"Zara zerou": loja nega existência de código e diz valorizar diversidade e respeito
Empresa se pronunciou novamente sobre o caso nesta quarta-feira, 20, após forte repercussão sobre suposto tratamento discriminatório com clientes negros e com "roupas simples"
18:56 | Out. 20, 2021
A rede de lojas Zara Brasil se pronunciou novamente nesta quarta-feira, 20, sobre o inquérito da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) que acusa a unidade do estabelecimento, em Fortaleza, de ter implantado um código de discriminação – o “Zara zerou” – para alertar funcionários sobre a entrada de negros e ou de pessoas com “vestimentas simples” na loja. Em nota enviada ao O POVO, a assessoria de imprensa da Zara nega a existência do suposto código e diz rechaçar qualquer forma de racismo.
A empresa também esclarece que “não tolera nenhum tipo de discriminação” e acrescenta que considera a diversidade, a multiculturalidade e o respeito como princípios indispensáveis ao corporativo da organização.
Veja a íntegra do pronunciamento:
A Zara Basil nega a existência de um suposto código para discriminar clientes. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser tratado com a máxima seriedade em todos os âmbitos. A Zara Brasil conta com mais de 1800 pessoas de diversas raças e etnias, identidades de gênero, orientação sexual, religião e cultura. Zara é uma empresa que não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa.
O código
A existência do “Zara zerou” foi citada no inquérito que investiga suposto crime de racismo contra uma delegada negra na unidade da Zara do Shopping Iguatemi, em Fortaleza. A investigação da PC-CE afirma que o estabelecimento utiliza o código de discriminação para dar tratamento diferenciado às pessoas fora do perfil de clientes desejado pela loja.
Segundo o delegado geral da PC-CE, Sérgio Pereira, sempre que alguém de pele negra ou com vestimentas consideradas inadequadas – segundo o padrão da loja – adentrava ao espaço, o sistema de alto-falante interno reproduzia a frase “Zara zerou”. A expressão, conforme o delegado, servia como um sinal de alerta aos funcionários para monitorar ou barrar a permanência de “clientes indesejados”.
“A partir do acionamento do código, a pessoa não seria mais tratada como um cliente, mas sim como alguém nocivo ao atendimento da loja e por isso teria que ser acompanhada de perto pelos funcionários ou até mesmo ser retirada do local de modo discreto. O alvo principal eram pessoas 'mal vestidas', dentro do padrão deles, ou pessoas negras”, afirmou Pereira. O delegado ainda pontua que, pelas evidências e provas levantadas na investigação, restou comprovado que a loja instituiu "uma política de atendimento racista, preconceituosa e discriminatória".
Esse, conforme apontou Pereira, teria sido o verdadeiro motivo pelo qual a delegada Ana Paula Barroso foi impedida de entrar no estabelecimento no episódio registrado em 14 de setembro. Na ocasião, o gerente da loja, Felipe Simões Antônio, 32, proibiu o acesso dela ao local alegando “razões de segurança”. A conduta resultou no indiciamento do funcionário por crime de racismo.
Depois da repercussão do caso, a Zara justificou que a restrição se deu porque a mulher não utilizava máscara no momento em que tentava entrar na loja, argumento refutado pela delegada.
“O primeiro ponto que o inquérito esclareceu é que a vítima estava sim fazendo uso de máscara. Ocorre que ela havia baixado o item na altura do queixo apenas por alguns instantes para tomar um sorvete. E a investigação demonstrou que em nenhum momento ele [o gerente] questionou o alimento ou fez qualquer menção relacionada à máscara. O motivo apresentado foi somente questão de segurança”, frisou.
O delegado ainda acrescentou que imagens do circuito interno da loja mostram o próprio gerente prestando atendimento cortês a pessoas brancas – sem máscara ou com o item no queixo – cerca de 20 minutos antes da chegada de Ana Paula ao local. “Houve um tratamento diferenciado. Dois pesos e duas medidas”, reiterou Pereira.
Segundo a delegada Janaína Siebra, titular da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, órgão que também participa das investigações sobre o caso, da mesma forma que houve o indiciamento do gerente, a loja também poderá ser responsabilizada por danos morais na esfera cível. “Uma vez que a empresa contrata um funcionário, ela responde pelos atos dele”, lembrou.