Síndrome gripal: UPAs têm novo recorde mensal de atendimentos; média diária apresenta queda

Entre os dias 1º e 27 de janeiro, foram 35.431 atendimentos nas UPAs de Fortaleza por síndrome gripal, 27% a mais que em dezembro de 2021. Desde o último dia 21, média móvel de atendimentos por dia apresenta queda

13:50 | Jan. 28, 2022

Por: Gabriela Custódio e Marcela Tosi
Fortaleza conta com 12 UPAs, que estão localizadas nos bairros: Autran Nunes, Bom Jardim, Canindezinho, Conjunto Ceará, Cristo Redentor, Edson Queiroz, Itaperi, Jangurussu, José Walter, Messejana, Praia do Futuro e Vila Velha (foto: Divulgação/Governo do Estado)

O rápido aumento de casos de Covid-19 causados pela variante Ômicron do Sars-Cov-2, vírus causador da doença, e o surto de gripe em decorrência principalmente da Influenza A H3N2 têm refletido na procura da população por assistência nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza nos últimos meses. No acumulado de janeiro até esta quinta-feira, 27, as UPAs já atenderam mais pacientes com síndrome gripal do que em qualquer outro mês desde o início da pandemia.

Neste início de 2022, os registros do IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), mostram que já foram realizados mais atendimentos até do que em dezembro, que já tinha sido recorde de procura na Capital desde janeiro de 2020. Entre os dias 1º e 27 deste mês, as UPAs realizaram 35.431 atendimentos por síndrome gripal, aumento de 27% em relação a dezembro de 2021.

Esse número elevado de janeiro de 2022 deve-se, sobretudo, às duas primeiras semanas do mês, informa o epidemiologista e professor Antônio Silva Lima Neto, coordenador da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de Fortaleza (SMS). "A partir da metade da terceira semana, começa a cair", pondera.

Explosão de casos

A cada dia de janeiro, uma média de 1.312 fortalezenses recorreram a uma das doze UPAs da Capital com sintomas como dor de garganta, dor de cabeça, tosse e coriza. Em dezembro, a média foi de 898 atendimentos por diaAté dezembro de 2021, as maiores médias diárias de atendimento, por síndrome gripal nas UPAs tinham sido registradas em fevereiro, abril e março de 2021. Foram 874, 826 e 806 consultas realizadas nesses meses, respectivamente., totalizando 27.847 pacientes com suspeita de gripe ou Covid-19.

Já em novembro, o total foi ainda menor: 6.540 atendimentos. Assim, nesse período, o número de atendimentos por síndrome gripal nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Fortaleza quintuplicou.

"Iniciou com discreto aumento no final de novembro, progredindo no mês de dezembro e nas duas primeiras semanas de janeiro", explica Álvaro Nepomuceno, coordenador de Serviços Assistenciais da UPA Canindezinho. Segundo ele, "o perfil de pacientes é misto, desde crianças até idosos" e de ambos os sexos.

Sobre a "explosão" de buscas por atendimento nas UPAs da Cidade no final de dezembro de 2021 e no começo de janeiro de 2022, o professor e epidemiologista explica que a Influenza costuma causar sintomas como febre alta, cansaço, fadiga extrema, entre outros.

"Já que esse paciente sente maior gravidade, às vezes ele tenta evitar a unidade de saúde e vai diretamente às UPAs, que, então, explodiram de casos", afirmou, em entrevista ao O POVO, citando picos de mais de 1.200 atendimentos por dia nas unidades. "É algo inédito."

Além das UPAs, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Fortaleza também viram a demanda de pacientes com sintomas gripais aumentar. De acordo com o epidemiologista, elas chegaram a realizar 3.200 atendimentos por síndrome gripal por dia.

Dados disponíveis no IntegraSUS mostram que, até 23 de dezembro, data em que foram confirmados os três primeiros casos de Covid-19 causados pela variante Ômicron no Ceará, a mais alta média móvel de atendimentos por síndrome gripal nas UPAs foi registrada em 20 de fevereiro de 2021. Naquele dia, a média móvel era de1.033 atendimentos diários.

Após a confirmação da Ômicron no Estado, a máxima subiu para 1.753 atendimentos — aumento de 69% — e foi registrada no dia 29 de dezembro de 2021, data em que foi confirmado que o Ceará vivia uma epidemia de síndromes gripais, com prevalência da Influenza A H3N2. Desde o último dia 21, a média móvel de atendimentos nas UPAs apresenta queda.

O médico Rodrigo Fontenele começou neste mês a trabalhar como plantonista na UPA Itaperi e relata um grande fluxo de pacientes no local. "Eu tinha uma ideia vaga de como esperar o fluxo pelas outras unidades em que tinha trabalhando antes, mas desde o começo notei um aumento grande do volume de atendimentos, de ficar 80, 100 pacientes na espera", diz.

Os sintomas mais comuns apresentados, segundo o médico, são febre, tosse seca, dor de garganta, moleza no corpo e dor de cabeça. Muitos pacientes atendidos pelo profissional têm casos leves e são de faixa etária jovem, economicamente ativa, "que são orientados pela empresa a procurar atendimento e testagem ou trabalhadores autônomos que precisam se afastar porque lidam com o público".

Entre os dias 1º e 27 de janeiro, os atendimentos nas UPAs com classificações verde e azul — considerados "menos graves" e "leves" — corresponderam a 71% dos atendimentos que receberam alguma classificação nas UPAs.

Os atendimentos mais graves, que são classificados com as cores vermelho (emergência) e laranja (muito urgente), representaram 8,4% dos atendimentos classificados em janeiro. Os amarelos (urgente) foram 19% deles. Ao todo, foram 35.654 atendimentos até 27 de janeiro, e, destes, 3.541 (9,9%) constam no IntegraSUS como "não classificado".

A Secretaria da Saúde do Estado também informou, no último dia 26, que a variação da quantidade de transferências de UPAs para equipamentos de alta complexidade indicam o efeito positivo da vacinação na população de Fortaleza. A pasta analisou a proporção de casos de síndrome gripal que evoluíram com gravidade e necessitaram de transferência em três momentos: nessa terceira onda — entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, até o dia 19 — e as ondas anteriores — maio de 2020 e março de 2021.

Em maio de 2020, uma a cada quatro pacientes (25,61%) precisava ser encaminhadas para leitos de hospitais de maior complexidade. Em março de 2021, a necessidade de internação chegava a 17,27%. No cenário mais recente, com a maioria da população vacinada, uma a cada 20 pessoas atendidas nas UPAs precisa de transferência, informa a pasta, em comunicado.

Mudanças no cenário de Fortaleza

Inicialmente, a maior parte dos casos gripais era causada pela Influenza A H3N2, cuja cepa circulante, a Darwin, ainda não estava contemplada na vacina disponibilizada pelo Ministério da Saúde em 2021. Com o passar das semanas, a Covid-19 começou a prevalecer no cenário viral de Fortaleza.

"A Influenza veio gradativamente caindo ao longo das duas, três primeiras semanas de janeiro e temos predominantemente, no dia de hoje (26 de janeiro), mais ou menos 55% de positividade das amostras de síndrome gripal de Fortaleza para Ômicron", afirma o epidemiologista.

O coordenador da Vigilância Epidemiológica da SMS afirma que, apesar de a positividade continuar alta, há uma pequena redução no número absoluto de casos. Dessa forma, há indícios de que a terceira onda da pandemia esteja "caminhando para uma estabilidade". Essa é uma estimativa e epidemiologista destaca a alta transmissibilidade da variante.

"Mas os casos graves continuam raros, sobretudo na população vacinada, e parece estar caminhando para uma estabilidade. Chegamos a ter — um número ainda muito subestimado — mais mais de mil casos por dia, mas que parece estar caminhando, talvez na semana que vem, para começar pelo menos um platô dessa onda", complementa.

Ele explica que a dispersão do vírus, nesta terceira onda da pandemia de Covid-19, tem ocorrido de forma semelhante às anteriores: os casos começaram a surgir pelos bairros de maior índice de desenvolvimento humano (IDH) e em seguida expandiram-se para a periferia.

"A Ômicron é uma variante importada, varreu essa área que pega o grande Meireles, Aldeota, Guararapes, Mucuripe, Cocó. Foi muito rápido, uma aceleração de duas, três semanas. Ela dominou o cenário mais ou menos nos dez últimos dias do ano (2021), estamos no dia 26 (de janeiro) e estimamos que muito provavelmente nessa área ela praticamente já está estabilizada", aponta.

Segundo o epidemiologista, a variante ainda pode estar em aceleração em alguns núcleos populacionais em bairros na periferia de Fortaleza, mas também "já próximo de uma tendência de estabilização", que, estima-se, deve ocorrer na primeira quinzena de fevereiro.

Mas o que é síndrome gripal?

A denominação é adotada pelos profissionais da Saúde ao avaliar uma pessoa com pelo menos dois destes sintomas: febre repentina, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza e ausência e/ou dificuldade em perceber cheiro/sabor.

Em crianças e idosos, a síndrome gripal pode causar ainda outras manifestações. Nos pequenos, pode ocorrer também obstrução nasal. Nos mais velhos, devem ser considerados outros fatores, como perda repentina de memória, confusão mental, sono em excesso, irritabilidade e falta de apetite.

É preciso continuar mantendo cuidados

Em um cenário em que ainda se tem alta transmissão da Covid-19, o epidemiologista e professor Antônio Silva Lima Neto destaca algumas medidas importantes para que as pessoas continuem se prevenindo contra a doença. Ele destaca a necessidade de as pessoas tomarem a dose de reforço da vacina contra a doença e de os pais e responsáveis levarem as crianças para se vacinarem.

"Existem algumas evidências de Covid longa em crianças, a extensão de sintomas pós-Covid. As pessoas dizem 'vou deixar meu filho pegar Covid porque é leve', mas não é assim. Ninguém deixa o vírus circular livremente dessa forma", afirma. A vacinação, de acordo com o coordenador, é fundamental para se alcançar uma sustentabilidade no controle da doença, além de proteger as crianças individualmente.

Outra ponto citado pelo epidemiologista é o cumprimento do uso da máscara N95/PFF2 por trabalhadores com alta exposição, conforme decreto estadual de combate à pandemia publicado no último dia 15 de janeiro. Esse modelo de máscara é considerado mais seguro contra infecção por Covid-19 e outros vírus respiratórios.

"E saber que ainda estamos em um patamar de alta transmissão. As aglomerações são desaconselhadas, nesse momento. Elas não estão proibidas, mas são desaconselhadas, porque se você tem alta transmissão o risco de contágio é muito maior", finaliza.

Atualizada em 28 de janeiro de 2021, às 18h45min