Dandara será nome de rua em Fortaleza e Ceará ganhará primeira via em homenagem a uma travesti
O projeto que regulamenta a nomeação de uma rua em Fortaleza em homenagem a Dandara dos Santos foi aprovado nesta quarta-feira, 9, pela Câmara Municipal de FortalezaDandara dos Santos, travesti, vítima de transfobia e morta brutalmente no ano de 2015 em Fortaleza, será homenageada com o nome de uma rua no bairro onde foi assassinada, no Bom Jardim. O projeto que regulamenta a homenagem foi aprovado nesta quarta-feira, 9, pela Câmara Municipal de Fortaleza. Quase quatro anos após perder a vida, Dandara será a primeira travesti a dar nome a uma rua no estado do Ceará.
O vereador Ronivaldo (PT) é o autor da proposta 64/2019 que regulamenta a nomeação da rua como Dandara Ketteley, em referência a forma como ela gostava de ser chamada. Ronivaldo destaca o simbolismo da nomeação da rua como uma ato de justiça.
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“Nos sentimos na obrigação de registrar na memória da cidade seu nome, para que nunca esqueçamos o direito à dignidade e o respeito que devemos ter com essa população, que é negligenciada pelo poder público”, declarou o vereador.
A proposta, além de prestar homenagem a Dandara, é também “conscientizar sobre a necessidade de políticas públicas que promovam a proteção e a cidadania de todas e todos”, conforme reforçou o Legislativo municipal na reunião que aprovou o novo nome do logradouro.
Nas justificativas dos votos a favor do projeto, Dandara chegou a ser mencionada como um símbolo de resistência e luta contra a intolerância e o desrespeito sofridos por mulheres trans e demais LGBTQI+.
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Mitchele Meira, integrante da Liga Brasileira de Lésbicas e do Fórum Cearense LGBT, ao comentar sobre a homenagem, frisa que a necessidade de que o caso seja constantemente lembrado para que “não aconteçam novas atrocidades”. Mitchele pontua ainda que a rua passará a ser símbolo da resistência contra o genocídio trans e agradeceu a iniciativa. Em 2017, o dia da morte de Dandara foi instaurado em todo o Ceará como o Dia Estadual de Combate à Transfobia.
A nomeação da rua ganha um fundo ainda mais simbólico quando comparado ao índice de violência contra pessoas trans do Ceará. Estado é apontado como o segundo mais perigoso para trans e travestis em todo o Brasil, de acordo com relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Entre 1º de janeiro e 31 de outubro de 2020, em todo território cearense, foram registrados 19 assassinatos de pessoas trans. Ceará fica atrás apenas de São Paulo, onde, no mesmo período, tiveram 21 registros de assassinatos travestis e transexuais.
O ASSASSINATO DE DANDARA DOS SANTOS
O crime contra Dandara foi gravado e 16 dias depois do ocorrido foi divulgado nas redes sociais. O ataque de um grupo de 12 homens contra ela teve repercussão nacional e internacional, gerando debates sobre a necessidade da intervenção do Estado diante das estatísticas de assassinatos e demais crimes violentos contra pessoas trans.
A morte da travesti ocorreu no dia 15 de fevereiro de 2017, após ser brutalmente espancada com socos, chutes, pedradas e pauladas por um grupo de doze homens, incluindo quatro adolescentes. Eles ainda arrastaram o corpo de Dandara pela rua e então realizaram uma série de disparos de arma de fogo contra ela, que constantemente pedia ajuda. Apenas seis envolvidos se tornaram réus do assassinato.
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O inquérito final da Polícia Civil do Ceará concluiu que o crime teve participação de 12 pessoas, sendo oito adultos, identificados como: Francisco José Monteiro de Oliveira Júnior, Jean Victor da Silva Oliveira, Rafael Alves da Silva Paiva, Júlio Cesar Braga da Costa, Isaías da Silva Camurça, Jonatha Willyan Sousa da Silva, Francisco Wellington Teles e Francisco Gabriel Campos dos Reis; e quatro adolescentes, que chegaram a ser apreendidos. O último adulto foragido foi preso em fevereiro de 2019.