Edifício São Pedro: abandono, depredações e saques continuam. Veja vídeo de como está o local
O POVO entrou nas duas torres do edifício São Pedro e encontrou rachaduras nas paredes, teto caindo e muito material de valor deixado para trás - parte dele continua sendo saqueado
20:15 | Mar. 24, 2021
Os saques contra o Edifício São Pedro, na Praia de Iracema em Fortaleza, continuam à luz do dia. Na tarde desta quarta-feira, 24, O POVO presenciou novos furtos: uma dupla levava placas de gesso como bem entendiam. Acompanhada de um catador de materiais recicláveis, a equipe de reportagem subiu alguns andares do prédio abandonado para identificar o que restava no local, que já foi símbolo do avanço arquitetônico e hoteleiro da orla de Fortaleza na década de 1950.
Veja vídeo por dentro do Edifício São Pedro
No encontro das avenidas Almirante Barroso e Beira Mar, na entrada principal do antigo Iracema Plaza Hotel, a recepção do estabelecimento conserva uma grande pedra esculpida com desenhos de flores, plantas e coqueiros. Nesta “torre” há espaços mais amplos, de contemplação, outrora o mais alto da orla fortalezense.
O teto está deteriorado e, assim como todo o edifício, tem infiltrações. O chão reúne objetos antigos, como madeiras e gavetas, e também marcas do presente, como várias máscaras, símbolo deste momento da pandemia da Covid-19.
O único caminho possível para ter acesso aos andares seguintes é pelas escadas, parte de madeira e parte de concreto. Algumas entradas foram fechadas com tijolos para dificultar o trânsito nos espaços. Apesar disso, buracos foram abertos e possibilitam pessoas de estatura mediana os ultrapassarem.
No andar acima da recepção, um carpete verde-oliva já fora da posição correta se sobressai em meio aos pedaços de madeiras, gessos, tijolos, ferros e dezenas de papéis. É possível identificar também pilhas de livros, enciclopédias, listas telefônicas, pastas com notas fiscais, prestação de contas, balanços financeiros, orientações para declaração de imposto de renda. Há material desde os anos 1960, boa parte datilografado.
São folhas que levam o nome principalmente da família Philomeno Gomes e da “Philomeno Hóteis S/A”. Em 2015, O POVO mostrou que o São Pedro tinha diversos proprietários: 60% pertencia a uma família, 30% a outra e 10% dele é distribuído entre diversas pessoas.
Na entrada da rua Arariús, é impossível passar pela abertura sem ser molhado pela água que cai do prédio. É por lá o principal acesso dos invasores. As paredes de cerâmica vermelha levam a parte onde há mais apartamentos. Os quartos já não têm mais portas: dos pedaços de madeiras deixados no chão, levaram as fechaduras. Poucos banheiros têm vasos sanitários.
Algumas estruturas de camas e muitos colchões permanecem no local. O POVO encontrou uma pessoa dormindo numa dessas camas. De outro cômodo, um homem saiu levando ferros e bolsas de roupas. Também havia berços, guarda-roupas, vidro quebrado das janelas, álbuns de fotos, sapatos, pedaços de azulejos, telefones, lista de compras. A cor das paredes em alguns compartimentos se mantém forte e dividem espaços com as rachaduras e o teto que aos poucos desaba.
Na segunda-feira,22, O POVO mostrou os saques contra o prédio. Conforme moradores próximos, a prática se intensificou nas últimas duas semanas. Na quarta-feira,24, Alexandre Gentil Philomeno Gomes, um dos sócios majoritários, alegou que funcionários sofreram ameaças de morte e pediu agilidade na autorização do novo prédio.
Numa sucata próxima do edifício, um homem que pediu para não ser identificado afirmou que os furtos começaram há quase três meses. Segundo ele, pessoas passam com carroças várias vezes ao dia levando muitos materiais. Mas se defende e diz que não os compra.
Em nota, a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) afirma que o processo de tombamento do Edifício São Pedro, bem de propriedade privada, segue em fase de análise. Desde 2015, o espaço está sob tombamento provisório. A Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) diz que faz rondas no entorno diariamente e a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) alega não ter identificado população em situação de rua nas áreas internas ou externas do edifício.
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