PM preso em flagrante por matar esposa estava "louco" e "muito alterado", disse a vítima em ligação pouco antes de ser morta

Familiares desabafam e relatam os últimos momentos da vítima, que foi morta na noite dessa quinta-feira, 8, em Fortaleza. PM teve a prisão provisória decretada nesta sexta, 9

20:19 | Out. 09, 2020

Por: Redação O POVO
Casal fazia planos juntos (foto: Arquivo pessoal)

Na noite dessa quinta-feira, 8, um policial militar (PM) foi preso em flagrante por matar, com quatro tiros, a companheira dentro de um carro, na avenida Silas Munguba, no bairro Serrinha, em Fortaleza. A vítima ligou para mãe pouco antes de ser morta e contou que o PM estava "louco" e muito "alterado". Policial teve a prisão provisória decretada nesta sexta, 9.

Manuel Bonfim do Santos vivia com Ana Rita há cerca de dois anos. Segundo conta uma parente da vítima, que não será identificada por motivos de segurança, Rita tinha medo de se relacionar, mas Bonfim fez com que ela confiasse e se apaixonasse por ele.

"Eu nunca tinha visto ela tão feliz em um relacionamento (...) Ela acreditava que nunca ia encontrar ninguém porque achava os homens muito machistas, mas via ele como sendo do bem", destacou a familiar. Ainda segundo o relato, Bonfim conquistou a confiança da vítima e foi morar em sua casa, onde também residem a filha que Ana teve em outro relacionamento, uma criança de apenas 11 anos, e sua mãe.

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Um outro familiar da vítima destacou que o relacionamento que ela tinha com Bonfim era digno de "novela", garantindo que eles planejavam a vida juntos e que nenhum parente de Ana Rita imaginava o "desfecho trágico" que a história teve. No entanto, o homem andava armado e bebia, o que preocupava algumas pessoas próximas.

Últimos momentos da vítima

Segundo relatos de uma parente que convivia muito com Ana Rita, Bonfim está em processo de divórcio da ex-esposa, com a qual tem uma filha de 15 anos. O aniversário da adolescente foi comemorado na noite do crime, dia em que o homem também assinaria os documentos para a sua separação.

Naquele dia, no entanto, Manuel informou à Ana que não assinaria papéis e isso fez com que eles brigassem. Depois de jantarem com a filha de Bonfim, o casal teria deixado a garota em casa e, no meio do caminho, iniciado uma nova discussão.

De acordo com o relato, o policial ligou para a mãe de Ana Rita e pediu para que ela fosse buscá-la ainda quanto estavam no restaurante. No meio do caminho, a mulher ligou para a vítima e ouviu dela que Bonfim estava "louco", muito "alterado".

Quando a mãe de Ana Rita cruzou a Silas Munguba, já encontrou a avenida interditada, com o corpo da filha caído dentro do próprio veículo. A essa altura, Bonfim já havia sido preso em flagrante pelos policiais, sendo levado à Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza e autuado por feminicídio.

Na tarde desta sexta-feira, 9, um laudo preliminar da Policia Civil (PC), divulgado por parentes da vítima ao O POVO, revelou a violência da ação e Bonfim teve a prisão provisória decretada pelo Poder Judiciário. Segundo documento, o homem efetuou quatro disparos na cabeça da mulher, sendo um deles à queima-roupa e atravessando o olho dela.

"A família toda está em choque. Todos muito assustados. Todos muito revoltados com mais um caso de feminicídio. A gente nunca espera que vai acontecer dentro da sua família. Queremos que ele responda pelo que fez e que seja reconhecido como o crime que foi. Que foi um feminicídio", destaca uma parente.

"Ela era muito gente boa, dada, simpática, bem comunicativa, alegre, uma pessoa que não merecia um desfecho tão trágico. A família tá revoltada com essa situação. Como cala palavras com bala? E isso vindo de uma pessoa que tem treinamento para usar a arma?", questiona, emocionado, outro parente.

O "perigo" mora dentro de casa

Nas fotos disponibilizadas por parentes de Ana Rita, Bonfim aparece diversas vezes abraçado com ela, com seus familiares e aparentando ser alguém "muito querido" por todos. Naquelas imagens, ninguém parece desconfiar que o PM seria capaz de cometer o crime pelo qual foi responsável.

Esse choque que os parentes de Ana Rita estão enfrentando, no entanto, é realidade de muitas famílias. De acordo com Jeritza Lopes, defensora publica e supervisora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Defensoria do Ceará (Nudem-DPCE), a maioria dos crimes de violência doméstica é cometido pelo parceiro da vítima.

"Temos que compreender que a causa fundamental da violência doméstica é o machismo. Essa ideologia de dominação faz com que homens se sintam à vontade para cometer qualquer tipo de agressão contra a mulher (...) A casa deveria ser o local de proteção, mas infelizmente é o lugar onde as mulheres correm mais perigo", destaca a defensora.