Série de atividades marca os seis anos da Chacina da Grande Messejana

A série de assassinatos praticada por policiais, que deixou 11 mortos nos dias 11 e 12 de novembro de 2015, segue sem data de julgamento

Os seis anos da Chacina da Grande Messejana, que se completam no próximo dia 11 de novembro, são lembrados em uma série de atividades ocorridas ao longo desta e da próxima semana. O coletivo Mães e Familiares do Curió, com apoio de diversos movimentos sociais e ONGs, preparou uma programação em alusão à data, que inclui atividades como lives, podcast e sarau.

O ponto alto da programação é o lançamento de um livro sobre as vítimas dos crimes. A obra Onze — Movimento Mães e Familiares do Curió com Amor na Luta por Memória e Justiça traz textos sobre cada uma das 11 vítimas da chacina, assinados por seus familiares em parceria com integrantes do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) e ativistas sociais.

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Conforme Edna Carla Cavalcante, mãe de Álef Souza Cavalcante, de 17 anos, morto na chacina, a programação era um desejo antigo, que, finalmente, pode ser realizado neste ano. O objetivo, diz Edna, é  fazer um tributo à memória das vítimas e cobrar justiça. “Não é fácil ver o Estado matar 11 pessoas e ficar impune”, ressalta.

Integrante do coletivo Mães e Familiares do Curió, que reúne familiares das vítimas da chacina, Edna diz que o livro foi pensado para permitir que o leitor conhecesse cada uma das vítimas. Ela lembra que, em um primeiro momento, a narrativa que se tinha das vítimas da chacina era de que eles haviam matado um policial, mas, depois, descartada a acusação, seu filho passou a ser tratado apenas como mais uma das vítimas. “Mas eu não queria isso. Eu queria contar a história de quem era o Álef. Aquele menino de sorriso largo, alegre, extrovertido, que a Polícia matou. Eu acredito que toda mãe tenha esse pensamento”.

A Chacina da Grande Messejana ocorreu na virada dos dias 11 e 12 de novembro de 2015, em quatro bairros daquela região. Onze pessoas foram mortas por policias militares no que seria uma retaliação pelo latrocínio de um PM, ocorrido no dia 11, e a expulsão de um outro policial de sua casa semanas antes. Nenhuma das vítimas da chacina, porém, tinha envolvimento com os crimes.

Foram mortos na ação: Álef Souza Cavalcante, de 17 anos; Antônio Alisson Inácio Cardoso, de 16 anos; Francisco Elenildo Pereira Chagas, de 40 anos; Jardel Lima dos Santos, de 17 anos; Jandson Alexandre de Sousa, de 19 anos; José Gilvan Pinto Barbosa, de 41 anos; Marcelo da Silva Mendes, de 17 anos; Patrício João Pinho Leite, de 16 anos; Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, de 18 anos; Renayson Girão da Silva, de 17 anos; e Valmir Ferreira da Conceição, de 37 anos.

Após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) e decretar a prisão de 44 policiais militares, 34 PMs foram pronunciados concluída a fase de instrução. Eles recorreram, mas a segunda instância confirmou a decisão de levar os réus a júri popular. Recursos em instâncias superiores foram apresentados e estão sendo apreciados, porém, e, por isso, ainda não foi marcada data para o julgamento.

Confira a programação

Dia 4 de novembro — Webinário do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará: Cidade e Violência — a dor dos homicídios nas periferias de Fortaleza. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5j0iUq_FZv4

Dia 5 de novembro — Live Memória, Justiça e Reparação: Diálogos com Mães de Jovens Vítimas da Chacina do Curió. Transmissão às 16 horas no canal Cada Vida Importa, no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCsP62j-HbkZ3QYuc9-GI9RA). Com presença de Silvia Helena Pereira, teóloga e mãe de jovens sobreviventes da chacina; e Maria Suderli Pereira de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto na chacina. Também participam da live: Ângela Pinheiro, professora da UFC e integrante do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (Nucepec/UFC); Leila Passos, professora da Uece e coordenadora do Grupo de Pesquisa Margens, Culturas e Epistemologias Dissidentes (Gepe Margens/Uece); e Luciana Quixadá, professora da Uece e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas Participativas sobre Infância, Cultura e Subjetividade (LINCS/UECE).

Gravação de podcast com o Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violências e Produção de Subjetividades (VIESES/UFC), a ser divulgado no dia 17 de novembro

Dia 6 de novembro — Sarau no Cuca Jangurussu, com o coletivo Meraki do Gueto.

Dia 7 de novembro — Mobilização virtual

Dia 8 de novembro — Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado às 14 horas, onde ocorre o pré-lançamento do livro Onze.

Dia 9 de novembro — Live: Só quem é de Lá Sabe o Que Acontece: Juventude, Periferia e Esperança. Com participação de Cícero de Paulo, jovem morador do Curió; Lívia Morais, jovem moradora do Conjunto Palmeiras; Camila Holanda, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trajetórias Juvenis, Afetividade e Direitos Humanos (Travessias/Uece); e Glória Diógenes, coordenadora do Laboratório das Artes e das Juventudes (Lajus/Uece).

Dia 10 de novembro — Seminário Virtual: Testemunhos da Luta — Relatos de Coletivos por Memória e Justiça. Com participação de Maria Suderli Pereira de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto na Chacina da Grande Messejana; Tânia Brito, mãe de Juan Ferreira dos Santos, jovem morto por um policial no Vicente Pinzón em 2019; Débora Silva, integrante do coletivo Mães de Maio, mãe de Edson Rogério Silva dos Santos, morto em 2006 nos chamados “Crimes de Maio”, reação da PM de São Paulo a uma série de atentados praticados por uma facção; e Arlete Roque, mãe de Alex Júlio Roque de Melo, morto em abordagem policial em Manaus (AM).

Dia 11 de novembro — Lançamento do livro Onze no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Mais informações podem ser conferidas no Instagram do Coletivo Mães do Curió.

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