Casal denuncia homofobia em bar no Centro de Fortaleza

Eles se organizam para formalizar uma denúncia contra o dono do estabelecimento, que teria os atacado verbalmente, conforme relatou um dos homens

Um casal afirma que sofreu homofobia após se beijar em um bar localizado na Praça Visconde de Pelotas, onde fica o Mercado dos Pinhões, no Centro de Fortaleza, na noite do último sábado, 11. O dono do estabelecimento teria dito aos dois homens que aquele era um lugar de “família” e “de respeito” quando eles estavam se beijando em uma das mesas, afirmando que a “atitude” não seria aceita no local.

Em entrevista ao O POVO, um dos homens envolvidos na situação, que terá sua identidade preservada, disse que começou a estranhar o comportamento das pessoas que trabalham no bar a partir de quando eles chegaram ao local. “Foi muito diferente das outras vezes que nós fomos lá, acompanhados de amigos”, disse. “Logo após darmos um beijo, o dono passou do nosso lado e começou a nos agredir verbalmente”.

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Ele conta que a sensação do momento foi de paralisia. “Eu fiquei olhando só para o rosto do meu namorado, não conseguia olhar nem pro rosto dele (do dono do local). Foi um preconceito e uma discriminação descarada”, relatou. O casal está se organizando para formalizar a denúncia, com auxílio de uma advogada.

Esta não foi a primeira vez em que o casal precisou lidar com situações de homofobia. Em outro episódio, eles sofreram até ameaças de morte, quando estavam namorando na Praça das Flores, no bairro Aldeota. “Um homem apareceu gritando com a gente, dizendo que nos mataria com uma arma. Quando fomos procurar policiais no local para relatar o caso, ele saiu correndo de bicicleta para longe dali”, lembra.

O POVO entrou em contato com o dono do Bar do Cazuza, onde o casal teria sofrido homofobia. José Braga de Lima, conhecido como Cazuza, negou ter agido por preconceito contra o casal. De acordo com ele, os homens estavam masturbando um ao outro, o que motivou outros frequentadores do bar a reclamarem com José.

“Vários clientes me chamaram atenção no que eles tavam fazendo. Se beijando, até aí tudo bem, e pegando nas calças um do outro e se masturbando um com o outro. Aí eu fui lá para avisar, disse ‘rapaz, faça isso não, é cheio de criança, senhora’”, afirma. O casal rebate a versão e um dos homens disse que chegou apenas a colocar a mão na coxa do namorado.

O dono do bar afirmou não ter preconceito com o público LGBTQIA+. “Até porque as pessoas que trabalham comigo, todas três são mulheres que gostam de mulher. Eu tenho um filho que é. Tenho preconceito com nada não”, disse.

José também disse que não falou de forma desrespeitosa com o casal. “Nem me alterei com ele, nem fui mal educado. Eu sou cheio de clientes assim, nunca tive problema com nenhum. Eu errei, era para eu ter chamado a polícia logo”, concluiu.

 

Homofobia é crime e pode levar a pena entre um e cinco anos

Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2019, a homofobia e a transfobia passaram a ser consideradas crime de racismo, que pode levar a pena de um a cinco anos, além de adicional de multa. A decisão do Judiciário vigora com regras temporárias, enquanto o Congresso Nacional não cria leis específicas para o crime.

O Ceará passou a contar com lei, em maio deste ano, que obriga determina a fixação de avisos contra a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero em estabelecimentos públicos e privados. De autoria do deputado Elmano Freitas (PT), a medida diz que deve constar na placa o telefone da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para LGBT para fins de denúncias, esclarecimentos e reclamações.

Colaborou a repórter Alexia Vieira

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