Problemas na comunicação entre Prefeitura e feirantes da José Avelino deixam dúvidas sobre pesquisa

Prefeitura só deve divulgar ações na José Avelino após resultados do levantamento. Pesquisa sobre feirantes deve ser realizada até 3 de setembro

23:32 | Ago. 27, 2021

Por: Alexia Vieira
FEIRANTES participaram de levantamento da Prefeitura (foto: Thais Mesquita)

A prefeitura de Fortaleza iniciou um levantamento de dados sobre feirantes da José Avelino nessa quinta-feira, 27. A ação foi programada por comissão formada após a morte do vendedor Naison Abdenego de Sousa Barros, de 31 anos, morto durante confronto de agentes da Guarda Municipal e feirantes no dia 18 de agosto. De acordo com o secretário Municipal de Governo, Renato Lima, o objetivo da coleta de informações é saber a quantidade e o perfil das pessoas que trabalham na feira de rua. O que será feito após o levantamento ainda não foi divulgado.

Renato explica que uma das principais dificuldades para estabelecer um diálogo com os feirantes é a falta de uma liderança estabelecida por eles. “Nós não conseguimos identificar uma liderança legitimada que fale em nome de todos. A gente não consegue saber se são mil, dois mil, três mil pessoas”, disse em entrevista ao O POVO. Para divulgar o levantamento, o boca a boca entre vendedores, com a ajuda de servidores da prefeitura, posts em redes sociais e panfletos estão sendo os principais meios de comunicação.

Leia mais | 395 feirantes da José Avelino já forneceram dados em ação da Prefeitura

Antes do início da pesquisa, um grupo de oito feirantes participou de uma reunião intermediada pelo presidente da Câmara dos Vereadores, Antônio Henrique (PDT), com representantes da prefeitura. A partir dela, o grupo fez o próprio levantamento e apresentou uma lista com 3.172 nomes de feirantes ao Executivo. “Esses dados estão postos mas são dados muito superficiais, só o nome, CPF e endereço. E a nossa pesquisa é um pouco mais profunda. Nós vamos cruzar esses dados e vamos ter o diagnóstico desse comércio”, afirma Renato.

Para fornecer os dados à pesquisa, dezenas de feirantes se enfileiraram na manhã dessa sexta-feira, 27, na frente do estacionamento do Mercado Central, onde está ocorrendo a coleta das informações até o dia 3 de setembro. A ação é feita em parceria com a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE). Mesmo sem saber exatamente o que será feito com o resultado do levantamento, a feirante Juliana da Mota, 33, compareceu ao local em busca de uma das 200 fichas entregues a cada turno.

"Aqui não está bom para feirante. Nós estamos esperando a regularização para continuarmos trabalhando e conseguir levar o que precisamos para casa, que é o pão de cada dia". Juliana trabalha há 8 anos na José Avelino. “Se ele [prefeito Sarto] elaborasse um jeito de organizar a todos, além de especular um horário [para a realização das feiras], daria certo para todos nós", cobra.

Lucilene Medeiros, 50, também procurou o local para fornecer os dados. “O desemprego tá grande e infelizmente a gente vive disso. Ele [prefeito] tem que realmente organizar nós, feirantes. É isso que a gente quer”. A comerciante, que trabalha na feira há 15 anos, reclamou da demora para resolver o problema do ordenamento, que já dura anos sem um consenso entre Prefeitura e feirantes. “Não é a primeira vez que a gente faz cadastro em prefeitura. Eu já fiz bem uns dez”.

“Nós queremos um diagnóstico. Quem são essas pessoas, de onde essas pessoas vem, o que elas vendem, qual a idade, quais os dias da semana em que elas frequentam a feira, porque nem todas frequentam o mesmo dia sempre. Então, com base nesse diagnóstico nós poderemos fundamentar uma decisão a ser tomada pelo prefeito Sarto”, diz Renato Lima.

Feirantes não querem sair do entorno da José Avelino

A vontade de organizar a feira compartilhada pelos comerciantes é acompanhada de uma necessidade de continuar no local. Juliana defende que os feirantes sejam regularizados, recebam uma numeração, local e horário específico, mas sem deixar o entorno da José Avelino. “Não quero sair daqui porque aqui é o foco da feira. Os ônibus, o povo vem comprar aqui, a tradição é aqui”, argumenta.

Há 25 anos trabalhando no local, Maria Helena Nogueira, 54, também não quer perder o ponto de vendas. “A gente não sai, porque aqui é o polo da confecção, a gente criou nosso segmento”.

Quando questionado sobre a possibilidade de manter os feirantes no local, mas com permissão para trabalhar, o secretário municipal de Governo explicou que ainda não há decisão em relação ao tema. “Nós poderemos pensar em soluções que pacifiquem esse complexo conflito socioeconômico após o diagnóstico. Qualquer coisa que eu fale vai antecipar um cenário, e eu não quero antecipar cenários”. Segundo Renato Lima, o levantamento deve ser analisado com urgência, mas não há uma data pré-estabelecida para divulgação de resultados.

Enquanto isso, Renato esclarece que não há regulamentação para o comércio de rua no local. “Circulou informação não oficial de que estaria autorizado o comércio de 22h ás 5 horas da manhã. Isso não aconteceu. Nós manteremos a fiscalização padrão e a única informação oficial é que os galpões podem funcionar de 6h às 16 horas. O comércio de rua não está regulamentado em qualquer horário”, completa.

Serviço:

Levantamento de feirantes e ambulantes do entorno da José Avelino

Quando: De 26 de agosto a 3 de setembro
O que levar: Documento de identidade com foto, CPF e comprovante de residência
Horário: São entregues 200 fichas às 7h50 e mais 200 às 13h diariamente. Neste sábado, 28, a coleta de dados só será realizada até às 12h.