Criação de peixes em reservatório busca levar segurança alimentar a comunidades
Além dos reservatórios de água, espaços para criação de galinhas e cultivo de hortas também fazem parte do projeto
09:53 | Ago. 31, 2021
Com objetivo de despertar ações autônomas e levar a ideia de uma alimentação mais saudável para comunidades de Fortaleza, o Movimento dos Conselhos Populares (MCP) lança o projeto "Sisteminha". A ação consiste em um tanque de criação de peixes que deverá servir como fonte de alimento à comunidade, destacando as ideias de sustentabilidade e coletividade entre os moradores. O primeiro tanque foi inaugurado em agosto no bairro Conjunto Palmeiras e o segundo, no dia 29, na comunidade Raízes da Praia, na Praia do Futuro.
Além da criação de peixes, o projeto visa, ainda, que pequenos galinheiros e locais para plantio de hortas estejam à disposição das comunidades. O objetivo é disponibilizar alimentos saudáveis e que não gerem custo para as comunidades, que sofrem com a alta dos preços no setor de alimentos. No tanque, são cerca de 150 peixes, quantidade preconizada pela organização do projeto. Ideia é que haja possibilidade de os peixes cheguem à fase adulta.
A produção do "Sisteminha" não possui nenhum objetivo lucrativo para a comunidade. "O principal do Sisteminha, além da segurança alimentar, é fortalecer o espírito comunitário, organização das comunidades, acionando as práticas do Mutirão e da Partilha. Não há objetivo de comercialização, mas de ser cuidado por coletivos e partilhar entre as famílias", relata Igor Moreira, um dos membros do Movimento, que atua na Capital desde 2005.
Inicialmente, as discussões do grupo eram pautadas por temas ligados à autonomia política, mas com o passar do tempo, a temática alimentar também começou a fazer parte dos debates. De acordo com Igor, a partir dessa ideia, foram elaboradas algumas medidas com o intuito de melhorar a qualidade de vida das periferias, como a distribuição de cestas básicas.
"Começamos com cestas básicas, mas vimos que não adiantava estar distribuindo cesta dentro do projeto, mesmo que a gente esteja ajudando na questão da renda, seria importante fazer algo focado na segurança alimentar por meio de uma ação autônoma que é o 'Sisteminha'", explica Moreira.
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"Parte do problema é a falta de políticas públicas, além da crise econômica. A questão alimentar acaba se tornando um problema de saúde. Nos alimentamos muito mal nas periferias de Fortaleza e do Brasil", lamenta Igor.
Para os moradores
Para o aposentado Assis Silva, 60, morador da comunidade Raízes da Praia, a ideia de coletividade do projeto é animadora. "Não tem cabimento fazer um negócio desse e querer vender. Do jeito que as coisas estão, tudo muito caro, e as pessoas com pouco dinheiro, é bom saber que o projeto visa que cada um possa se alimentar. Que seja uma garantia", comemora Assis.
De acordo com o morador, cerca de 84 famílias devem ser beneficiadas com o projeto. Toda a comunidade será responsável pelo cuidado com os animais, até que cheguem à fase adulta.
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Uma das lideranças da comunidade, dona Angela Almeida, 65, é uma das responsáveis por manter a alimentação de duas em duas horas dos peixes. Ela conta que já desenvolveu tanto amor pelo projeto que será difícil comer os peixinhos.
"Eu tenho criado como filhos, não sei nem se vou ter coragem de comer esses peixes. Acho que as galinhas, que venham do galinheiro de outra comunidade, pode até ser", brinca dona Angela.
Ela comenta que o projeto busca integrar as comunidades para que a cultura de autonomia e sustentabilidade sirva como um elo entre os grupos. "Espero que os peixes daqui também alimentem outras pessoas, de outras comunidades, assim como a pequena horta que estamos fazendo", finaliza.
O Sisteminha conta com apoio do Jubileu Sul Brasil por meio da ajuda a terceiros do projeto Protagonismo da Sociedade Civil na Políticas Macroeconômicas, cofinanciado pela União Europeia.
Futuramente, de acordo com os organizadores do projeto, os bairros de Messejana e do Serviluztambém deverão contar com ações similares.
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