metros, por volta das 18 horas. O POVO esteve no local e observou que poucas pessoas tomavam banho de mar no momento da ressaca, especialmente na área de aterramento entre os espigões da João Cordeiro e da Rui Barbosa. A situação, apesar de exigir monitoramento segundo especialistas, não tem alterado muito a rotina das pessoas que frequentam a praia, seja para trabalho ou lazer, conforme fontes ouvidas pela reportagem.
Arlindo Tavares, 55, é comerciante na Praia de Iracema há dez anos e diz que está observando a altura atípica das ondas. Ele afirma, porém, que o fenômeno é inferior ao registrado no ano de 2019, quando a força da maré chegou a invadir o calçadão e molhar pedestres. O ambulante acompanhou as imagens que circulam nas redes sociais de Icapuí, onde as ondas quase atingiram casas e um poste de energia elétrica. Ele mantém a esperança, contudo, de que a situação não se repita nas praias da Capital.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
“Agora está mais fraco, mas não sei como vai ficar daqui para frente”, diz Tavares, lembrando que dependendo da intensidade das ondas as vendas podem ser prejudicadas, devido à menor circulação de turistas e moradores. Próximo ao espigão da rua João Cordeiro, Miquéias Pereira, 33, tem um ponto de venda de coco há quatro anos e já percebe alguns impactos da ressaca do mar há pelo menos dois dias. Durante o período com ondas mais altas, conforme relata, menos pessoas circulam na faixa de areia, assim como há menos espaço para o aluguel de guarda-sóis, realizado no local.
Já o aposentado Orlando Oliveira, 46, diz que não notou a ressaca do mar nos últimos dias. Ele é natural de Rio Branco, capital do Acre, e frequentou praias tanto da Capital como de Caucaia e Beberibe. “Notei que houve uma melhora no litoral cearense como um todo em relação à última vez que eu vim para cá, em 2015, mas essa questão da altura das ondas não foi algo que me chamou a atenção ou atrapalhou os nossos passeios”, disse.
A professora Maria Ozilea Bezerra Menezes, diretora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), disse que o fenômeno é comum no litoral do Estado em todo começo de ano, especialmente entre os meses de janeiro e março, com formação de ondas do tipo swell. Ela aponta que o mundo está passando por um período de mudanças climáticas e espera-se um aumento dos eventos meteorológicos extremos, como tufões e ciclones, que podem estar ligados à ocorrência da ressaca.
A especialista enfatiza que o poder público deve realizar o monitoramento contínuo do mar como uma política pública, com suporte orçamentário para a compra de instrumentos e a capacitação de recursos humanos. “Em outros países, como os Estados Unidos, a zona costeira é considerada uma área de segurança nacional, portanto, as variáveis ambientais oceanográficas como ondas e marés na costa são monitoradas continuamente”, ressalta.
Em âmbito estadual, Ozileia lembra que o Ceará, através da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), tem o programa Cientista Chefe de Meio Ambiente, cujo um dos projetos é de monitoramento costeiro e marinho. Ela pondera, no entanto, que o investimento para acompanhamento deve ser coordenado pela esfera federal, devido aos altos custos de implantação e a necessidade de ter uma rede de acompanhamento integrada entre as federações. “Na Década do Oceano, seria importante ter um projeto nacional para a instalação de equipamentos para monitoramento no mar em cada uma das capitais”, enfatiza.