Entidades realizam visita técnica ao Cocó e cobram estudos sobre incêndio

Hipóteses de que a área tenha sido aridificada após intervenção deve ser estudada, conforme documento que deve ser entregue ao Governo do Estado

23:05 | Nov. 26, 2021

Por: Lucas Barbosa
ENTIDADES e parlamentares fizeram visita à área do Cocó atingida pelo incêndio (foto: Alana Soares/Divulgação/Mandato Renato Roseno)

O cheiro de queimado ainda era forte no Cocó quando entidades e parlamentares realizaram uma visita técnica, na tarde desta sexta-feira, 26, ao parque, uma semana após o o maior incêndio já ocorrido na área de conservação nos últimos anos . No momento, foi destacado que, para além das investigações sobre como o fogo teve início, o Governo do Estado deve realizar trabalhos técnicos e científicos para identificar por que o incêndio teve tamanha proporção. Um documento deve ser firmado pelas entidades que participaram da visita cobrando da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) a realização de pesquisas sobre a possibilidade de vulnerabilização da área.

A visita foi guiada por integrantes do Programa Estadual de Prevenção, Monitoramento, Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios Florestais (Previna), que explicaram como foi realizado o trabalho de combate ao fogo e quais são as características do local. Foi salientado que a ação humana causou o incêndio, já que a área não pega fogo sozinha. Ao todo, 46 hectares foram devastados pelo fogo. No local, ainda era possível ver sinais de fumaça, mas os brigadistas explicaram que a área já foi controlada e que não há como o fogo se espalhar. Todos os dias o Previna faz rondas na região.

Presidente da comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Secção Ceará, que organizou a visita, João Alfredo afirma que o objetivo da iniciativa é entender as “razões mais profundas” do incêndio. Ele afirma que a investigação sobre quem iniciou o fogo é importante, mas é preciso entender “por que o incêndio foi tão grande” e “por que aquela área foi tão vulnerável”, assim como “pensar a longo prazo” ações que possam evitar que incêndios dessas proporções voltem a acontecer.

O ambientalista Leonardo Jales, do movimento Pró-Árvore, diz haver a suspeita de que houve uma aridificação da área a partir da dragagem do rio Cocó feita no ano passado. Depósitos de sedimentos teriam impedido que a água escoasse para a área onde ocorreu o incêndio. “O que a gente queria provocar é que o Governo do Estado investigue, com órgãos competentes, como o Labomar (Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará), o que, de fato, aconteceu e levou essa área de brejo a ser aridificada”, afirma ele. “Se essa área continuar secando dessa forma, esse brejo vai recuar cada vez mais”.

Por meio de assessoria de imprensa, a Sema informou aguardar a realização de laudo por parte da Perícia Forense do Estado (Pefoce) para identificar as causas do fogo.

O promotor Ronald Fontenele afirma que o Ministério Público Estadual (MPCE) abriu um procedimento para acompanhar e requisitar informações dos órgãos responsáveis sobre as causas e concausas do incêndio, assim como o dimensionamento do dano e possíveis soluções para a restauração da área.

O deputado estadual Renato Roseno (Psol), que também esteve no local nesta sexta, defendeu ser preciso o fortalecimento do trabalho das brigadas de prevenção a incêndio. Na ocasião, foi informado que a Previna tem apenas 18 brigadistas para atuar em 31 unidades de conservação em todo o Estado. Roseno disse que buscaria fortalecer a iniciativa na votação do orçamento público que ocorre ainda este ano.

O vereador Gabriel Aguiar (Psol) afirmou, por sua vez, ser preciso criar uma brigada municipal de combate a incêndios. Ele também ressaltou a importância da educação ambiental para que ações como queima de lixo ou “limpeza” do solo pelo fogo não ocorram.