Edifício São Pedro é alvo de saqueadores na Praia de Iracema

Pioneiro arquitetônico em Fortaleza, Edifício São Pedro está sem segurança

18:15 | Mar. 22, 2021

Por: Ítalo Cosme
Nesta segunda, 23, também teve início a fase de instrução do reconhecimento do Edifício São Pedro para avaliação de tombamento pelo Iphan (foto: FABIO LIMA)

Atualizado em 23/03/21 às 16h

Era frenético o entra e sai o edifício São Pedro, na Praia de Iracema, em Fortaleza, na manhã desta segunda-feira, 22. As pessoas entravam de mãos vazias e saíam carregando pilhas de ferro, metal, cobre, fios, canos, telhas, portas e janelas do prédio mal conservado e descarregavam o material em carroças de lixo próximas, estacionadas na calçada ao lado da igreja de mesmo nome da edificação.

Moradores das redondezas avisaram ao O POVO da situação no local. Lá, os próprios saqueadores confirmaram a prática. Um morador afirmou que o vigia não está mais trabalhando no local há uns dias e, desde então, é recorrente o furtos ao prédio.

"Eles ficam devorando tudo. Depois que tiraram o rapaz que trabalhava aí, aumentaram e muito os roubos. Eles quebraram os cadeados, as portas. A Polícia não sobe no prédio porque não adianta nada", comentou outro residente das proximidades, que pediu para não ser identificado.

Na rua paralela ao prédio, O POVO abordou dois agentes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) que passavam de bicicleta. A dupla faz a segurança na orla de Fortaleza. Questionados sobre a situação do edifício, os policiais afirmaram desconhecer as práticas. Depois de ver a situação in loco, a dupla estacionou os veículos na lateral do prédio, e tentou retirar os indivíduos de dentro da edificação. Sem sucesso.

Em conversa com cerca de cinco homens, que se aproximaram para saber se a equipe de reportagem era da Prefeitura de Fortaleza, todos confirmaram que já haviam subtraído material do prédio. "Não tem mais o que tirar, já levaram foi tudo", diz um deles enquanto um adolescente mais rápido retruca: "Mas toda noite tu tá lá, né?". Todos caem na gargalha. O revide ao menor também foi ligeiro: "Quer dizer que tu também nunca foi?". "Tá de tiração, é?", respondeu o rapaz já incomodado com a brincadeira.

De acordo com um deles, parte do material é utilizado nos próprios barracos de pessoas em situação de rua, principalmente, para encanação. Mas, ele confessa também que a maior parte é vendida. Uma quilo do cobre chega a ser comercializado por até R$30. O material é retirado das paredes do edifício, segundo eles.

Um dos expulsos do prédio pela PM passou ao lado do grupo e, em tom de ameaça, falou: "Qual foi? Estamos só trabalhando!". Conforme relatos, na maioria da vezes, o trabalhador saqueia o São Pedro à noite.

 

O prédio alvo de ataques é de propriedade privada, está em tombamento provisório desde 2015, mas o tombamento passa por revisão. A edificação data da década de 1950. À época, a estrutura foi pioneira no avanço imobiliário verticalizado e no setor hoteleiro na capital cearense.

Um projeto apresentado para o local previa a construção de prédio de mais de 20 andares. Uma parte da atual estrutura seria preservada e outra seria demolida. Veja detalhes aqui.

Em nota, a prefeitura informou que uma equipe da Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e do Desenvolvimento Social (SDHDS) será enviada ao local para verificar o estado da região e oferecer o atendimento necessário caso haja a presença de pessoas em situação de rua. Entre as ações do Serviço Especializado de Abordagem de Rua estão o preenchimento de cadastro, a escuta qualificada e o encaminhamento para rede de saúde e serviço de acolhimento institucional.

A Secretaria Municipal de Cultura (Secultfor) ressaltou que é dever do proprietário do imóvel manter o edifício em bom estado de conservação, devendo comunicar o órgão em caso de furto ou dano ao bem.

Já a Polícia Civil informou que investiga um furto ocorrido no edifício, em que os objetos foram subtraídos durante ação criminosa, segundo informações preliminares. O órgão orienta que os moradores do prédio registrem Boletim de Ocorrência para que os casos sejam apurados. É possível realizar a ação no por meio da da Delegacia Eletrônica (Deletron), em qualquer hora do dia ou da noite.

Saiba mais sobre o projeto que era proposto aqui

Há cinco anos, um dos últimos moradores lamentava a sina que se desenhava.