Fortaleza apresenta redução de 67% no número de acidentes de trânsito com mortes
Levantamento realizado pela AMC entre 2016 e 2020 aponta grande redução do número de mortes na Capital
19:07 | Mai. 10, 2021
Desde a última quarta-feira, 5, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) implantou um novo limite de velocidade na avenida Antônio Sales. Sinalizações de 50 km/h já estão espalhadas ao longo da via. A movimentação na via seguia intensa, como de costume, na manhã desta segunda-feira, 10. Por volta das 8h30min, apesar do fluxo contínuo de veículos, a via não registrava engarrafamentos. Em um balanço geral, realizado entre 2016 e 2020, o estudo de avaliação do desempenho da segurança viária para a readequação de limites de velocidade mostrou que houve uma redução de 67% no número de acidentes fatais, além de uma queda de 20,9% de casos com vítimas lesionadas.
A redução tem o objetivo de aumentar a segurança de condutores e pedestres que trafegam entre os trechos que vão desde a av. Aguanambi até a rua Monsenhor Catão. Somando a Antônio Sales, Fortaleza tem atualmente 15 avenidas com o limite de velocidade de 50km/h. São elas: Avenida Abolição, Augusto dos Anjos, Beira Mar, Bernardo Manoel, Dom Luis, Duque de Caxias, Francisco Sá, Frei Cirilo, General Osório de Paiva, Gomes de Matos, Historiador Raimundo Girão, João de Araújo Lima, José Leon. A ideia de AMC é que até o fim do ano, mais 20 avenidas ganhem esse limite de velocidade.
Fortalezenses que costumam utilizar a Antônio Sales para se locomover aprovaram a nova medida. "Com certeza vai ajudar o pedestre, fica uma situação que o motorista vai estar andando mais devagar, por causa da nova velocidade, se acontecer qualquer imprevisto, tem como frear e evitar um acidente. Mas por outro lado, pode ser que atrase um pouco o trânsito para os motoristas", relata Jorge Abreu, 35, comerciante, que trafega com seu carro diariamente pela via. "Acredito que, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, a preferência deve ser do pedestre, então eu concordo com essa redução na velocidade. Sempre têm os dois lados, mas pra mim não muda muito, eu já ando devagar mesmo".
O motorista de aplicativo Luiz Felipe, 32, diz entender as mudanças na avenida. Ele conta que não notou muita diferença no fluxo de carros, desde o último dia 5. "Eu achei a medida razoável. O fluxo de carros é muito grande e, às vezes, necessita de uma velocidade de 60 km/h, mas nessa via, como são três faixas, acredito que não terá muitos problemas por ficar em 50 km/h. Acho que não piorou nesses últimos dias, está bem parecido com o que já acontecia".
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No local, ações educativas estão sendo realizadas com o intuito de orientar os motoristas durante os primeiros dias. Inicialmente, a mudança de velocidade na via terá caráter educativo. Os condutores terão até seis meses para se adaptarem ao novo limite de velocidade. Multas por exceder os 50km/h só deverão ser aplicadas após seis meses da mudança.
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Além dos pedestres, os ciclistas também passam a sentir mais segurança com o novo limite de velocidade. Apesar de não ter notado nenhuma diferença nos últimos dias, o arquiteto Jandson Rodrigues, 26, que utiliza a ciclofaixa da avenida, acredita que medidas como essa são benéficas para todos.
"Não senti nenhuma diferença. Mas acredito que mudanças como essas podem ajudar os ciclistas e quem trafega aqui na via. Esse tipo de ação traz uma menor movimentação para a via, assim, as pessoas conseguem transitar de forma mais segura. Aqui, eu me sinto seguro ao utilizar a ciclofaixa, mas em outras vias, nem tanto, depende muito da rua", comenta.
Próximo ao cruzamento com a avenida Desembargador Moreira, um grande telão de led exibia o número de mortos em acidentes de trânsito na Capital, em 2021. Junto ao número de 64 mortes, estava o pedido "Respeite as leis de trânsito".
A nova velocidade adotada na Antônio Sales faz parte das ações realizadas durante o Maio Amarelo, campanha que conscientiza sobre a segurança no trânsito. De acordo Diego Chaves, gerente de estudos e projetos da AMC, a avenida registrou 600 ocorrências nos últimos cinco anos.
Atualmente, a Capital possui 64 km de vias com velocidade de 50km/h. Na av. Leste-Oeste, a primeira contemplada com a intervenção, houve redução de 40,60% no quantitativo de atropelamentos e de 20,2% no índice de acidentes com vítimas. Em relação a acidentes envolvendo ciclistas, a queda foi de 23,9%. Já a estatística de acidentes fatais reduziu para 34,2%
A reportagem do O POVO também esteve presente na av. Leste-Oeste, na manhã desta segunda-feira, 10. As sinalizações de 50 km/h estão presentes desde 2018 na via, que corta boa parte do litoral de Fortaleza. Próximo à Areninha do Pirambu, o motoqueiro e vendedor de água, Raimundo Nonato, 58, explica que a redução de velocidade trouxe mais segurança.
"A movimentação é sempre intensa, mas essa já é a velocidade normal daqui faz um tempo. A gente sente que reduziu bastante os acidentes aqui, graças a Deus. Desde o começo dessa avenida, perto do Centro, até a Barra do Ceará, não tenho visto acidentes. Eu fico aqui de 10h até 16h e nunca vi acidente por aqui, já estou aqui há quatro anos. Desde que mudaram a velocidade, melhorou bastante", destaca.
Mudanças na cidade
Para o gerente de estudos e projetos da AMC, Diego Chaves, os resultados das ações estão sendo positivos para a cidade.
"É bastante satisfatório, quando a gente faz uma análise, de maneira geral, já reduzimos 13,5% do número de acidentes. Em vítimas fatais [mortes], reduzimos em 67%. Agente tem uma proposta de até o fim do ano, pelo menos, mais umas vinte vias da cidade passem por essa readequação. Fazemos o mapeamento dos acidentes, vemos os adensamentos e observamos os locais que as medidas podem ter o maior o efeito", explica.
Chaves conta que ainda não é possível afirmar onde será a próxima intervenção, mas explica que estudos já estão sendo realizados nas vias de Fortaleza. Ele pede a compreensão dos motoristas durante as transições que ocorrem na cidade.
"Acho que os motoristas devem ter um olhar mais cuidadoso, todos nós, em algum momento, somos pedestres. Estamos em risco quando fazemos esse deslocamento. Essa mudança é uma política mundial, Fortaleza não está inventando, é uma mudança pautada pela ONU, o condutor tem que enxergar por esse lado, é uma medida necessária", finaliza.
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