Problemas na comunicação entre Prefeitura e feirantes da José Avelino deixam dúvidas sobre pesquisa
Prefeitura só deve divulgar ações na José Avelino após resultados do levantamento. Pesquisa sobre feirantes deve ser realizada até 3 de setembroA prefeitura de Fortaleza iniciou um levantamento de dados sobre feirantes da José Avelino nessa quinta-feira, 27. A ação foi programada por comissão formada após a morte do vendedor Naison Abdenego de Sousa Barros, de 31 anos, morto durante confronto de agentes da Guarda Municipal e feirantes no dia 18 de agosto. De acordo com o secretário Municipal de Governo, Renato Lima, o objetivo da coleta de informações é saber a quantidade e o perfil das pessoas que trabalham na feira de rua. O que será feito após o levantamento ainda não foi divulgado.
Renato explica que uma das principais dificuldades para estabelecer um diálogo com os feirantes é a falta de uma liderança estabelecida por eles. “Nós não conseguimos identificar uma liderança legitimada que fale em nome de todos. A gente não consegue saber se são mil, dois mil, três mil pessoas”, disse em entrevista ao O POVO. Para divulgar o levantamento, o boca a boca entre vendedores, com a ajuda de servidores da prefeitura, posts em redes sociais e panfletos estão sendo os principais meios de comunicação.
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Antes do início da pesquisa, um grupo de oito feirantes participou de uma reunião intermediada pelo presidente da Câmara dos Vereadores, Antônio Henrique (PDT), com representantes da prefeitura. A partir dela, o grupo fez o próprio levantamento e apresentou uma lista com 3.172 nomes de feirantes ao Executivo. “Esses dados estão postos mas são dados muito superficiais, só o nome, CPF e endereço. E a nossa pesquisa é um pouco mais profunda. Nós vamos cruzar esses dados e vamos ter o diagnóstico desse comércio”, afirma Renato.
Para fornecer os dados à pesquisa, dezenas de feirantes se enfileiraram na manhã dessa sexta-feira, 27, na frente do estacionamento do Mercado Central, onde está ocorrendo a coleta das informações até o dia 3 de setembro. A ação é feita em parceria com a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE). Mesmo sem saber exatamente o que será feito com o resultado do levantamento, a feirante Juliana da Mota, 33, compareceu ao local em busca de uma das 200 fichas entregues a cada turno.
"Aqui não está bom para feirante. Nós estamos esperando a regularização para continuarmos trabalhando e conseguir levar o que precisamos para casa, que é o pão de cada dia". Juliana trabalha há 8 anos na José Avelino. “Se ele [prefeito Sarto] elaborasse um jeito de organizar a todos, além de especular um horário [para a realização das feiras], daria certo para todos nós", cobra.
Lucilene Medeiros, 50, também procurou o local para fornecer os dados. “O desemprego tá grande e infelizmente a gente vive disso. Ele [prefeito] tem que realmente organizar nós, feirantes. É isso que a gente quer”. A comerciante, que trabalha na feira há 15 anos, reclamou da demora para resolver o problema do ordenamento, que já dura anos sem um consenso entre Prefeitura e feirantes. “Não é a primeira vez que a gente faz cadastro em prefeitura. Eu já fiz bem uns dez”.
“Nós queremos um diagnóstico. Quem são essas pessoas, de onde essas pessoas vem, o que elas vendem, qual a idade, quais os dias da semana em que elas frequentam a feira, porque nem todas frequentam o mesmo dia sempre. Então, com base nesse diagnóstico nós poderemos fundamentar uma decisão a ser tomada pelo prefeito Sarto”, diz Renato Lima.
Feirantes não querem sair do entorno da José Avelino
A vontade de organizar a feira compartilhada pelos comerciantes é acompanhada de uma necessidade de continuar no local. Juliana defende que os feirantes sejam regularizados, recebam uma numeração, local e horário específico, mas sem deixar o entorno da José Avelino. “Não quero sair daqui porque aqui é o foco da feira. Os ônibus, o povo vem comprar aqui, a tradição é aqui”, argumenta.
Há 25 anos trabalhando no local, Maria Helena Nogueira, 54, também não quer perder o ponto de vendas. “A gente não sai, porque aqui é o polo da confecção, a gente criou nosso segmento”.
Quando questionado sobre a possibilidade de manter os feirantes no local, mas com permissão para trabalhar, o secretário municipal de Governo explicou que ainda não há decisão em relação ao tema. “Nós poderemos pensar em soluções que pacifiquem esse complexo conflito socioeconômico após o diagnóstico. Qualquer coisa que eu fale vai antecipar um cenário, e eu não quero antecipar cenários”. Segundo Renato Lima, o levantamento deve ser analisado com urgência, mas não há uma data pré-estabelecida para divulgação de resultados.
Enquanto isso, Renato esclarece que não há regulamentação para o comércio de rua no local. “Circulou informação não oficial de que estaria autorizado o comércio de 22h ás 5 horas da manhã. Isso não aconteceu. Nós manteremos a fiscalização padrão e a única informação oficial é que os galpões podem funcionar de 6h às 16 horas. O comércio de rua não está regulamentado em qualquer horário”, completa.
Serviço:
Levantamento de feirantes e ambulantes do entorno da José Avelino
Quando: De 26 de agosto a 3 de setembro
O que levar: Documento de identidade com foto, CPF e comprovante de residência
Horário: São entregues 200 fichas às 7h50 e mais 200 às 13h diariamente. Neste sábado, 28, a coleta de dados só será realizada até às 12h.