Bitucas de cigarros são maioria entre resíduos sólidos encontrados na Praia dos Crush
Professor do Instituto de Ciências do Mar, Michael Viana, explica que mesmo que pequenas, o descarte incorreto das bitucas de cigarros merecem um olhar atento, principalmente nas praias
19:03 | Dez. 29, 2021
Em um ponto turístico do litoral de Fortaleza, na Praia dos Crush, um grupo de pesquisadores do projeto de extensão Oceano Sem Bituca, da Universidade Federal do Ceará, identificou que 38% dos resíduos sólidos descartados incorretamente no local são bitucas de cigarro.
Uma parte da população pode ter consciência que o meio ambiente enfrenta problemas por causa da poluição. Você pode sair na rua, caminhar por uma praça ou ir à praia, olhar ao redor e se deparar com grandes quantidades de descarte incorreto de materiais sólidos. Não importa o tamanho do material, seja na terra ou no mar, o descarte incorreto do lixo tem consequências.
Mesmo que pequenas, as bitucas de cigarros merecem um olhar atento, principalmente nas praias. "Quando esse resíduo alcança o ambiente marinho, ele pode ser confundido como alimento e ingerido por animais marinhos. Essa ingestão pode causar obstrução do sistema digestivo do animal", conta o coordenador do projeto, Michael Viana, professor do Instituto de Ciências do Mar da UFC (Labomar).
"Sem contar que quando os animais marinhos entram em contato com as bitucas, eles ingerem os compostos tóxicos, que podem levá-los à morte. Há casos também em que esses animais marinhos podem passar para outras esferas, nas quais os seres humanos consomem os animais com substâncias tóxicas", relata.
Segundo Michael, há aproximadamente 4,5 trilhões de bitucas jogadas no meio ambiente, por ano. Um dos principais problemas desse descarte é que no resíduo há mais de 7 mil substâncias tóxicas, sendo muitas carcinogênicas e mutagênicas.
Também integrante do projeto, o cientista ambiental, Guilherme Melo, explica que o filtro do cigarro é feito para amenizar os efeitos do fumo no organismo humano.
"Eles retém algumas substâncias do cigarro, e as [substâncias] criadas na combustão, que acabariam passando para o organismo humano. Portanto, no filtro ocorre um concentrado de substâncias tóxicas. Dentre essas substâncias, podem ser encontradas até mesmo pesticidas provenientes da plantação do tabaco até metais pesados como o cádmio".
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O problema não é só na Praia dos Crush. De acordo com o relatório da organização sem fins lucrativos, Ocean Conservancy, aproximadamente 52 milhões de cigarros foram removidos de ambientes costeiros ao longo de 27 anos.
Em uma campanha de 2015, voluntários da Ocean Conservancy trabalharam em praias em mais de 100 países, recolhendo um total de 13.806.887 itens de lixo, dos quais 2.127.565 eram bitucas de cigarro.
Conforme os dados parciais obtidos pelos pesquisadores do projeto, em um levantamento realizado desde agosto de 2021, as bitucas foram os resíduos mais encontrados na praia escolhida como objeto de intervenção:
- Bitucas de cigarro – 38%
- Restos de comida – 12%
- Tampinhas de metal – 6%
- Embalagens de alimentos – 5%
- Fragmentos de Copos, talheres e pratos plásticos – 3%
O coordenador explica que a decisão de atuar naquele espaço foi baseada em estudos preliminares, que haviam indicado a presença um grande número de fumantes e bitucas na areia da praia: "A limitação aquele local é com o intuito de ter o projeto como piloto, e expandir para outras áreas. A ideia é fomentar políticas públicas, chamando atenção das autoridades e sociedade civil para este problema", comenta.
Limpeza
Uma das queixas apontadas pelos pesquisadores foi que as limpezas nas praia realizadas com os equipamentos de varredeiras não são eficientes na retirada de bitucas.
"As bitucas são resíduos pequenos comparados aos outros também encontrados nas praias. A bituca não é removida pelo sistema de limpeza pública. A varredeira, trator que faz a limpeza da praia dos Crush, não consegue pegar o resíduo".
Oceano Sem Bituca
A proposta do projeto Oceano sem Bituca é concluir o levantamento dos dados sobre os materiais recolhidos na área, e partir dos meses de janeiro e fevereiro de 2022, será iniciada as ações de educação em relação aos frequentadores.
"O intuito das pesquisas e ações realizadas pelo projeto é também apurar os dados de antes e depois das intervenções feitas pelo projeto de extensão" comenta Michael. Por enquanto, o Oceano Sem Bituca atua na divulgação científica de ações de conscientização através do perfil do projeto no Instagram (@oceanosembituca).
Além do coordenador, participam do projeto outros cinco integrantes estudantes do Labomar: Guilherme de Melo, Maria Tayane, Pedro Paulo, Sara Oliveira, Iorrana Joyce. "A importância das ações da extensão é pegar esse conhecimento científico e levar para a população", comenta o cientista ambiental.
"Oceano Sem Bituca tem a importância de pegar o nosso aprendizado na Universidade e provocar um mudança na sociedade. No nosso caso, a gente pretende fazer isso através da conscientização ambiental. Muitas pessoas ainda não sabem que as bitucas são resíduos poluentes", finaliza.
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