"A gente não preserva o nosso patrimônio edificado com antecipação", avalia arquiteta após demolição de prédio do Boteco

Para a arquiteta e urbanista Marcia Cavalcante, a demolição é resultado de falta de políticas pública e de participação popular

14:08 | Mar. 18, 2021

Por: Marcela Tosi
Casa da família Jereissati construída nos anos de 1930 foi demolida na manhã desta quinta-feira, 18 (foto: Fabio Lima/O POVO)

Na manhã desta quinta-feira, 18, a casa que pertenceu à avó paterna do senador Tasso Jereissati foi demolida. Localizado na esquina das avenidas Beira Mar e Rui Barbosa, o imóvel - que foi sede do restaurante Boteco Praia - era centro de uma discussão sobre a preservação de patrimônios históricos e culturais em Fortaleza. Para a arquiteta e urbanista Marcia Cavalcante, a demolição é resultado de falta de políticas públicas e de participação popular.

"Infelizmente, a gente não preserva o nosso patrimônio edificado com antecipação. O que aconteceu aí é mais uma mostra de um susto de última hora que a população teve por não participar desses processos de aprovação de patrimônios que marcaram toda uma era na Cidade", analisou em entrevista à jornalista Maísa Vasconcelos na Rádio O POVO CBN. "Este bagalô, como outros que a gente tem na Praia de Iracema, representou um período da nossa história onde as casas migraram para a Beira Mar."

LEIA MAIS | Desaparecimento da arquitetura moderna em Fortaleza amplia debate sobre memória, pertencimento e educação patrimonial

Marcia, que é coordenadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a casa era "uma edificação bastante característica, que merecia ser avaliada a sua permanência como um marco da nossa história urbana". "Temos vários marcos que têm sido demolidos por falta de uma preservação maior e até mesmo de uma conscientização da população. É falta de participação popular nesse aspecto da Cidade", pontua.

Como exemplo das disputas entre apagamento e preservação da história urbana de Fortaleza, a arquiteta cita a Mansão Macêdo, que abrigava jardins desenhados por Burle Marx. O local foi parcialmente destruído em junho de 2020. Outro exemplo é a Vila Vicentina, no bairro Dionísio Torres, que hoje se mantém em pé.

Segundo a professora, é urgente que Secretaria de Cultura de Fortaleza realize um levantamento das construções que devem ser mantidas para que a Capital tenha um mínimo de sua história. "Nossa Cidade aumentou muito e está se renovando, mas essa renovação tem que preservar algumas edificações que representem a nossa evolução urbana. É preciso mostrar que temos história", conclui.