Fogos de artifício com barulho são prejudiciais aos animais e a pessoas com autismo, dizem especialistas

Proibidos na Capital cearense, os fogos de artifício barulhentos podem ser substituídos pelos sem ruído para minimizar o sofrimento de pessoas com autismo e de animais

10:45 | Dez. 31, 2021

Por: Euziane Bastos
Seis empresas de petiscos já tiveram o recolhimento de produtos solicitados (foto: Reprodução)

Em 2021, a Prefeitura de Fortaleza sancionou uma lei que proíbe a queima de fogos de artifício barulhentos em eventos públicos e privados na Capital. No texto da legislação, de autoria da vereadora Larissa Gaspar (PT), a proteção aos animais, pessoas com autismo, grávidas e outros grupos que sofrem com o barulho causado pelo instrumento teve destaque como motivação para a criação da lei.

A norma, entretanto, passará por um período de teste, que vai até o dia 31 de janeiro de 2022. Até lá, apenas medidas educativas poderão ser aplicadas a quem soltar os fogos barulhentos. Tendo isso em vista, Larissa Gaspar entregou uma ação popular com pedido de tutela de urgência para que a Prefeitura de Fortaleza possa autuar quem descumprir a lei, ainda sem resposta.

Pessoas com autismo tendem a lidar mal com eventos imprevisíveis

A psiquiatra Fátima Dourado explica que, no caso de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), os fogos barulhentos são prejudiciais porque elas costumam ter problemas de processamento sensorial e tendem a lidar mal com eventos imprevisíveis, como os sons de uma queima de fogos. “A experiência deles varia do desconforto à dor intensa, que pode inclusive durar vários dias, porque parte do problema sensorial é ele se fazer presente de modo mais indelével na lembrança”, diz Fátima, que também é presidente da Clínica Casa da Esperança, organização de referência no acompanhamento a pessoas com TEA.

“Uma paciente adulta me relatou que a cada vez que lembra [do barulho dos fogos], experimenta novamente a dor”, relata.

Reações

Pessoas com autismo precisam de previsibilidade e de diferentes níveis de suporte para que possam viver e conviver bem. Muitos precisam de um tipo de terapia de integração sensorial, realizada por terapeutas ocupacionais para conectar a recepção, processamento e respostas sensoriais aos estímulos recebidos do meio ambiente. “Em pessoas autistas podem estar alteradas as percepções não apenas auditivas mas também gustativas, táteis, olfativas, proprioceptivas com diversas manifestações”, diz Fátima.

Como os pais e familiares devem agir?

A médica aconselha que os pais e familiares ajudem:
- Explicando antecipadamente o que vai acontecer;
- Expondo de forma segura e gradual o assunto à pessoa com TEA;
- Mostrando, por exemplo, vídeos de fogos sem som, e muito devagar, introduzindo o som;
- Providenciando ferramentas que auxiliem na hora da queima, como abafadores de som.


Para animais, os fogos representam três tipos de impactos negativos

Hugo Fernandes, biólogo e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), cita que existem três tipos de impacto dos fogos barulhentos aos animais.

1. Impacto direto: é quando um barulho muito forte causa danos prejudiciais a cada espécie. “Um barulho muito forte causa uma miopatia de estresse em algumas espécies de aves e podem levá-las a óbito imediatamente”, explica o professor. O mesmo pode acontecer com mamíferos e outros grupos animais.

2. Impacto indireto: danos que não levam a óbito, mas que podem causar prejuízos no sistema auditivo e no comportamento. “Essas espécies acabam mudando de forma irreversível e isso causa problemas ambientais em cadeia”, diz Hugo.

3. Impacto em larga escala: quando se tem impactos diretos e indiretos somados às centenas de outros impactos que o meio oferece à fauna. “Quando você tem esse problema aliado aos demais, você tem um cenário muito complicado de se reverter”, conclui.

Portanto, segundo o biólogo, é muito importante que a população considere a não soltura dos fogos barulhentos.

Como os tutores devem agir?

- Prepare o seu animalzinho antes
- Se não for possível fazer esse acompanhamento prévio, evite deixar o animal sozinho
- Ofereça um reforço positivo, como um carinho ou um petisco para que ele se sinta seguro e associe aquele barulho a algo que não seja estressante
- Não solte fogos de artifício barulhentos