Ato em memória de Moïse Kabagambe é realizado na Praça do Ferreira
Além de cobrar justiça para o caso do trabalhador congolês linchado no Rio de Janeiro, manifestantes protestaram contra racismo e xenofobiaA Praça do Ferreira recebeu na tarde desta quarta-feira, 9, uma manifestação em memória de Moïse Kabagambe, trabalhador congolês morto em espancado no Rio de Janeiro (RJ) em 24 de janeiro. Organizada por militantes antirracistas, movimentos sociais e integrantes de partidos políticos, o ato cobrou justiça para o caso e denunciou situações de xenofobia.
Um dos participantes da manifestação foi o guineense Jorge Fernando Lodna, estudante de Administração Pública da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e integrante da Associação dos Estudantes Guineenses da Unilab. “Pediremos justiça até que ela seja feita”, afirma sobre o caso de Moïse.
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Ele também denuncia que a xenofobia e o racismo podem ser percebidos no dia a dia dos estudantes africanos, no tratamento pelo qual passam em espaços públicos ou supermercados, por exemplo, sobretudo, quando comparado aos brasileiros e, especialmente, aos brancos.
No caso do também guineense Adilson Oliveira, doutorando em História Social, na Universidade Federal do Ceará (UFC), a discriminação se deu até mesmo em sua vizinhança, que, conforme relata, já chegou até a acionar a Polícia, mesmo sem ele ter feito nada. “Você que é estrangeiro não passa pelas mesmas coisas que um nacional passa”, desabafou durante o ato.
Outro estudante guineense a confirmar a discriminação sofrida por africanos no Brasil é Makaio Upecor, mestrando em Ciências da Computação, na UFC. Integrante da Pastoral do Migrante, da Arquidiocese de Fortaleza, ele afirma que, ocasiões como a manifestação desta tarde, servem para mostrar solidariedade aos migrantes, sobretudo, negros e para combater a discriminação.
Veja imagens do ato no Centro de Fortaleza
“Somos todos irmãos. Queremos um mundo onde haja laços de irmandade, sem trapaça e onde se faça justiça”, diz Makaio. A coordenadora da pastoral, a irmã Idalina Pellegrini, corrobora. “Nós da Pastoral do Migrante temos um trabalho já há mais de dez anos junto com a migração internacional e, no dia a dia, a gente percebe esse preconceito, essa xenofobia, muitas vezes, muito sutil”.
Entre os movimentos brasileiros que reforçaram a manifestação esteve o Movimento Negro Unido (MNU). A coordenadora municipal do MNU, Daniela Silva, afirma que a manifestação também é uma forma de ressaltar a importância da autoidentificação, já que, ela afirma, há um pensamento que predominou por muito tempo no Estado de que não existem negros no Ceará.
“São provas do racismo estrutural que enfrentamos em nossa sociedade, (assim como) o aumento e o desfavorecimento da população negra”, afirma. “Porque só o que queremos aqui é sermos respeitados. Queremos uma vida e que esta seja digna”. Também estiveram presentes no ato representantes do Legislativo, como a covereadora Louise Santana, do Mandata Nossa Cara (PSOL), e a vereadora Larissa Gaspar (PT).
Moïse foi morto após cobrar diárias ainda não pagas no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca. Ele foi imobilizado e agredido por, pelo menos, três homens. Até mesmo um taco de beisebol foi usado no linchamento. A Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão de três suspeitos de participação no crime: Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o "Dezenove"; Brendon Alexander Luz da Silva, o "Totta"; e Fábio Pirineus da Silva, o "Belo".
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