Fumaça de incêndio no Cocó gera transtornos e muda vida de alguns moradores de Fortaleza
Mudança temporária de casa, comércio fechado e dificuldades de respirar fizeram parte do dia do fortalezense nesta quinta-feira
15:18 | Nov. 18, 2021
Quem trafegava pela avenida Raul Barbosa na manhã desta quinta-feira, 18, pôde observar o cenário de "terra arrasada" que se estendia ao longo da vegetação do Parque do Cocó. A nuvem branca de fumaça se alastrou por Fortaleza desde o início do incêndio, ainda na noite da última quarta-feira, 17, e trouxe problemas para muitos moradores.
"Eu tentei passar pela Murilo Borges (avenida) logo cedo, mas não tinha como. Muitos motoristas estavam dando a volta, não tinha como passar por causa da fumaça", explica a motorista de aplicativo, identificada apenas como Jessyca.
Agentes da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) realizaram bloqueios nas duas extremidades da Murilo Borges. Durante toda a manhã, o trânsito de veículos esteve bloqueado na via. De acordo com a comunicação da AMC, a via seguia intransitável até as 13h desta quinta-feira.
No local, O POVO constatou que a visibilidade estava bastante prejudicada durante toda a manhã. Caminhões do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) estiveram no local, assim como helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).
"Desde as 18h de ontem, estamos com quatro a seis guarnições de Bombeiros no local. Temos aproximadamente 20 bombeiros trabalhando com o apoio ininterrupto do helicóptero da Ciopaer", destacou o tenente-coronel Marinho.
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Até as 11h ainda era possível observar as chamas se espalhando em alguns pontos da mata, bem próximos à grade de proteção que cerca a Murilo Borges. Devido ao vento, por vezes, a fumaça mudava de direção, ora indo rumo ao bairro Lagamar, e em outros momentos, seguindo em direção a Aldeota/Meireles.
Moradores dos bairros Aerolândia, Lagamar, José Bonifácio, Aldeota, São João do Tauape, Guararapes, Dionísio Torres e Fátima foram alguns dos que sentiram os efeitos da fumaça nesta manhã. Próximo ao local do incêndio, era possível sentir ardência nos olhos e dificuldades para respirar.
Empecilhos causados pela fumaça
Além dos danos causados em toda a vegetação do Parque do Cocó e ao trânsito da região, a fumaça do incêndio atrapalhou a logística dos fortalezenses na manhã desta quinta-feira, 18. Neuliane Oliveira, 37, comenta que saiu de casa devido ao ocorrido.
"Não estamos tendo condições de ficar no bairro. Dormimos em casa de ontem para hoje, e achávamos que estaria melhor pela manhã, mas não, piorou. Está desastroso", relatou a moradora da Aerolândia.
Ela conta que buscou abrigo em uma outra residência no bairro José Walter e que não pretende voltar para casa nesta quinta-feira. Com dois filhos, uma de três anos e outro de nove, Neuliane relata sua preocupação.
"À noite, dormimos com máscaras. Molhei as máscaras e dormimos com elas assim. Monitoramos os meninos, porque ficamos com medo, estava sem condição nenhuma", explica Neuliane. Ela afirmou que o marido possui uma loja de pintura de veículos no bairro e não teve condições de trabalhar, também devido à fumaça.
Já Marcelo Cavalcante, 42, morador do Lagamar, conta que nunca tinha passado por esse tipo de situação durante as mais de quatro décadas em que vive na região.
"Foi muito difícil passar essa noite em casa, muita fuligem e fumaça. Eu moro aqui há 42 anos, já tinha visto algumas situações parecidas com essa, mas coisa rápida, nada com essa magnitude", conta.
Marcelo destacou o alívio que sentiu por ter deixado os filhos na escola, distante da fumaça, que tomava boa parte do bairro. "Tenho filhos pequenos, um de 10 anos e uma menina de 13, tá sendo bem complicado. O mais novo tem problemas respiratórios e fica ruim. Na escola, sei que tá melhor pra eles respirarem", ressalta.
O morador do Alto da Balança, Sebastião Cabral, 48, foi mais um a sentir os efeitos da fumaça. Ele conta que dormiu longe pois estava insustentável ficar em casa.
"A gente foi dormir em casa de parente, por causa de toda essa fumaça. O vento estava muito forte ontem, de noite, e ajudou a espalhar a fumaça. Não dava para ficar em casa. Ontem não se via nada, eu não sei como não ocorreu nenhum acidente", pontua.
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Ocorrência segue em andamento
Às 14h10, O POVO voltou a conversar com o tenente-coronel Marinho, responsável pela operação realizada pelo Corpo de Bombeiros. De acordo com ele, a ocorrência segue em andamento, mas a situação está sob controle.
"Estamos combatendo aqui, vai dar certo. A Murilo Borges continua bloqueada, ainda temos pontos de incêndio. Os helicópteros seguem sobrevoando. O vento não ajuda, a temperatura e o horário também não", destacou. Segundo Marinho, não há como prever se as operações serão finalizadas ao longo do dia de hoje.