Polícia confirma que chacina na Sapiranga foi praticada por dissidentes de facção

Testemunha disse que disputa da área entre "CV" e "Neutros" estava se "acirrando" há alguns dias. Dez suspeitos foram capturados e, pelo menos, mais 12 identificados

23:06 | Dez. 27, 2021

Por: Lucas Barbosa
Vídeo gravado na festa onde chacina ocorreu, minutos antes do crime, mostra homem circulando com uma arma longa (foto: Reprodução/Vídeo enviado por leitor via Whatsapp)

As investigações da Polícia Civil confirmaram a versão de que a chacina ocorrida na Sapiranga, na madrugada do último sábado, 25, foi motivada pelo racha dentro da facção Comando Vermelho (CV). Como O POVO havia mostrado na edição de domingo, 26, dissidentes do CV da Sapiranga “rasgaram a camisa” da facção e passaram a se intitular “Neutros” ou “Massa”. A chacina, ocorrida durante uma festa em um campo de futebol da comunidade do Alecrim, deixou seis mortos. 

Nas oitivas já realizadas no inquérito que investiga o caso, testemunhas contaram que o crime foi praticado pelos “neutros” da chamada “Tropa da Fronteira”, organização criminosa da comunidade localizado ao lado do Alecrim. Eles pertenciam ao CV, mas aderiram à “Massa”. O alvo deles eram integrantes da "Tropa do Alecrim", que permaneceram ligados ao CV.

O mais completo depoimento é de uma testemunha que diz que os criminosos teriam chegado ao local do crime mandando que todos deitassem no chão e dizendo que iriam matar todos aqueles não deixassem o CV. A mesma testemunha disse ter visto várias pessoas sendo seguradas pelos assassinos. Além disso, a fonte afirmou que os integrantes da Tropa da Fronteira passaram a rondar os becos da comunidade atirando e falando que quem não aderisse à Massa deveria deixar o bairro, caso contrário seria morto.

Por fim, ele disse que a disputa da área estava se “acirrando” há alguns dias. Já na sexta-feira, 24, a testemunha disse “estranhar” uma movimentação na região de faccionados armados em carros, o que já "prenunciava alguma investida criminosa mais incisiva". Conforme a fonte, Rael era o principal alvo da chacina, já que chefiava a “Tropa do Alecrim” e não queria deixar o CV. Assim, um outro frente da “Tropa do Alecrim” teria se unido ao chefe da Tropa da Fronteira e articulado o crime.

Rael é Israel da Silva Andrade, de 24 anos. Além dele, foram mortos: André Alexandre Rodrigues, Mateus Ribeiro dos Santos, Ederlan Fausto, John Lennon Holanda e uma mulher ainda não identificada.

Já os presos são: Antônio Gabriel Sousa da Silva, Alessandro Vieira da Silva, Gabriel Sousa Freitas, Charles Dantas Oliveira, Mateus Acelino da Silva, Thiago Farias de Lima e Mateus Aguiar de Sousa. Todos foram submetidos a audiência de custódia e tiveram a prisão mantida. Outros três adolescentes foram apreendidos.

Conforme depoimento de inspetores, a Polícia chegou até os suspeitos após identificar que um deles, Alessandro, usava tornozeleira eletrônica, cujo monitoramento foi desligado instantes após o crime. Os policiais foram até o último local onde a presença de Alessandro foi identificada, um terreno onde criminosos costumam guardar armas. Ao chegar no local, os policiais se depararam com homens correndo para várias casas. Na fuga, eles teriam se livrado de armas e celulares. Oito pessoas foram encontradas em duas casas.

Os outros presos, Thiago e Mateus, foram localizados momentos depois. No momento da prisão, Mateus foi baleado. Ele teria tentado tomar a arma de um policial e foi atingido na perna.

Testemunhas reconheceram os suspeitos. Antônio Gabriel chegou a ser flagrado em um vídeo — feito em plena festa, momento antes da chacina — portando uma pistola acoplada a um adaptador que dava à arma aparência de rifle. A Polícia Civil também menciona que, nas redes sociais, passaram a circular postagens atribuídas a integrantes do CV com as fotos dos suspeitos, jurando-os de morte.

Nenhum dos suspeitos confessou participação no crime. Alguns chegaram a afirmar que também foram vítimas dos criminosos. É o caso de Antônio Gabriel, que disse ter chegado a atirar contra os assassinos. Já Gabriel disse que estava em uma praça a poucos metros dali no momento do crime, assim como Mateus. Charles disse que estava e correu no momento do crime.

Além dos presos, pelo menos, mais 12 suspeitos de participação na chacina foram identificados pela Polícia.