Operação Gênesis: policiais extorquiam traficantes e revendiam armas e drogas, aponta investigação
Investigação começou ainda em 2016. Além dos policiais civis e militares, nove suspeitos de tráfico de drogas e um ex-policial militar são alvos da operação
10:26 | Out. 16, 2020
Dezesseis mandados de prisão e 16 mandados de busca e apreensão são cumpridos nesta sexta-feira, 16, em Fortaleza e Caucaia contra organização criminosa que extorquia traficantes em troca de vantagem indevida. Policiais civis e militares eram membros do grupo. A segunda fase da Operação Gênesis foi deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Ceará, por meio do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Ação é fruto de investigação que começou ainda em 2016. Operação tem apoio da Coordenadoria de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), do Departamento Técnico Operacional (DTO) da Polícia Civil, da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e do Comando da Polícia Militar.
O promotor de Justiça Adriano Saraiva explica que, nessa segunda fase, além do modus operandi do grupo criminoso ser idêntico ao da primeira, eles não se limitaram apenas à pratica de extorsões. Além disso, havia comércio de entorpecentes e comércio ilegal de armas de fogo.
"O esquema funcionava assim: os policiais militares e policiais civis se reuniam com informantes. Esse informante escolhia um traficante e era feita simulação da compra de droga", explica. "Nesse momento, o traficante era abordado e era feita a extorsão, oferecida a vantagem indevida". Saraiva afirma que além de receber o dinheiro, os policiais apreendiam a droga e as armas e revendiam esse material ilícito. Ainda conforme o promotor de Justiça, ficou constatada movimentação de mais de R$ 2 milhões oriundos da revenda.
A SSPDS confirmou que, além dos três policiais civis e três policiais militares, nove suspeitos de tráfico de drogas e um ex-policial militar são alvo da operação. Em nota, a pasta "reforça que não compactua com desvios de conduta e atua em parceria com MPCE desde o início das investigações".
Também por meio de nota, a CGD afirma que "já determinou a instauração de procedimentos disciplinares em desfavor dos policiais envolvidos nos fatos apurados na investigação".
Investigação
Em 2016, o objetivo da investigação era desvendar as ações delituosas de grupos ligados a organizações criminosas, responsáveis pelo tráfico de drogas e armas, assaltos e homicídios na capital cearense e região metropolitana. Na primeira fase da Operação Gênesis, os agentes públicos de segurança que integravam a organização criminosa investigada agiam no exercício de suas funções e se utilizavam do aparato estatal para cometer ilícitos.
Durante a investigação, no primeiro semestre de 2017, entre os meses de abril e agosto, foi possível identificar outras condutas delituosas envolvendo agentes da segurança pública com traficantes, que se estruturaram de forma organizada para realizar vários crimes e foram objeto dessa segunda fase da operação.
A organização criminosa desarticulada nesta segunda fase da operação agia com modus operandi idêntico ao grupo denunciado na primeira fase, formada eminentemente por policiais e seus informantes, que se articulavam com o intuito de extorquir e espoliar as vítimas, que, na maioria das situações, eram selecionadas porque já delinquiam.