"Durmo com a foto dele pedindo a Deus que eu sonhe com ele", diz viúva de comerciante assassinado

Aos 63 anos, dona Lucimeire tem que reaprender a viver sem o seu Reginaldo, que durante 38 anos foi seu companheiro. Eles tinham uma padaria, em Fortaleza, e o comerciante foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Suspeito fugiu da delegacia

18:27 | Jan. 10, 2022

Por: Jéssika Sisnando
REGINALDO era casado há 38 anos com Lucimeire (foto: reprodução/redes sociais )

Dona Lucimeire Januário Ferreira tem 63 anos de idade, destes, 38 anos dedicados ao casamento com seu José Reginaldo Campos. Os dois eram proprietários da padaria Dona Adélia, no Mondubim, em Fortaleza, e tiveram a união interrompida há oito dias, em 3 de janeiro, quando ele foi vítima de um latrocínio (roubo seguido de morte), dentro do estabelecimento.

Era a segunda vez, em 15 dias, que o mesmo assaltante roubava a padaria do casal. O comércio já tinha sido alvo de criminosos aproximadamente 12 vezes, segundo dona Lucimeire. Agora, aos 63 anos, tem que reaprender a viver sem Reginaldo, a quem ela chama, carinhosamente, de amor. "Ele me conhece como uma mulher forte, de onde ele estiver ele não quer que eu fraqueje. Eu estou aqui com a foto dele. Durmo com a foto dele pedindo a Deus que eu sonhe com ele", disse.

   

Os dois se conheceram na adolescência e passaram um tempo afastados. Seu Reginaldo foi da Aeronáutica durante oito anos. Os dois, mesmo como passar o tempo, se tratavam por "amor" e quando um chamava o outro pelo nome era ignorado. Ela diz que ele sempre dava um beijo na testa dela antes de sair de casa. O casal teve três filhos e quatro netos.

Este ano de 2022 era o ano de viver: os dois combinaram de se cuidar mais. Dona Lucimeire realizou uma cirurgia para retirada de um tumor. E ele também já havia marcado consultas. Os dois reformaram, em 2021, a casa da família, no município de Cedro, para onde queriam viajar para plantar. 

Criminoso assaltou padaria no dia 15 de dezembro e voltou em janeiro para realizar novo roubo

Três dias antes da cirurgia da dona Lucimeire, eles foram assaltados na padaria. Ela relata que os dois estavam com imagens da motocicleta que possibilitavam o reconhecimento da placa. O escrivão do 8º Distrito Policial teria pedido que ela mostrasse a uma inspetora, que segundo a proprietária, a atendeu muito mal. Disse, inclusive, que, para captar uma imagem, junto a Perícia Forense, demorava aproximadamente cinco anos. Os dois voltaram para casa e dona Lucimeire fez a cirurgia dias depois.

Um dia antes da data do roubo que vitimou seu Reginaldo ela havia se planejado para ir a padaria. A esposa cuidava da administração e ele das vendas. O comerciante era conhecido pela espontaneidade. No dia 3, Reginaldo foi a padaria sozinho e não chamou a esposa, preocupado, pois fazia 13 dias da cirurgia. Ela diz que estava à mesa quando a filha chegou aflita e deu a notícia do assalto. No hospital, disse que sentiu, no olhar da assistente social, que havia perdido seu companheiro.

O mesmo criminoso que assaltou a padaria no dia 15 de dezembro de 2021 estava solto. Identificado como Lucas Rosa Gonçalves de Sousa, de 22 anos, ele voltou ao estabelecimento para praticar outro crime e tirou a vida do comerciante. Para a esposa, se tivessem prendido Lucas no assalto anterior, ele não teria voltado para consumar o latrocínio. 

"Sinto falta dele em todo canto"

"Não tem um ambiente nessa casa que eu não sinta a falta dele. Sinto a falta dele chegando, tomando banho, na cama, em todo canto dessa casa, olhando para minhas netas. Nós éramos tão bem estruturados familiarmente", lamenta. Os dois filhos do casal são vizinhos da dona Lucimeire. A mais nova, de apenas 16 anos, mora com ela." Agora eu sou sozinha para educar nessa fase".

Dona Lucimeire diz que ainda não visitou a padaria após o último crime. "A mágoa tá muito grande. Além de ser um senhor querido, um pai muito amoroso, quase quarenta anos de casamento e ele era dedicado a família dele. Esse sujeito não tirou só o pai, o avô, o marido excelente, ele tirou nossa estrutura total, inclusive financeira. Eu não tenho condições de me sentar onde mataram meu marido. Ali era um ponto de complemento de renda, mas também onde a gente se sentia bem", ressalta.

A proprietária agradece o trabalho do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) pelo empenho e profissionalismo para realizar a prisão dos indivíduos que tiveram participação na ação do marido, mas lamenta, que, dias depois, o principal suspeito, apontado por atirar e matar o seu Reginaldo, tenha fugido da Delegacia de Capturas. Para ela, a prisão dele era o que trazia um certo "conforto", diante de tudo o que aconteceu.

No domingo, 9, aconteceu a missa de sétimo dia de falecimento. Dona Lucimeire contou dos momentos felizes com seu Reginaldo, da família construída, os filhos criados. O amor por crianças, que os motivavam a fazer uma festa todo ano, de Dia das Crianças, com banho de piscina coletivo. Ela finaliza a entrevista ao O POVO, relatando que o marido a conhecia como uma pessoa forte. "De onde ele estiver ele não quer que eu fraqueje", explica. 

Sobre o caso 

A padaria Dona Adélia foi invadida por um criminoso em uma motocicleta no dia 3 de janeiro, que anunciou o assalto e atirou contra o proprietário, de 62 anos, que foi atingido na cabeça. Ele foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. O Departamento de Homicídios e Proteção  à Pessoa (DHPP) prendeu os suspeitos do crime. No dia 7 de janeiro, presos fugiram durante transferência da Delegacia de Capturas e, entre os fugitivos, estava Lucas Rosa Gonçalves de Sousa, de 22 anos, que é apontado como o responsável por matar Reginaldo.