População denuncia falta de remédio para tratamento de esquizofrenia em hospital de Fortaleza

Familiares de pacientes relatam que há desabastecimento para quem busca remédio na unidade desde o início do mês. A Secretaria da Saúde explicou que, de acordo com informações repassadas pelo Ministério, a previsão é de regularização do fornecimento em janeiro

16:15 | Dez. 16, 2021

Por: Mirla Nobre
Uma caixa com 30 comprimidos de quetiapina (25 mg, 100 mg e 200 mg) custa até R$ 226 (foto: Reprodução / WhatsApp O POVO)

Antipsicótico Quetiapina, para o tratamento de esquizofrenia, está em falta para quem busca caixas no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Messejana, denunciam familiares dos pacientes. O remédio não estaria disponível para retirada desde o dia 1º de dezembro, conforme populares. Para quem o procura na unidade, seria informado que não há previsão de reabastecimento da medicação porque o Ministério da Saúde não teria enviado uma nova remessa. A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que os pacientes internados no HSM estão recebendo a medicação normalmente. 

Uma caixa com 30 comprimidos de Quetiapina (25 mg, 100 mg e 200 mg) custa entre R$ 30 e R$ 287. Pacientes da doença possuem dosagem média de seis comprimidos por dia, de acordo com cada grau da doença.

De acordo com o pedagogo Pedro Mourão, que cuida da irmã, 66, e da sobrinha, 46, ambas em tratamento contra esquizofrenia há mais de cinco anos, desde o começo do mês ele é informado no HSM da falta do medicamento. Ele relata que não é a primeira vez que falta o remédio, mas ressalta que a situação logo era normalizada. No entanto, desta vez, ele diz que o problema parece ser bem maior, pois não há previsão de reabastecimento: “Todo dia é a mesma resposta, sem previsão”.

Devido à falta do medicamento no tratamento cotidiano, Pedro relata que a irmã e a sobrinha estão apresentando alterações emocionais intensas. “Elas ficam totalmente inquietas e não dormem. Esse medicamento é o único que está sendo eficaz para que elas se acalmem. A minha sobrinha chora, se esperneia, minha irmã não para quieta. Com o uso do remédio, a gente consegue trocar fraldas e fazer outras atividades”, explica.

O mesmo caso ocorre para uma paciente (nome preservado) de 52 anos, que realiza o tratamento da doença há 17 anos. O tratamento dela ocorre com a dosagem de três comprimidos de Quetiapina, de 200 mg, por dia. Nessa terça-feira, 14, a responsável pela paciente, que prefere ficar no anonimato, foi ao Hospital de Saúde Mental de Messejana, onde também foi informada de que não havia medicamento e nem previsão de chegada. A resposta, segundo ela, foi a mesma: "o Ministério da Saúde não enviou o remédio".


Conforme o médico psiquiatra Vicente Linhares, os efeitos quando o paciente fica sem o uso de medicamento depende de cada caso. O principal risco é o paciente ter o retorno dos sintomas psicóticos. “O paciente com esquizofrenia tem a necessidade do uso contínuo dos medicamentos. A partir do momento que ele tem interrupções, ele aumenta muito o risco de ter uma nova crise psicótica. E a cada crise, acaba tendo prejuízo maior, do afeto, da cognição, da memória, raciocínio, entre outros. Corre risco também dele não responder mais àquela medicação naquela dose, e o quadro pode se agravar”, alerta.

Procurada pelo O POVO nessa quarta-feira, 15, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou, em nota, que o Hospital de Saúde Mental de Messejana está com abastecimento parcial do medicamento Quetiapina (25 mg, 100 mg, 200 mg). A pasta explicou que, de acordo com informações repassadas pelo Ministério da Saúde, o medicamento “encontra-se em finalização do processo de compra, com previsão de regularização do fornecimento para janeiro”. A pasta da saúde destacou que os pacientes internados no HSM seguem recebendo a medicação normalmente.

O Ministério da Saúde foi procurado pelo O POVO, por e-mail, nessa quarta-feira, 15, e nesta quinta-feira, 16, para um posicionamento sobre a falta do medicamento no Ceará. Assim como para informar uma previsão de quando haverá a regularização do medicamento no Estado. A pasta federal não retornou com um posicionamento até o fechamento desta matéria.

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