Cerca de 300 PMs já foram denunciados por envolvimento no motim de 2020
Já foram 65 denúncias ofertadas pelo Ministério Público e mais acusações devem ser feitas. Movimento durou 13 dias e levou a crescimento de 547% no número de assassinatos
20:14 | Jun. 11, 2021
Cerca de 300 os policiais militares foram denunciados criminalmente por participação no motim de fevereiro de 2020, conforme o Ministério Público Estadual (MPCE). São cerca de 65 denúncias já ofertadas, segundo o órgão ministerial. O MPCE ainda ressalta que há previsão de que mais PMs sejam denunciados pelo envolvimento na paralisação. Somente na última semana, 10 denúncias foram ofertadas á Justiça, conforme publicou nesta sexta-feira, 11, o portal Uol.
O motim teve início no fim da tarde de 18 de fevereiro de 2020, quando policiais mascarados tomaram o 18º Batalhão de PM, no bairro Antônio Bezerra. Os militares só voltariam ao serviço em 2 de março. Dentre as reivindicações do movimento, estava o reajuste salarial. Ao término da paralisação, o Governo do Estado se comprometeu, entre outros pontos, a investir R$ 495 milhões com o salário de policiais até 2022. O salário-base de um soldado da PM passará a ser R$ 4.500. Entretanto, o governo não concedeu anistia aos integrantes do movimento, outra reivindicação feita pelos manifestantes durante a paralisação.
Além de PMs que, efetivamente, participaram da paralisação, o MPCE também denunciou aqueles que não impediram a tomada de batalhões, viaturas, entre outros equipamentos. Até mesmo comandantes de batalhões foram denunciados pelo MPCE por não rechaçarem os paredistas.
Também foram denunciados militares que fizeram apologia pública ao movimento, como é o caso do soldado Felipe Lisboa da Costa. No dia 23 de fevereiro, ele interrompeu uma missa em Juazeiro do Norte (Cariri Cearense) para fazer um discurso em prol da paralisação. O discurso foi filmado e publicado nas redes sociais: "Me perdoem por estar atrapalhando esse ato sagrado. [...] Nós, policiais militares, estamos em greve. Não é porque nós queremos, é que foi a última, a última, a última, a última coisa que foi pra gente ser ouvida". A denúncia contra os agentes foi feita no último dia 2 de junho, mas ainda não foi recebida pela justiça.
“Vale ressaltar que neste momento não é possível informar o número exato de policiais militares denunciados pelo MP por envolvimento no motim em 2020, em face de outras denúncias por outros fatos que estão intercaladas”, diz em nota o MPCE. O POVO procurou a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) na tarde desta sexta-feira, 11, para saber quantos procedimentos administrativos foram abertos e quantos PMs seguem afastados. O órgão, porém, respondeu que o sistema que permitiria a consulta estava fora do ar nesta tarde. Em fevereiro último, a CGD havia informado que, passado um ano do motim, 246 PMs respondiam administrativamente e continuavam afastados.
Crimes investigados
Um dos saldos do movimento paredista foi o súbito crescimento do número de homicídios no Estado. O Estado teve 312 assassinatos entre 19 de fevereiro e 1º de março, um aumento de 547% com relação aos 57 crimes ocorridos no mesmo período de 2019 — no que pese 2020 ser um ano bissexto. Conforme O POVO mostrou em fevereiro último, de 112 assassinatos ocorridos em Fortaleza que a reportagem conseguiu localizar os processos judiciais, apenas 11 casos tinham denúncia ofertada pelo MPCE.
Dentre os crimes ocorridos durante o motim que seguem sendo apurados, estão os disparos efetuados contra o senador Cid Gomes (PDT). Ele foi baleado no momento em que tentava avançar em uma retroescavadeira contra o portão do 3º Batalhão de PM, que estava tomado pelos amotinados. O inquérito da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), que apura o caso, segue em andamento. Em 15 de abril último, a Justiça havia dado mais 60 dias para a conclusão da investigação.