Julgamento: promotor de Justiça afirma que Stefhani passou por um "calvário"

"Ele não se satisfez em só quebrar as costelas, ele não se satisfez em quebrar só a perna. Ele queria quebrar a cabeça a pauladas, que lhe provocou um traumatismo encefálico rompendo até a cervical", ressaltou

19:25 | Dez. 07, 2021

Por: Jéssika Sisnando
JULGAMENTO ocorreu em 2021 (foto: FERNANDA BARROS)

O promotor de Justiça Marcus Renan afirmou, nesta terça-feira, 7, durante o julgamento de Francisco Alberto Nobre Calixto Filho, que a Stefhani Brito Cruz, vítima de feminicídio, passou por um calvário (fazendo alusão ao sofrimento de Jesus Cristo ao ser crucificado). Stefhani foi morta no dia 1º de janeiro de 2018.

Marcus Renan citou a professora Luisa Nagib, em um texto que diz que a paixão que move a conduta criminosa não resulta do amor, mas, sim, do ódio, da possessividade, do ciúme, da busca de vingança, do sentimento de frustração e da prepotência. Ele citou que o texto conclui a tese de que o homicida passional é movido pelo amor a si mesmo, o narcisismo. "Um monstruoso amor a si mesmo. Ele ama ele", disse Marcus Renan.

O promotor leu o laudo que descreve todas as agressões sofridas por Stefhani, que mostram a brutalidade e a violência empregada contra a vítima. "Ele não se satisfez em só quebrar as costelas, ele não se satisfez em quebrar só a perna. Ele queria quebrar a cabeça a pauladas, que lhe provocou um traumatismo encefálico rompendo até a cervical", ressaltou.

Além disso, o promotor distribuiu uma folha ao júri, com números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que mostram que o Brasil contabiliza um feminicídio a cada seis horas e pediu que Stefhani não se torna-se mais um número. Ele ressaltou que 81% dos crimes é praticado por companheiros ou ex-companheiros.

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Marcus Renan fez um comparativo apresentando Stefhani como uma menina jovem, sofrida e sozinha, com 1,60 de altura e entre 50 a 60 quilos, diante de Alberto, "um touro" de 1,80 e quase 90 quilos. "só consigo chamá-lo de covarde', ressaltou.

O promotor citou depoimentos de vizinhos que relatavam ouvir a cabeça de Stefhani sendo jogada contra a parede constantemente. De pessoas que viam a moça cheia de marcas e hematomas. Uma das vizinhas relatou que a vítima passou 15 dias desaparecida e, posteriormente, descobriram que ela estava presa em casa, amarrada e torturada.

Outro depoimento de uma vizinha citado por Marcus Renan afirma que Stefhani era machucada, amarrada com fios e queimada com cigarros e colher quente. E relata que a jovem, sempre orientada a colocar um fim no relacionamento, afirmava que Alberto ameaçava matar sua família.

"Uma menina de ouro, muito meiga e simpática. Sei o quanto Stefhani sofreu na mão de Alberto. Ouvia daqui de cada ele batendo nela. Ela apanhava e ficava calada. Eu ia comprar pão e via ela toda machucada. Eu já chorei ouvindo ela apanhar daqui. Batia a cabeça dela na parede e daqui eu ouvia", diz o depoimento.

Marcus Renan citou a mãe de Stefhani, dona Rosilene Brito, afirmando que em todas as datas comemorativas de Natal e aniversários, ela lembrava com saudade da filha. E destacou que Stefhani não traiu o Alberto e reiterou que, se isso fosse verdade, também não seria motivo para ele cometer aquele crime.