Pai de jovem vítima de racismo quer que envolvidos respondam criminalmente

O defensor público Adriano Leitinho foi convocado a depor sobre o caso de racismo sofrido pela filha Mel Campos em uma padaria no bairro Cocó, na última quarta-feira, dia 22

Após ter feito a denúncia contra racismo sofrido pela filha de 16 anos à Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes (Dececa), o defensor público Adriano Leitinho foi chamado a depor na manhã desta segunda-feira, 27, na Dececa, no bairro São Gerardo. Antes e depois do depoimento, Adriano conversou com O POVO com exclusividade, na porta da delegacia, e disse aguardar que os envolvidos no crime sejam punidos conforme a lei. “Espero que as pessoas envolvidas sejam responsabilizadas criminalmente pelo ato praticado, principalmente a empresa, na pessoa jurídica, conforme prevê a lei especial dos crimes contra raça e etnia”, atesta.

O racismo ao qual o defensor denunciou foi sofrido pela filha mais velha dele, Mel Campos, na noite da última quarta-feira, 22. Na ocasião, Mel voltava da aula de jiu-jitsu e, como pai não estava em casa e a jovem estava sem as chaves, foi até a padaria Portugália, no bairro Cocó, perto de onde moram. Foi lá onde o episódio de racismo aconteceu. “Quando eu fui entrar, a moça me parou e falou que eu não podia estar pedindo ali, e eu não entendi e perguntei se [a padaria] estava fechada, se não podia mais pedir comida. Aí ela disse: ‘Não, não pode mais pedir dinheiro’. Foi quando eu entendi o que ela quis dizer e expliquei que eu não estava ali para pedir, e sim para consumir, e que eu era cliente”, relatou a adolescente, em entrevista à rádio O POVO CBN.

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Na porta da delegacia, o defensor aponta que o racismo é um crime bastante grave, inafiançável, restritivo e que merece realmente ser punido. “O que nós não podemos admitir é que realmente (esse tipo de situação) continue ocorrendo ainda nos tempos de hoje. Afinal, as pessoas responsáveis pelo ato sejam realmente punidas para servir de exemplo para que outras empresas tenham mais cuidado com a contratação dos seus funcionários e façam os devidos treinamentos”, enumera o que espera.

Leitinho conta que a filha está menos abalada hoje porque ela é emocionalmente preparada por ele e pela ex-mulher, mãe dela, para não se abater com essas situações. “Desde cedo trabalhamos com a Mel essa questão. Ficamos até tristes em falar, mas é infelizmente. Como já prevíamos que ela poderia passar por esse tipo de constrangimento, já a preparamos bastante para que ela possa se amar, enfrentar de cabeça erguida essas questões e transformar sempre essa dor em luta”, conta o defensor público.

Mel já fazia acompanhamento psicológico e, nesse período em que está ficando adulta, o atendimento acabou sendo intensificado. A outra filha de Adriano tem a pele mais clara e, segundo o defensor, nunca passou por nenhuma situação de constrangimento, mas ela também toma as dores da irmã, que acaba vendo como suas. “A minha filha mais nova por ter a pele mais clara, com certeza, nunca passou e com certeza não irá passar por situações de racismo. Infelizmente, é o que hoje a gente enfrenta na sociedade cearense”, afirma Leitinho.

Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) informa que o inquérito policial relacionado à denúncia de racismo segue em andamento, com a testemunha sendo ouvida nesta segunda-feira. "Mais detalhes serão repassados em momento oportuno para não comprometer os trabalhos policiais", conclui a nota.

Em entrevista ao O POVO, no último dia 24, a gerente do Portugaleria Shopping, Lúcia Alves, onde a padaria está localizada, reconheceu que houve erro por parte da segurança, desculpou-se pelo ocorrido e disse que a funcionária pediu demissão. Ainda segundo ela, o estabelecimento não tolera qualquer tipo de preconceito e realiza periodicamente treinamento com os funcionários para oferecer tratamento digno e respeitoso aos clientes. A Padaria Portugália, por meio de nota, explicou que a profissional da segurança que tentou impedir a entrada da adolescente no estabelecimento não possui vínculo com a empresa.

O POVO tentou entrar em contato novamente, por ligação telefônica, com a gerente na noite desta segunda-feira, 27, mas não conseguiu resposta até a atualização desta matéria.

Atualizado às 22h34min

(Colaborou: Luciano Cesário)

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