Edifício São Pedro: do hotel luxuoso mais alto da orla ao cenário de abandono e depredação
Sem o tombamento, os donos afirmam tentar manter a estrutura pela questão histórica, mas não descartam a demoliçãoAlto e imponente são algumas das primeiras impressões que se pode ter ao chegar na rua Historiador Raimundo Girão, 293. É quase impossível para quem passa na região não notar o Edifício São Pedro. O prédio com vista privilegiada da orla da Beira Mar, em Fortaleza, já agradou diversos hóspedes em um luxuoso hotel, mas hoje, a estrutura do edifício é motivo de preocupação para os donos do empreendimento e diversas instâncias da gestão municipal da Capital. Nesta quinta-feira, 19, o processo de tombamento discutido há anos não foi deferido pela Prefeitura e seu futuro ainda é avaliado pelos donos.
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O saudosismo para sua época de ouro ainda é grande entre os fortalezenses, e não é à toa. Ele foi o primeiro prédio construído da orla. Chamado formalmente Edifício Hotel São Pedro, ou Copacabana Palace cearense, foi fundado em 1951 e é constituído de uma estrutura de concreto armado no formato de navio, como explica o Grupo de Pesquisa em Materiais de Construção e Estruturas – (GPMATE) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O edifício tem sua arquitetura inspirada nos hotéis luxuosos de Miami Beach, contando com
oito pavimentos e quatro elevadores. Segundo o Instituto dos Arquitetos Brasil Departamento do Ceará (IAB-CE), o prédio inaugurou o uso hoteleiro na parte litorânea da Capital. Até então, esse tipo de empreendimento estava concentrado na região central de Fortaleza.
Se a visão do mar atraiu os visitantes, a ação marinha foi um dos vilões na história do luxuoso hotel. Em um dos documentos usados pela Prefeitura para indeferir o tombamento, o GPMATE explica que a posição do prédio no litoral o colocou em um ambiente urbano com classe de agressividade ambiental do tipo III, o segundo maior, com forte agressividade e grande risco de deterioração das estruturas. A temperatura e a umidade alta também deixaram suas marcas na estrutura do local.
Segundo Filomeno Junior, neto do fundador do hotel, o empreendimento era ocupado da parte central pelo hotel propriamente dito e nas laterais haviam moradores residenciais. “Aquele prédio foi construído pelo vovô, então a gente sempre teve um sentimento muito grande por ele. Nós tentamos todos os esforços ao longo da vida dele (pelo edifício)”, afirmou em entrevista à Rádio O POVO/CBN.
O empresário ressalta que o prédio deixou de ser usado porque não conseguia, mesmo com modificações, se manter dentro das normas técnicas. “Neste momento, nós começamos a ter deficiências na manutenção e uma série de coisas foram acontecendo”, pontuou.
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Com as condições estruturais piorando e sem moradores e hóspedes, o prédio ficou suscetível a saques. Uma dupla levou placas de gesso, outra pessoa uma porta. Em imagens e laudos, é possível comprovar o estado degradado do lugar. O teto está deteriorado e com infiltrações, o chão cheio de lixo e pequenos pedaços do passado glorioso do hotel. São pilhas de livros, listas telefônicas, pastas com notas fiscais, prestação de contas, balanços financeiros, orientações para declaração de imposto de renda.
As armaduras de aço, que sustentam as paredes, estão expostas ou corroídas. O concreto apresenta poros visíveis a olho nu, além de árvores estarem crescendo na estrutura. Em ambos os laudos usados pela Prefeitura, há o risco de um colapso das paredes. A necessidade de interdição ou demolição de pelo menos uma parte da estrutura completam os documentos.
Tombamento
O tombamento provisório do edifício é mencionado pela gestão municipal formalmente desde 2006, no decreto nº 11.960. No decorrer dos anos, o procedimento tomou vários rumos, mas nenhum chegou a uma decisão concreta até esta quinta-feira, 19 de agosto. Em 2015, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) já havia reforçado o pedido de tombamento.
No mesmo ano, os proprietários iniciaram um debate com a Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) para ser implementado um novo projeto. Nele, haveria a incorporação de uma torre, no centro da edificação. Segundo Filomeno Júnior, essa intenção não será mais considerada no futuro do prédio, porque era uma proposta exclusiva para um possível tombamento.
Em 2018, o Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic) considerou o tombamento, mas definiu a possibilidade de mudanças desde que preservadas as características da fachada. Ainda em 2018, entretanto, o Ministério Público solicitou à Justiça, com decisão favorável, para que fosse proibida qualquer concessão de demolição, destruição ou mutilação da estrutura do São Pedro até a finalização do tombamento.
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