IBGE: Menos da metade das famílias do Nordeste tiveram acesso pleno e regular aos alimentos
Região tem o segundo pior resultado do País, superando apenas o Norte que tem ainda menos domicílios em situação de segurança alimentar (43%)
11:01 | Set. 17, 2020
Com o segundo pior resultado do Brasil, o Nordeste tem 49,7% de domicílios em situação de segurança alimentar, de acordo com a “Análise da segurança alimentar no Brasil” da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada nesta quinta-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, no período analisado, menos da metade dos nordestinos tiveram acesso pleno e regular aos alimentos, em quantidade e qualidade.
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O índice registrado do Nordeste só não é mais crítico que o da região Norte, onde a cobertura de segurança alimentar foi ainda mais baixa, ficando em 43%. A média brasileira de domicílios com acesso à alimentação adequada foi de 63,3%, conforme a pesquisa do IBGE.
O levantamento visa inferir sobre a situação de segurança ou insegurança alimentar existente nas famílias do Brasil com as características do orçamento doméstico e o modo de viver das famílias. São analisados graus leve, moderado e grave de insegurança alimentar.
Foram consideradas para a análise pelo menos 17,8 milhões de famílias nordestinas, das quais 8,98 milhões relataram vivenciar algum tipo de incerteza ou preocupação com relação ao acesso à alimentação diária. Cerca de 1,97 milhão de lares do Nordeste foram atingidos pela fome, levando em conta a categoria o nível grave de insegurança alimentar.
Assim, observando os resultados, é possível dizer que o Nordeste teve o segundo percentual mais elevado de domicílios particulares onde a fome esteve presente, com prevalência de insegurança alimentar grave de 7,1%. Os outros maiores indicadores estão no Norte (10,2%) e Centro-Oeste (4,7%) do País.
Além disso, a proporção de insegurança leve foi observada em cerca de um terço dos domicílios particulares das regiões Norte (31,8%) e Nordeste (29,8%), indicando um número elevado de moradores vivendo com a preocupação ou incerteza na manutenção do acesso aos alimentos, assumindo estratégias que comprometeram a qualidade da dieta e a sustentabilidade alimentar da família.
Os percentuais de insegurança moderada e grave também foram maiores no Norte e Nordeste. O Norte teve cerca de cinco vezes mais domicílios convivendo com a restrição severa de acesso aos alimentos, ou seja, com insegurança alimentar grave, quando comparada com a Sul (10,2% contra 2,2%).
Analisando ainda as despesas totais nos domicílios nordestinos, fica evidente que gastos com outras necessidades básicas como Assistência à saúde, Habitação, Transporte e Educação diminuem progressivamente conforme o nível de insegurança alimentar aumenta.
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Desigualdade regional histórica
Em 2017-2018, a POF estimou um total de 68,9 milhões de domicílios particulares permanentes no Brasil. Dentre esses, 63,3% estavam em situação de segurança alimentar enquanto 36,7% domicílios particulares restantes tinham algum grau de insegurança.
Neste período, a proporção de domicílios em insegurança alimentar leve foi de 24%, sendo que 8,1% dos domicílios particulares estavam no nível moderado e 4,6% em situação grave de privação alimentar.
Os resultados da POF 2017-2018 apontam que cerca de 3,1 milhões de domicílios brasileiros passaram por privação quantitativa de alimentos, que atingiram não apenas os membros adultos da família, mas também suas crianças e adolescentes.
Em contraposição com os dados encontrados no Norte e Nordeste do País, no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%), mais da metade dos seus domicílios encontravam-se em situação de segurança alimentar, ficando todos acima da média nacional de 63,3%.
Reforçando o cenário de desigualdades regionais, a insegurança alimentar grave esteve presente em menos de 5% dos domicílios das regiões Sudeste (2,9%) e Sul (2,2%). Ao longo dos anos, Norte e Nordeste continuam apresentando as menores proporções de domicílios com segurança alimentar.
De acordo com o IBGE, o cenário de disparidades no acesso aos alimentos no País é verificado desde as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) de 2004, 2009 e 2013 e continuam presentes na POF 2017-2018.
No que diz respeito à manifestação mais intensa de insegurança alimentar, que caracteriza a fome, o IBGE aponta sua prevalência ao longo da série histórica nas regiões Norte e Nordeste. Por outro lado, no Sul e Sudeste, no mesmo período, esta prevalência não chegou a 5%.
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País tem redução de domicílios em situação de segurança alimentar
O IBGE indica que, após a tendência de aumento da segurança alimentar entre os anos de 2004, 2009 e 2013, esta pesquisa mais recente foi marcada pela redução na prevalência de domicílios particulares brasileiros que tinham acesso a alimentação de seus moradores de forma adequada, tanto em quantidade quanto em qualidade.
Na POF 2017-2018, 63,3% dos domicílios no País garantiram o acesso à alimentação adequada, proporção inferior ao valor de 2004 (65,1%), época da primeira avaliação da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) no Brasil, e 18,2% inferior a 2013.
Por outro lado, tem ocorrido aumento de forma expressiva de todas os graus associados à situação de insegurança alimentar, que vinham num cenário de redução. Comparando com 2013, o nível leve passou para 24%, o que corresponde a um aumento de 62,2%.
Já em relação a 2004, houve aumento de 33,3% da forma mais branda da insegurança alimentar. Nos últimos cinco anos, entre 2013 e 2018, também aumentaram as prevalências dos graus mais severos de insegurança alimentar no cenário nacional, tanto em nível moderado (76,1%) como grave (43,7%).
Graus de insegurança alimentar
De acordo com as classificações estabelecidas pelo IBGE, a insegurança leve corresponde a preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro e a qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias para não comprometer a quantidade de alimentos em uma família.
Por sua vez, o grau moderado de insegurança indica redução quantitativa de alimentos entre os adultos ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.
Já a insegurança alimentar grave refere-se à redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
Sobre a pesquisa
As Pesquisa de Orçamentos Familiares (POFs) do IBGE combinam um período de coleta de 12 meses com períodos de referência de até 12 meses, adotado para alguns itens de despesa e para os rendimentos.
Desse modo, as informações se distribuem em um período total de 24 meses. A data de referência fixada para a compilação, análise e apresentação dos resultados da POF 2017-2018 foi 15 de janeiro de 2018.