Casos de dengue aumentam 51% em Fortaleza durante o ano de 2021
Em um comparativo com o mesmo período do último ano, Capital apresenta aumento do número de casos de dengue. Regional V registra mais de 30% dos casos
16:41 | Set. 02, 2021
Desde 1986, a dengue é considerada endêmica na cidade de Fortaleza. Em 36 anos, já são quase 340 mil casos registrados, com 286 óbitos causados pela doença. Os números foram divulgados no último boletim epidemiológico da Coordenadoria de Vigilância em Saúde.
Apesar de ser um velho conhecido dos fortalezenses, o vírus da dengue voltou a apresentar crescimento em sua propagação durante o ano de 2021. De acordo com o boletim, os números deste ano, registrados até a 34ª Semana Epidemiológica, que contabiliza casos de janeiro até o fim de agosto, indicam uma acréscimo de 51,1% comparado ao mesmo período de 2020.
Até o fim do mês de agosto, Fortaleza contava com 10.789 casos da doença, sendo o mês de junho o período com o maior número de casos confirmados, com 3.239 pessoas contaminadas pela doença. O maior percentual de aumento durante o período foi entre os meses de abril e maio, quando os casos saltaram de 1.274 para 3.062, representando um aumento percentual de 140,3%.
Na Capital, as localidades que mais preocupam as autoridades de saúde são as regionais V e VI, que, respectivamente, representam 30,9% e 25,6% do total de casos do município.
Apesar do grande aumento do número de casos durante o primeiro semestre, os registros apresentaram queda no início do segundo semestre. Entre os meses de junho e julho, os casos foram de 3.239 para 1.811. Em agosto, 374 foram contabilizados.
Na manhã desta, quinta-feira, 2, agentes da Vigilância Ambiental e Educadores em Saúde de Fortaleza participaram de um mutirão de combate às arboviroses no bairro Messejana, que faz parte da Regional VI.
Cerca de 600 visitas foram realizadas nesta quinta, 2, em residências e comércios. Os agentes também realizaram a Operação Quintal Limpo, que visa conscientizar a população sobre a importância da prevenção e eliminação dos criadouros do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Os agentes distribuíram sacos plásticos vazios para recolhimento de materiais sem utilidade. Nesta sexta-feira, 3, o lixo reservado pela população será recolhido pelo caminhão de coleta da Secretaria Regional.
"Hoje, temos uma grande limitação que é a questão do acesso às casas. Por conta da Covid, estamos deixando de adentrar os imóveis. Nesse período, eliminávamos algo em torno de 25 mil focos e, neste ano, eliminamos só cinco mil focos", destaca Carlos Alberto Barbosa, coordenador de endemias do município de Fortaleza.
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O coordenador diz ter esperança que a população possa se tornar ainda mais engajada no combate ao vírus diante do cenário adverso. Barbosa explica, ainda, que os trabalhos realizados a partir do mês de julho já possuem caráter preventivo para evitar maiores problemas no período chuvoso de 2022.
"A partir de setembro trabalhamos pensando no próximo ano, já pensando no período de inverno. Queremos limpar o ambiente, retirar os principais criadouros da época de inverno, neles encontram-se em torno de 20% dos focos de mosquito", explica.
Cuidados para evitar focos da dengue
Itens como latas, potes plásticos, pneus ou qualquer outro tipo de objeto que possa acumular água merecem a atenção da população. É importante também ficar atento à vedação correta das caixas d’água. O mosquito, ao encontrar um local apropriado, leva de sete a 12 dias para se desenvolver e colocar toda a população em risco.
Uma das preocupações dos órgãos sanitários e ambientais da Prefeitura de Fortaleza é a volta de casos do sorotipo dois da dengue, que é considerado o mais agressivo dentre os quatro existentes.
"Desde 2008 não circulava a dengue tipo dois em Fortaleza, mas estima-se que mais de 400 mil pessoas nasceram nesse período. Elas estão em risco de pegar esse tipo mais agressivo", relata Francisco Ribeiro, supervisor geral do núcleo de educação em saúde e mobilização social das regionais VI e IX.
O risco existe porque pessoas nascidas durante esse período não tiveram contato anteriormente com esse sorotipo da doença, o que as torna suscetíveis à contaminação.
De acordo com Ribeiro, a dengue tipo dois já foi encontrada em 35 bairros da Capital com maiores registros nos bairros Planalto Airton Sena (12 casos), Mondubim (9 casos) e Serrinha (7 casos).
Em 2021, de acordo com o último boletim, foram notificadas 14 suspeitas de dengue grave, sendo 12 com evolução para óbito. Desses registros, nove já foram investigados, tendo três casos confirmados como óbito por dengue (idade de 10, 11 e 19 anos) e seis casos descartados.
Em Fortaleza, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Cristo Redentor foi o estabelecimento de saúde que apresentou o maior número de casos confirmados, com 882 registros da doença.
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Zika e chikungunya apresentam baixa incidência em Fortaleza
Diferente da dengue, os primeiros casos de zika em Fortaleza são bem mais recentes, tendo seu primeiro registro apenas em 2015.
Entre os anos de 2016 e 2020, a capital cearense registrou 1.638 casos de zika, sendo 2016 o ano com o maior número de casos da doença, 1.332. Já em 2020, apenas 19 casos da doença foram confirmados em Fortaleza.
Neste ano, 158 suspeitas de zika foram registradas. Porém, nenhum dos casos foi confirmado até o fim de agosto. Do total, 35 casos ainda estão em análise. Nenhuma morte ocasionada pela doença foi registrada.
Ainda de acordo com o relatório, a chikungunya apresentou baixa incidência durante o primeiro semestre de 2021. Foram 550 notificações, sendo 131 confirmações. Em 2020, foram notificadas 834 suspeitas de chikungunya em residentes de Fortaleza, com 253 casos confirmados.
Em 2020, a chikungunya ocasionou dois óbitos em Fortaleza, já em 2021, as duas mortes suspeitas de terem sido ocasionadas pela doença foram descartadas.
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Ações de prevenção são aprovadas pela população
O POVO acompanhou parte do mutirão de prevenção realizado pelos agentes de Vigilância Ambiental e Educadores em Saúde de Fortaleza, no bairro Messejana, nesta quinta-feira, 2. A iniciativa ganhou reconhecimento de quem vive e trabalha na região.
"Eu já tive a doença (dengue) e não quero pegar de novo, sei como é ruim. É importante essa visita, é o certo a se fazer. Essa doença é horrível, a gente não se recupera fácil. É preciso ter o maior cuidado do mundo", comenta Guto Carneiro, 61, morador do bairro Messejana.
Marcelo Sobrinho, 26, administra um pet shop na região e foi mais um a ouvir e aprovar as recomendações passadas pelos agentes. "É uma ação muito importante. Estamos todos muito focados na pandemia e acabamos esquecendo um pouco dessa outra parte, mas temos que cuidar. É sempre bom ter ações que lembrem disso", finaliza.