MPCE denuncia trio por matar homem por se recusar a pagar taxa a facção

Valdicélio de Oliveira Holanda foi morto a tiros em 20 de agosto. Os acusados são procurados pela Polícia

23:26 | Nov. 19, 2021

Por: Lucas Barbosa
Câmeras de vigilância flagraram parte do assassinato de Valdicélio de Oliveira Holanda (foto: Reprodução)

O Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou três homens pelo assassinato de Valdicélio de Oliveira Holanda, de 35 anos, crime ocorrido em 20 de agosto último, por volta das 18h20min, no bairro Curió. Antônio Lucas Bezerra Marques da Cruz, conhecido como “Sobrancelha” ou “Luquinha”; Bruno de Lima Ribeiro e Francisco Rafael Cavalcante da Silva, o “Rafinha”, teriam matado a vítima por esta se recusar a pagar uma taxa exigida pela facção criminosa a qual faziam parte. Os três não foram localizados pela Polícia e são procurados.

A denúncia foi ofertada no último sábado, 13, e aguarda recebimento pela Justiça. Na peça assinada pelo promotor Ythalo Frota Loureiro é afirmado que Bruno e Antônio Lucas executaram Valdicélio em sua própria residência. Parte da execução foi filmada por uma câmera de vigilância. A moto usada no crime, apreendida pela Polícia, estava no nome de um parente de Antônio Lucas. Ele disse, porém, que apenas o suspeito usava o veículo.

Francisco Rafael, por sua vez, foi denunciado como mandante do crime. Ainda segundo as investigações, ele chefia a facção Comando Vermelho (CV) na região e exigia dinheiro de comerciantes. Rafinha tentava extorquir Valdicélio, "que sempre se esquivava", diz a denúncia. Em uma dessas investidas, Valdicélio bloqueou Rafinha no aplicativo Whatsapp, fato ocorrido no mesmo dia do homicídio. Valdicélio era conhecido por realizar atividades de caridade, o que teria chamado a atenção da organização criminosa.

Além da denúncia, o MPCE pediu a prisão preventiva do trio. É mencionado no pedido o fato dos três terem passagem pela Polícia. Antônio Lucas foi pronunciado por um homicídio ocorrido em 2015, no bairro Lagoa Redonda. Conforme a acusação, ele teria matado Francisco Cláudio Miranda de Sousa por causa de uma dívida de drogas. Em interrogatório, ele negou o crime. Citado da decisão de pronúncia, Antônio Lucas não foi localizado.

Bruno é autor de atos infracionais quando adolescentes relacionados a roubo a pessoa, ameaça, e roubo de veículo. Já Francisco Rafael foi condenado em 2018 por tráfico de drogas. Com ele, foram encontrados 100 gramas de cocaína. Na ocasião, a defesa dele alegou que a droga era para consumo próprio.

"Desde modo, os acusados reiteram práticas criminosas graves, participando de crime violento letal intencional que causou pavor no bairro, se fazendo necessário o imediato decreto de prisão para interromper a escalada de violência", afirma o promotor Ythalo Frota Loureiro.

Saiba mais

Relatos de cobranças de taxas por faccionados, sobretudo, a comerciantes se intensificaram no segundo semestre deste ano. Casos assim foram registrados em bairros como Pirambu, Mucuripe, Vila Velha, Messejana, Mondubim, assim como em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza).

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) chegou a anunciar uma força-tarefa para investigar esses crimes. A Polícia Civil, porém, identificou que "boa parte" das denúncias eram, na verdade, casos de estelionato, pessoas que se passavam por faccionados. Em setembro, um detento de uma penitenciária do Rio de Janeiro foi identificado como autor de, pelo menos, 30 desses golpes.

Já em 29 de outubro, no bairro Planalto Ayrton Senna, o barbeiro Ednaldo Mota da Silva, de 46 anos, foi morto a tiros e moradores relataram que o crime ocorreu após ele não ter pago uma taxa a criminosos. As investigações seguem em andamento.