Maré de até 3 metros é observada na Praia de Iracema nesta sexta, 4; veja fotos das ondas

Comerciantes afirmam que a altura das ondas é inferior ao registrado há anos no Estado, quando a força da maré chegou a invadir o calçadão, e o impacto nas atividades na orla é menor

22:44 | Mar. 04, 2022

Por: Leonardo Maia
Fenômeno de ressaca é comum nos três primeiros meses do ano, conforme especialista (foto: FCO FONTENELE)

Ondas com altura significativa foram observadas no fim da tarde desta sexta-feira, 4, na Praia de Iracema, em Fortaleza. Conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a altura chegou a 3 metros, por volta das 18 horas. O POVO esteve no local e observou que poucas pessoas tomavam banho de mar no momento da ressaca, especialmente na área de aterramento entre os espigões da João Cordeiro e da Rui Barbosa. A situação, apesar de exigir monitoramento segundo especialistas, não tem alterado muito a rotina das pessoas que frequentam a praia, seja para trabalho ou lazer, conforme fontes ouvidas pela reportagem.

Arlindo Tavares, 55, é comerciante na Praia de Iracema há dez anos e diz que está observando a altura atípica das ondas. Ele afirma, porém, que o fenômeno é inferior ao registrado no ano de 2019, quando a força da maré chegou a invadir o calçadão e molhar pedestres. O ambulante acompanhou as imagens que circulam nas redes sociais de Icapuí, onde as ondas quase atingiram casas e um poste de energia elétrica. Ele mantém a esperança, contudo, de que a situação não se repita nas praias da Capital.

“Agora está mais fraco, mas não sei como vai ficar daqui para frente”, diz Tavares, lembrando que dependendo da intensidade das ondas as vendas podem ser prejudicadas, devido à menor circulação de turistas e moradores. Próximo ao espigão da rua João Cordeiro, Miquéias Pereira, 33, tem um ponto de venda de coco há quatro anos e já percebe alguns impactos da ressaca do mar há pelo menos dois dias. Durante o período com ondas mais altas, conforme relata, menos pessoas circulam na faixa de areia, assim como há menos espaço para o aluguel de guarda-sóis, realizado no local.

Já o aposentado Orlando Oliveira, 46, diz que não notou a ressaca do mar nos últimos dias. Ele é natural de Rio Branco, capital do Acre, e frequentou praias tanto da Capital como de Caucaia e Beberibe. “Notei que houve uma melhora no litoral cearense como um todo em relação à última vez que eu vim para cá, em 2015, mas essa questão da altura das ondas não foi algo que me chamou a atenção ou atrapalhou os nossos passeios”, disse.

A professora Maria Ozilea Bezerra Menezes, diretora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), disse que o fenômeno é comum no litoral do Estado em todo começo de ano, especialmente entre os meses de janeiro e março, com formação de ondas do tipo swell. Ela aponta que o mundo está passando por um período de mudanças climáticas e espera-se um aumento dos eventos meteorológicos extremos, como tufões e ciclones, que podem estar ligados à ocorrência da ressaca.

A especialista enfatiza que o poder público deve realizar o monitoramento contínuo do mar como uma política pública, com suporte orçamentário para a compra de instrumentos e a capacitação de recursos humanos. “Em outros países, como os Estados Unidos, a zona costeira é considerada uma área de segurança nacional, portanto, as variáveis ambientais oceanográficas como ondas e marés na costa são monitoradas continuamente”, ressalta.

Em âmbito estadual, Ozileia lembra que o Ceará, através da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), tem o programa Cientista Chefe de Meio Ambiente, cujo um dos projetos é de monitoramento costeiro e marinho. Ela pondera, no entanto, que o investimento para acompanhamento deve ser coordenado pela esfera federal, devido aos altos custos de implantação e a necessidade de ter uma rede de acompanhamento integrada entre as federações. “Na Década do Oceano, seria importante ter um projeto nacional para a instalação de equipamentos para monitoramento no mar em cada uma das capitais”, enfatiza.