Bairros com renda alta têm maior carga de coronavírus nos esgotos de Fortaleza, aponta estudo
Áreas com fluxo contínuo de turistas e que concentram população com renda alta registraram maiores níveis de covid-19 nas estações de esgoto em dezembroEm estudo elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em parceria com um grupo de pesquisadores de seis universidades federais, aponta que Fortaleza encerrou o mês de dezembro com alta de 125% na carga viral de Covid-19 concentrada na rede de esgoto. Conforme o levantamento, os índices são maiores nos bairros com alta concentração de renda e onde há fluxo mais elevado de turistas, como Meireles, Praia do Futuro I e II, Cocó e a região próxima ao Terminal Marítimo.
De acordo com a pesquisa, no último mês de 2021 a Capital cearense atingiu concentração diária de 47,2 bilhões de cópias do Sars-Cov-2 (vírus causador da Covid-19), por 10 mil habitantes, nas oito estações de tratamento de esgoto monitoradas. O número é mais que o dobro das 21 bilhões de cópias que haviam sido registradas em novembro e também supera as medições dos outros 11 meses do ano. Até então, o maior índice havia sido registrado em junho, quando foram verificadas 34 bilhões de cópias. Os números foram compilados pela Rede Monitoramento Covid Esgotos (RMCE).
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Entre as estações analisadas, apenas na do bairro José Walter não houve detecção de carga viral do novo coronavírus. As demais foram classificadas de acordo com os níveis de concentração de cópias do Sars-Cov-2 por litro:
Nível amarelo - concentração baixa (menos de 4 mil cópias por litro)
>> Estação Elevatória Praia do Futuro II
>> Estação Elevatória Antônio Bezerra
Nível laranja - concentração intermediária (de 4 a 25 mil cópias por litro)
>> Estação Elevatória SD2 - Barra do Ceará
>> Estação de Tratamento e Esgotos Conjunto Ceará
>> Poço de visita - Interceptor Leste
>> Estação de Pré-Condicionamento
Nível vermelho - alta concentração ( acima de 25 mil cópias por litro)
>> Estação Elevatória Reversora do Cocó
Causas e consequências
Na avaliação do Centro de Inteligência em Saúde do Ceará (Cisec), órgão vinculado à Secretaria da Saúde do Estado, o aumento expressivo da concentração do novo coronavírus na rede de esgoto da Capital está associado à retomada das atividades turísticas, impulsionadas pelas festas de fim de ano. “Um evento muito provavelmente ligado ao expressivo número de eventos como congressos, além do fluxo de turistas para as festas de fim de ano e outras atividades festivas associadas a extratos sociais de alta renda”, ponderou o Cisec em informe epidemiológico divulgado na última quinta-feira, 30.
O Centro ainda observou que, embora a presença do Sars-Cov-2 nas estações de esgoto ainda não tenha resultado em crescimento expressivo no número de casos de Covid-19 em Fortaleza, o diagnóstico mensurado em dezembro indica que há uma “ameaça reiterada” para um possível agravamento da pandemia na Capital. “No momento a maior parte da procura está relacionada à Influenza H3N2, a exemplo do que ocorre em outros estados do Brasil, mas já há inúmeros relatos não oficiais que apontam para uma exacerbação no número de casos de Covid-19 nos extratos sociais de alta renda de Fortaleza”, pontua.
Para o Cisec, levando em conta o cenário epidemiológico atual, não só a Capital mas todo o Ceará têm grandes chances de passar por uma terceira onda da crise sanitária em meados de fevereiro, antes do carnaval. A introdução da variante Ômicron e as aglomerações e reuniões sociais registradas durante as festas de fim de ano são apontados como os principais fatores que podem ocasionar piora do quadro.
A Covid nos esgotos
A Rede Monitoramento Covid Esgotos (RMCE) acompanha as cargas virais e concentrações do novo coronavírus nas estações de tratamento de seis capitais brasileiras: Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro. O trabalho, considerado pioneiro no monitoramento da Covid-19 com foco no saneamento básico, busca ampliar as informações para o enfrentamento da pandemia.
A intenção dos pesquisadores é que os resultados mensurados nos levantamentos possam auxiliar as autoridades locais de saúde na tomada de decisões relacionadas à manutenção ou flexibilização das medidas de controle para a disseminação da Covid-19. Os dados também podem fornecer alertas precoces dos riscos de aumento de incidência do vírus de forma regionalizada.
Com os estudos, a Rede pretende identificar tendências e alterações na ocorrência do vírus no esgoto das diferentes regiões monitoradas, o que pode ajudar a entender a dinâmica de circulação do patógeno. Outra linha de atuação é o mapeamento do esgoto para identificar áreas com maior incidência da doença e usar os dados obtidos como uma ferramenta de alerta precoce para novos surtos.
A Rede é coordenada pela ANA e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em ETEs Sustentáveis. A iniciativa conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem a colaboração de pesquisadores das seguintes instituições de ensino: Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto também recebe apoio de companhias de saneamento locais e das secretarias estaduais e municipais de Saúde.
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