Justiça ordena despejo de projeto social que atende pessoas em situação de rua em Fortaleza

Entidade iniciou campanha de doações para levantar recursos financeiros e conseguir um imóvel próprio

Entidade filantrópica que há mais de 30 anos presta acolhimento a pessoas em situação de rua em Fortaleza, a Casa de Apoio São Maximiliano Kolbe recebeu ordem de despejo da Justiça para desocupar o imóvel onde funciona o projeto social, na rua Carneiro da Cunha, bairro Jacarecanga. O despacho, expedido pela 11ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, atendeu a um pedido do Lar Torres de Melo, associação sem fins lucrativos proprietária do imóvel.

Publicada ainda em junho passado, a decisão teve seus efeitos suspensos até 31 de dezembro devido a um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que impede ações de desocupação, despejo ou remoções forçadas em imóveis de moradia coletiva ou em áreas produtivas de populações vulneráveis.

Mesmo com o posicionamento adotado pela corte, e ratificado pela primeira instância em meados de agosto, os proprietários da residência ingressaram com recurso no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) solicitando a retomada imediata do imóvel. Temendo despejo a qualquer momento, a Casa de Apoio deu início a uma campanha para levantar fundos e conseguir um novo espaço onde o projeto possa continuar funcionando.

A entidade atende diariamente cerca de 200 pessoas com oferta de café da manhã, sopa e kits de higiene pessoal. Idealizador do projeto, o líder comunitário Francisco Santana da Silva, conhecido como Irmão Francisco, afirma viver dias de angústia com a incerteza em relação ao futuro da Casa de Apoio com a ameaça de desocupação.

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“Nem consigo imaginar como é que a gente vai ficar se isso [o despejo] acontecer. Onde a gente vai fazer café, sopa, cuidar desse pessoal? É angustiante, mas vamos lutar, por isso iniciamos essa campanha. Nosso objetivo é encontrar pessoas de bom coração que possam ajudar”, contou.

Sem o apoio financeiro de instituições públicas ou privadas, a ação é mantida exclusivamente por meio de doações e com a ajuda de seis voluntários. O aluguel da residência, que custa R$ 857, começou a atrasar em março do ano passado, após a morte da empresária que doava mensalmente o valor referente aos custos de manutenção do imóvel (água, energia e aluguel). Ela faleceu devido a complicações causadas pela Covid-19. Com os 17 meses ainda não quitados, o valor da dívida chega a R$ 14.569.

Com o sonho de conseguir um imóvel próprio para abrigar o projeto, o dirigente da Casa de Apoio percorreu diversas ruas do bairro Jacarecanga e fez uma pesquisa de preços para saber quanto seria necessário levantar em doações. "Nós conseguimos encontrar uma casa muito boa localizada na rua Júlio Pinto, que custa R$ 203.023. Nesse valor está incluso a escrituração e reforma. Vamos lutar por esse sonho", detalhou Francisco.

O intuito dele é manter o projeto funcionando no mesmo bairro para evitar que as pessoas atendidas tenham que se deslocar a áreas mais distantes.

Francisco ainda afirmou ter procurado ajuda na Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHS) de Fortaleza depois que recebeu a ordem de despejo da Justiça, mas disse que ainda não havia obtido nenhuma resposta da pasta. O POVO pediu um posicionamento sobre o caso, por email, às 17h32min desta quarta-feira, 17, além de mensagem via WhatApp às 19h20min e aguarda retorno.

Acolhimento

Fundada em 1987 com o propósito de acolher desamparados, a Casa de Apoio São Maximiliano Kolbe, segundo contou Francisco, nasceu a partir de uma conversa entre ele e o ex-arcebispo de Fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider, conhecido por atuar em diversas ações sociais voltadas aos mais necessitados.

Além do tradicional café da manhã, oferecido de domingo a domingo para cerca de 200 pessoas, a instituição também oferece acompanhamento para quem precisa obter documentos e presta apoio em consultas médicas e tratamentos terapêuticos. “Fazemos questão de acompanhar cada um pessoalmente, e não só encaminhar, como alguns órgãos públicos fazem. Aqui a gente não presta serviço, nós oferecemos cuidado”, frisou.

Francisco ainda afirma que ao longo desses 34 anos do projeto testemunhou diversos casos de muitas pessoas que saíram das ruas para se tornarem advogados, funcionários públicos, sociólogos e conquistarem emancipação social e financeira. “O que muita gente não tem capacidade de enxergar é que essas pessoas também têm talentos, sonhos e objetivos. Elas só precisam de oportunidades”, acrescentou.

Serviço

Campanha de doação para a Casa de Apoio São Maximiliano Kolbe

Razão social: Associação Beneficente Padre Arturo Juncosa Carbonell

Contatos: 85 98805 0483 | 85 99620 3939

Pix: CNPJ nº 39.953.293/0001-67

Dados bancários:

Banco do Brasil

Agência 1605-5

Conta Corrente n° 106.059-7

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