Controle mais rígido e aumento do número de feirantes antecederam morte na José Avelino
Na percepção de quem trabalha no local há anos, falta de diálogo com a Prefeitura e avanço da feira pelas ruas originaram o problemaO confronto entre a Guarda Municipal de Fortaleza e os feirantes que trabalham na avenida José Avelino, durante a madrugada desta quarta-feira, 18, terminou de forma trágica com a confirmação da morte de um dos feirantes que trabalhava no local. Para quem sobrevive da venda dos mais diversos tipos de mercadorias que podem ser encontrados naquela região, o fato desta madrugada não foi um mero acaso.
Desde a noite da última sexta-feira, 13, de acordo com os comerciantes, a Guarda Municipal tem atuado de forma mais dura, as ações seriam para combater o avanço da feira, que tem ocupado parte da av. Alberto Nepomuceno.
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"O primeiro confronto direto foi na sexta-feira, que praticamente foi só por parte deles (Guarda). Hoje, já foi pior, porque aconteceu até morte. Aumentou mesmo o número de pessoas aqui, por causa do desemprego. Se não tem emprego, muita gente vem tentar a vida aqui", relata Cláudio Maia, que já trabalha na região há 14 anos.
Apesar de reconhecer que alguns feirantes dificultam o pleno funcionamento da feira, Maia acredita que não há justificativa para o ocorrido.
"Tem muitos feirantes que têm boxes e vão para as ruas pra não pagar aluguel, se ficassem nas ruas só aqueles que não têm condição de pagar o box, seria uma minoria. Acaba que fica muita gente na rua, gerando aglomeração, mas a ação da Guarda não é correta também, não pode acontecer o que aconteceu", desabafa.
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Reginaldo Fernandes vende tapetes no local há mais de oito anos. O feirante explica que ações da Prefeitura contra a feira sempre foram uma constante. "Fazia um tempo que estava calma, agora eles voltaram. Sempre foi assim, tem tempos que é mais tranquilo, mas tem alguns momentos que eles implicam", relata o vendedor.
O feirante explica que a principal reclamação dos fiscais que vão até a feira era a invasão das vias que cercam a av. José Avelino. "Eles reclamam que estamos tomando a via, mas isso é o que eles dizem. Existem outras formas de resolver o problema. O tamanho da feira aumentou bastante, pode ser isso também", relata.
Fernandes acredita que, se a Prefeitura disponibilizasse um local para todos trabalharem, a região deixaria de ser um foco de problemas. João Paulo, que trabalha como feirante há dez anos, tem o mesmo pensamento do colega. "Se eles separassem a gente para ficarmos todos na José Avelino, ficaria bom. Podiam fechar ali. Entendo que às vezes o feirante invade a pista, e não pode, mas se eles chegassem e pedissem para organizar, poderia ser diferente", comenta.
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João Paulo é mais um a reclamar da forma que os agentes vêm agindo durante os últimos dias. "Ninguém aqui anda armado, a nossa arma aqui é Deus, ninguém é por nós, só Ele mesmo. Somos pais de família e temos que ficar correndo como se fôssemos bandidos", finaliza.
De acordo com a Prefeitura de Fortaleza, os agentes da Guarda Municipal, inicialmente, tentaram dialogar com os feirantes que estavam no local. Entretanto, os guardas foram recebidos com violência por parte dos feirantes, com pedras e rojões.
Ainda segundo a Prefeitura, os agentes estavam no local para garantirem a segurança dos funcionários da Agefis, além de trabalharem para dispersar o grupo na intenção de evitar aglomerações.
A Prefeitura alega, ainda, que os agentes da Guarda Municipal disponibilizaram um tempo para que os manifestantes fossem embora, mas o pedido não teria sido respeitado.
De acordo com o coronel Holanda, titular da Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec), em entrevista à Rádio O POVO/CBN, em situações como essa, os inspetores são instruídos a utilizarem apenas balas de borracha. "Nós evitamos o armamento legal. A Guarda Municipal, nesses casos, se utiliza de granadas de efeito moral, granada de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e munição de baixa letalidade", ressaltou.
A morte de um feirante em confronto com a Guarda Municipal em Fortaleza nesta quarta-feira, 18, é investigada pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE). Ainda na manhã desta quarta-feira, 18, o prefeito José Sarto (PDT) garantiu que dará prioridade máxima para achar "alternativa digna" para os feirantes da José Avelino.
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