"A volta inteira com o revólver apontado pra mim", diz o áudio encontrado no celular de mulher morta por companheiro
Apontado como autor do crime, o cabo PM Manoel Bonfim dos Santos Silva, teve uma defesa alegando insanidade mental e o processo está suspenso. A família da vítima pede celeridade no caso e quer o agente de segurança fora da PMCE
22:06 | Fev. 22, 2021
Quatro meses depois do crime que vitimou Ana Rita Tabosa Soares, os parentes divulgaram áudios do aparelho celular dela, que descrevem situações ameaçadoras vividas durante o relacionamento com o suspeito do crime, o cabo da Polícia Militar do Ceará, Manoel Bonfim dos Santos Silva. A mulher foi morta a tiros no dia 8 de outubro dentro de um automóvel na avenida Silas Munguba, Serrinha, em Fortaleza. O casal voltava de uma churrascaria. A defesa alega insanidade mental e o processo foi suspenso.
"Quando ele chegou em casa aqui ontem do nada ele se arrumou e dizendo que ia embora para não fazer merda. Eu vendo ele com o revólver apontado pra mim e eu vendo a hora dele atirar. Eu não sei quem foi que pegou ele aqui. Eu sei que ele não está em casa, pois sei que o irmão dele perguntou por ele. Enfim", diz em um dos áudios.
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"Na volta inteira o revólver apontado pra mim. Ele ficava tipo dançando e o revólver apontado. E o revólver dele não tem trava, porque tem que ser muito ágil. Por um fio eu vi uma merda acontecer", relata em outro áudio enviado a uma amiga.
De acordo com uma familiar de Ana Rita, o casal estava junto há dois anos. Bonfim foi morar com a vendedora de loja de joias. Ela já vivia com a filha de 13 anos e a mãe, aposentada. Aparentemente, os dois eram felizes. No entanto, após o crime, os parentes começaram a pesquisar e descobriram que Rita vivia um relacionamento abusivo e cheio de situações ameaçadoras, que foram cumpridas no dia do crime.
Ana havia se afastado das amigas, o companheiro não aceitava a aproximação das colegas. Ela deixou o emprego na joalheria para dar mais atenção ao Bonfim e buscava um trabalho que a deixasse de folga nos fins semana, ela queria estar presente na vida de Bonfim, que gostava de festas e barzinhos.
O objetivo de Ana Rita era que ele se divorciasse oficialmente da ex-companheira para que os dois pudessem se casar perante a Justiça. No dia do crime, Bonfim havia saído de casa com a documentação afirmando que iria na Associação de Cabos e Soldados para dar entrada na separação. No entanto, ele foi para um bar e o casal teve uma longa discussão.
A tarde, ambos foram para uma churrascaria no intuito de conversar. A noite seria aniversário de uma das filhas do agente de segurança. No estabelecimento, o casal discutia e a confusão era percebida por todos.
Áudios de WhatsApp
As fotografias dos dois eram na praia, em eventos, no carro e ambos pareciam felizes. As imagens escondiam o que a vítima estava passando. Os relatos sobre o comportamento do cabo da PM eram descritos de forma confidencial a algumas amigas. Sempre relatando momentos em que o policial usava a arma para ameaçá-la.
Nas mensagens escritas, também no aplicativo WhatsApp, de dois meses antes do crime, ela tentava terminar o relacionamento e afirmava que havia perdido a confiança no companheiro. Ana descrevia que estava com crises de pânico e chorava de lembrar o que havia passado com o PM.
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Luta na Justiça
Bonfim foi preso em flagrante no dia do crime. Ele está, atualmente, no quartel do 5º Batalhão da Polícia Militar, recolhido. A defesa do agente de segurança alegou insanidade mental e o processo foi suspenso. A família da vendedora juntou uma série de atestados médicos de Bonfim em que ele apresenta problemas de saúde, no entanto, nenhum desses documentos faz referência a problemas psicológicos.
Para os parentes da vítima, esses documentos seriam um indício de que o PM não possui insanidade mental e que deve ser julgado, expulso da Polícia Militar do Ceará e perder todos os benefícios. Conforme familiares da vítima, caso seja comprovada a insanidade mental dele, o policial deve ser aposentado e continuará no quadro de pagamentos da PMCE.
CGD
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) se manifestou por meio de nota informando que em referência ao processo disciplinar para apuração na seara administrativa, conforme portaria anteriormente publicada no Diário Oficial, o PM encontra-se na fase de instrução processual. O policial militar está afastado.