Maior tempo de espera por ônibus marca 1º dia de greve em Fortaleza
Ao O POVO, passageiros relataram dinâmicas do fluxo do transporte coletivo público da Capital durante primeiro dia de greve dos motoristas e cobradoresFortaleza registrou movimentação intensa no sistema de transporte coletivo urbano durante esta terça-feira, 8 de junho (08/06), dia marcado por início de greve dos trabalhadores da área. Houve paralisações em alguns pontos da Capital, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). A Justiça determinou que pelo menos 70% da frota seja mantida em circulação durante o período de greve.
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No terminal do Siqueira, quase todas as plataformas estavam lotadas no início da noite. Ao O POVO, passageiros reclamaram de atrasos na chegada dos coletivos. Carlos Alberto, de 53 anos, trabalhador da construção civil, aguardava ônibus para a Messejana, que segundo ele estava atrasado há mais de dez minutos. “Ontem, uma hora dessa, eu já tava perto de chegar em casa. E ainda nem sei se vai demorar mais”, afirma.
Fluxo acima do normal também foi presenciado nas primeiras horas da manhã. Carlos acrescenta que no começo da manhã, ao sair de casa para o trabalho, teve que esperar cerca de 20 minutos a mais, em relação aos dias anteriores, para entrar no coletivo. “Peguei [o ônibus] de 5h20min no terminal de Messejana. E tava lotado, cheio mesmo. Antes, era 5 horas [que o ônibus chegava], no máximo”, conta.
A percepção é compartilhada pelo metalúrgico Usiel Ferreira de Souza, 49, que também precisou usar transporte coletivo no início da manhã. “Estava muito cheio. Todo dia pego um [ônibus] de 5h35min, mas hoje estava muito lotado. Deixei para ir no de 5h40min. Muita gente saiu mais cedo de casa com medo de não encontrar os ônibus”, afirma o passageiro.
O marceneiro Vagner Araújo, 36, também foi afetado pela demora dos coletivos matutinos. “Eu geralmente pego o ônibus de 7h40min, mas hoje ele só chegou faltando 10 para 8 horas”, relata. Por causa do retardo, Vagner chegou atrasado no trabalho e disse ter sido mal compreendido por seu patrão. “Cheguei completamente atrasado na loja. Tive que dar satisfação ao chefe, mas ele não acreditou, me chamou foi de irresponsável”, completa.
O trabalhador afirma compreender as reivindicações dos motoristas, mas discorda da redução de frota. “Eles [os motoristas] têm direito? Tem, com toda razão! Mas se realmente quiserem paralisar, que parem logo tudo de uma vez. Essa de parar um ônibus e outro não, termina prejudicando mais um bairro do que outro”, diz o usuário, que utiliza pelo menos três linhas de ônibus por dia para chegar ao trabalho.
Vagner calcula que, caso haja uma greve com paralisação total, tenha que desembolsar cerca de R$ 40 para completar o trajeto feito no transporte coletivo. “Se tiver greve, os mototaxistas e motoristas de aplicativo vão botar [o preço] na garganta. A gente, que recebe 100 reais de vale-transporte, vai ter condições de pagar R$ 40 reais de Uber por dia?”, questiona.
Na saída do terminal da Messejana, a técnica de enfermagem Antônia da Guia relata que os coletivos estavam demorando a alcançar as paradas fora dos terminais. “Esperei e peguei uma carona, porque demorou bastante o meu ônibus. Vim até uma certa altura e de lá peguei outro ônibus”, conta. No mesmo local, o gari Edson Gomes compartilha com a reportagem que tentou chegar ao trabalho por duas horas. “Passei uma hora esperando no ponto de ônibus perto de casa”, conta ele, que faz o percurso Aerolândia-Papicu-Messejana.
Já no terminal do Papicu, a movimentação estava tranquila por volta de 7 horas da manhã. O fluxo aumentava momentaneamente apenas com o desembarque de quem chegava por meio do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Apesar disso, o pedreiro Ernane Ferreira conta que desistiu de esperar por um ônibus e optou por um carro por aplicativo. “Normalmente já estou lá na firma. Todo dia estou aqui, mas hoje está diferente”, afirma o profissional que aguardava a linha 069 - Papicu/Lagoa/Via Expressa para chegar à avenida Luciano Carneiro.
Greve
Entre as maiores requisições dos motoristas está a inserção do público como grupo prioritário da vacinação. Na última sexta-feira, 4, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará (Sintro) tomou conhecimento que os trabalhadores estariam fora da categoria após deliberação da Comissão Intergestores Bipartite do Ceará (CIB-CE). "Isso revoltou a categoria porque já são cerca de 20 mortes de trabalhadores rodoviários", explica Domingos Neto, presidente do Sintro.
O piso dos motoristas de ônibus no Estado é de R$ 2.270. O reajuste requerido pela categoria em relação a 2020 é de 3%. Já sobre 2021, o reajuste pedido é de 9%. Além da questão salarial, os motoristas pedem reajuste na cesta básica e no vale alimentação.
Outra reivindicação do Sintro é pela volta à antiga operadora dos planos de saúde dos motoristas. "O Sindiônibus trocou o plano pra Unimed sem consultar a categoria. Com essa mudança, trouxe prejuízos no atendimento porque o Hapvida tem uma estrutura maior de locais para atender", explica. (Colaborou: Gabriel Borges)
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