Bombeiros temeram que fogo no Cocó se aproximasse de cinco quarteirões de casas
Bombeiro descreve suas 21 horas no combate ao incêndio, o pior que já viu no local. Helicópteros despejaram quase 65 mil litros de água durante o dia para debelar as chamas. Favela do Papoco, ao lado da avenida Raul Barbosa, na Aerolândia, esteve numa faixa de grande riscoEram 17h30min desta quinta-feira quando O POVO conversou com o tenente bombeiro Valdomiro Loreto, do 1º Batalhão da corporação. Ali ele já completava suas 21 horas ininterruptas de expediente. Havia descansado quase nada, tentando conter o alastramento do incêndio no Parque Estadual do Cocó, iniciado na noite de quarta-feira, 17. "Estou desde as oito da noite de ontem. Só vou sair porque não tenho com quem deixar minhas filhas, por um contratempo, senão continuava por aqui", descreveu, da avenida Murilo Borges, numa das bases montadas para a operação.
Num dos momentos mais tensos do trabalho das guarnições, entre as 22 horas e a meia-noite, Loreto conta que a extensão do fogo chegou a formar uma linha contínua de quase 900 metros. "Chegamos a ter 872 metros dessa linha de fogo na mata ao lado da avenida. Algumas labaredas mais altas que eu, que tenho 1,86m, mas muitos pontos com chamas muito mais altas", detalha. A estratégia usada no local foi diminuir a energia dessas chamas no braço. Os equipamentos estavam na mão de cada bombeiro, já que as viaturas e mangueiras não conseguiam chegar mais perto do fogo. As mangueiras usadas se estendiam por emendas, para alcançar os focos de fogo.
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Cinco quarteirões com residências da Favela do Papoco, ao lado da avenida Raul Barbosa, na Aerolândia, estiveram numa faixa de grande risco. Os bombeiros temeram que o vento levasse as labaredas para esse lado das residências. Na descrição dada pela assessoria de imprensa dos Bombeiros, havia um "L" de casas que esteve nessa zona de perigo. Loreto estava numa das primeiras viaturas dos Bombeiros que chegaram ao local, acionada do ponto-base da área da avenida Beira Mar. O primeiro chamado para a ocorrência foi às 20h15min. Inicialmente chegou a ser divulgado o fogo teria começado às 18 horas de quarta, mas a assessoria da corporação fez a correção.
A área de manguezal foi a principal dificuldade encontrada pelos que atuaram na operação. Porque limitou o acesso de viaturas e do próprio pessoal dentro da mata. No combate por caminhada ao perseguirem o fogo, num trecho conseguiam pisar, noutro afundavam meia perna na lama. O fogo se aproveitava do vento e dessas condições adversas ao "inimigo" bombeiro.
Dentre as ferramentas usadas, havia enxadas, bolsas costais com água, abafadores e os equipamentos de proteção individual (EPIs). Tentavam respirar e ver por onde andar. "Era tanta fumaça que havia trechos que eu não conseguia enxergar três metros na minha frente", relata Loreto. Em seus seis anos no Corpo de Bombeiros, ele aponta esse como o pior incêndio que já viu no Parque do Cocó. "Em intensidade, com certeza esse é o maior."
Tecnicamente, o fogo foi considerado controlado por volta das 13 horas, mas o trabalho dos bombeiros se estenderá durante a noite desta quinta e as primeiras horas de sexta-feira. "Quarenta homens vão sair agora, início da noite, e outros 20 vão entrar de serviço", confirmou o tenente Eduardo Dutra, da assessoria de comunicação da corporação. Isso considerados apenas os que precisaram atuar no combate manual das chamas. Até as 17 horas da tarde, os helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) haviam feito 118 voos na região. Cada aeronave conseguia transportar 545 litros de água, o que somou quase 65 mil litros despejados. Os arremessos só puderam ser feitos com a luz do dia.
O incêndio é dado como controlado, o que não significa completamente apagado. O trabalho que se estenderá no turno da noite/madrugada, conforme o oficial, será extinguir pontos ainda com chamas e fazer o rescaldo, que é o controle da dispersão de fumaça. "Porque foi mesmo muita fumaça. Toda a região noroeste e oeste de Fortaleza recebeu essa fumaça", segundo Loreto.
Os relatos e reclamações sobre a fumaça partiram de diversos bairros da Capital durante esta quinta-feira, 18. Segundo o tenente Eduardo Dutra, da assessoria da corporação, os 12 focos de incêndio identificados foram monitorados dentro de um perímetro de 20 hectares. Drones e helicópteros ajudaram na captação de imagens para demarcar a área de atuação. As imagens deverão ser usadas também na investigação do caso.