Desabamento do Edifício Andrea sob a ótica de um fotógrafo amador
Intenção do morador Danton Torres Holanda foi de documentar as memórias sobre um fato que mudou bruscamente a vida de quem residia no Edifício Andrea, bem como de outros moradores das proximidades
09:22 | Out. 16, 2021
Há dois anos, no dia 15 de outubro de 2019, Danton Torres Holanda entrava no carro de um motorista por aplicativo para se dirigir ao trabalho. O momento foi o mesmo em que a tragédia do Edifício Andrea aconteceu. Sem saber do que se tratava, o homem, que é morador da rua Benjamim Tôrres, também no bairro Dionísio Torres, só soube do que tinha realmente acontecido quando passou a receber várias ligações de pessoas preocupadas com ele por conta da proximidade de sua moradia com o local do desabamento do prédio.
Já que sua rua fica localizada próxima à rua Tibúrcio Cavalcante, endereço do Edifício Andrea, o morador decidiu acompanhar todo o processo de resgate das vítimas, que durou cinco dias. Ele, então, teve a ideia de fazer registros fotográficos das coisas que presenciava. A intenção não era fotografar corpos, desrespeitando a integridade das pessoas e dos familiares, mas de documentar as memórias sobre um fato que mudou bruscamente a vida de quem residia no edifício, bem como de outros moradores das proximidades.
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O bairro Dionísio Torres ficou marcado por abrigar a história de um edifício que desabou, matando nove pessoas e deixando outras sete feridas. Assim, Danton queria deixar os fatos além de guardados na memória, mas por meio de recordações fotográficas também. Pela lente do celular, de forma amadora, ele começou a fazer registros a partir do segundo dia de resgate, deixando guardado, por meio do olhar de um morador da região, momentos que jamais seriam esquecidos.
“Eu tive a ideia de fotografar como se fosse pelos olhos de um morador, dentro da minha visão, do que eu podia fotografar”, explica. O morador contou também que em um dos dias que fazia os registros, um policial à paisana tentou tomar o celular dele, suspeitando que fotos dos corpos e vítimas estivessem sendo tiradas. Foi preciso explicar que a intenção das fotografias era apenas de registrar o que podia de forma a documentar a tragédia.
Encanto pela fotografia
Danton conta que a paixão pela fotografia surgiu desde pequeno, ao ouvir histórias que sua avó contava sobre o primo dela, que era fotógrafo, chamado Luciano Carneiro. Outro fato que impulsionou o morador a gostar de capturar momentos foi ter a foto de um cenário de Fortaleza escolhida pelo O POVO em um concurso lançado no Instagram alguns anos atrás.
“Eu também quis fotografar porque, anos atrás, O POVO fez um concurso para os leitores mandarem fotos no Instagram sobre Fortaleza, e a minha foto foi uma das escolhidas na época. O POVO também fez um festival no Parque do Cocó, onde essa minha foto foi exposta. Foi uma alegria! Depois daquilo, surgiu essa curiosidade de ficar fotografando fatos”, explica.
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O morador chegou a imprimir alguns registros feitos em uma gráfica localizada perto da rua onde mora. Ele chegou a cogitar e conversar com alguns moradores sobre criar uma exposição no local do edifíco com as fotos, de forma que as pessoas pudessem ver, por meio da muralha de escombros registrada, que ali existia um prédio que abrigava famílias e guardava histórias.
"A ideia da gente era fazer como uma exposição no local, mas não percebi muita empolgação da vizinhança quanto a isso. Também não sabemos se os sobreviventes gostariam de ver e lembrar daquele dia", explica. No meio dos registros feitos, Danton também fotografou o segurança do local, que foi capturado também por meio de câmeras de segurança correndo para conseguir salvar sua vida enquanto o edifício desabava.
Parentesco com o dono do nome escolhido para o bairro
O bairro Dionísio Torres é assim chamado para homenagear um homem que, na época, era dono de uma grande fazenda com uma vacaria no local. Por volta de 1950, ele se aposentou e veio a morrer pouco tempo depois. O morador Danton Holanda Torres é, de acordo com os registros de quando nasceu, neto dele.
"Juridicamente, eu sou neto dele, porque fui criado pelos meus avós. Mas, geneticamente, ele é meu bisavô", pontua Danton.
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