"Todo mundo gostava muito dela, era alegre e divertida. A família está arrasada", diz parente de travesti morta
"Todo mundo gostava muito dela. Alegre, divertida. Quem sofre mais é a família, que está arrasada", diz familiar
14:17 | Fev. 11, 2022
Sofia ou Giselly, como era chamada, tinha apenas 22 anos, era filha de pais separados e morava sozinha no Parque Santo Amaro, Grande Bom Jardim, em Fortaleza. A jovem era travesti e foi morta a pedradas na madrugada desta sexta-feira, 11. O corpo foi encontrado em um terreno na avenida Osório de Paiva. Um crime brutal e que chamou atenção de todo o Grande Bom Jardim.
Sofia era querida e amada na comunidade onde morava. Um dos relatos é de uma parente, que diz que o crime abalou toda a família. "Todo mundo gostava muito dela. Alegre, divertida. Quem sofre mais é a família, que está arrasada", explica a mulher que pediu para não ser identificada.
A funcionária de um mercantil que Sofia frequentava, também no Grande Bom Jardim, disse que a conheceu por causa da frequência com a qual Sofia ia ao estabelecimento. A alegria era tanta, que o proprietário a convidou para gravar vídeos na Internet e anunciar os produtos. Ela fez sucesso e adorava gravar os comerciais.
O dono do estabelecimento também a apelidou de Giselly e os dois nomes, Sofia e Giselly, passaram a ser usados por ela. Conforme uma familiar, ela já foi vítima de tentativa de homicídio. "O único fato para não gostarem dela era que ela era travesti. Isso é inaceitável. O pai dela está arrasado, a família é humilde, estão tentando conseguir o caixão, pois não há condições", explica.
De acordo com informações apuradas pelo O POVO, Sofia se prostituía na avenida Osório de Paiva e a presença dela incomodava algumas pessoas. Em razão disso, ainda confirme apurações do O POVO, já haviam tentado tirar ela do ponto de prostituição. A familiar de Sofia conta que ela foi espancada e, em outra situação, tentaram matá-la . "Todos do bairro a conhecem desde que nasceu, o sofrimento é grande".
Um amigo relata ao O POVO que ficou doente quando soube do caso. "Todo mundo gostava dela, o mundo é cruel e cheio de maldade. Fiquei doente depois que soube disso", lamenta.
Bom Jardim de Dandara e Sofia
Essa não é a primeira vez que o Grande Bom Jardim é local de crime contra uma travesti. Dandara dos Santos foi morta no dia 15 de fevereiro de 2017. Ela foi espancada, apedrejada e assassinada a tiros. Foi levada em um carrinho de mão e todo o crime foi filmado. A atrocidade que envolveu Dandara se assemelha em alguns pontos com o caso de Sofia, ambas foram mortas com uma violência brutal, duas travestis.
O caso de Dandara teve repercussão internacional e chamou atenção de todo o mundo para os casos de homofobia que se repetem diariamente. Os suspeitos de envolvimento com o crime foram presos, com participações diferentes: fosse por filmar e se omitir a uma situação de crime, outros por espancá-la, apedrejá-la, outros acusados de levá-la no carrinho de mão e, por fim, por atirar.
Dandara era alvo de comentários pejorativos durante toda a tortura e as agressões. Ela tornou-se escultura em Nova York e livro no Ceará, escrito pela policial civil Vitória Holanda, que além de amiga da vítima, foi uma das responsáveis pela investigação e prisão dos envolvidos. Dandara tornou-se símbolo do sofrimento e da luta por Justiça nos casos de homofobia.
Nota da SSPDS
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) foi acionado para atender à ocorrência de achado de cadáver no bairro Bom Jardim.
Equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) também foram acionadas para o local. De acordo com a SSPDS, Um inquérito foi instaurado pelo DHPP.
Inicialmente, O POVO apurou que a vítima tinha 23 anos, mas a informação da idade foi retificada pela SSPDS, para 22 anos.
Denúncias
A SSPDS reforçou que população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais. As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria, ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia.
As denúncias também podem ser encaminhadas para o telefone (85) 3257 4807, do DHPP, que também é o WhatsApp do Departamento. O sigilo e o anonimato são garantidos.