Cobertura vacinal de rotina diminui no Ceará no primeiro semestre de 2020
Vacinas BCG, pneumocócica e menigocócica C tiveram quedas consideráveis de cobertura em comparação com 2019. Sesa atribui mudança aos efeitos da pandemia
16:04 | Set. 03, 2020
A cobertura vacinal no Ceará caiu em algumas das principais vacinas de rotina no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019. No caso da vacina BCG, que previne tuberculose, essa diferença chega a mais de 45 pontos percentuais. Isto é, enquanto em 2019 o Estado teve 98,07% de cobertura entre janeiro e junho, neste ano o índice foi de 52,71% nesses seis primeiros meses, segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
Os dados da pasta mostram também que a vacina pneumocócica alcançou 100,5% de cobertura em 2019 contra 73,39% neste ano. O imunizante protege contra doenças como pneumonias e meningites. Outras vacinas como menigocócica C, pentavalente, poliomielite, rotavírus humano e tríplice viral também apresentaram reduções consideráveis em sua cobertura.
Na avaliação de Carmem Osterno, coordenadora de Imunização da Sesa, as quedas nas coberturas vacinais têm influência direta da pandemia do coronavírus, que impôs medidas de distanciamento social.
“Muitos profissionais tiveram que se afastar por fazer parte do grupo de risco e serem idosos, com alguma comorbidade. A equipe de saúde reduzida também não podia fazer visitas em casa. A população ficou com medo de sair para as unidades. Tudo isso influenciou”, aponta.
Ela afirma também que a suspensão das aulas presenciais impactou diretamente na vacinação contra o sarampo, a meningite e o HPV. Geralmente, as equipes da Sesa buscam os grupos alvos dessas vacinas nas escolas e consegue autorização dos pais para chegar à cobertura ideal de prevenção.
A Campanha de Vacinação Contra o Sarampo se encerraria em 30 de junho, mas foi prorrogada pelo Ministério da Saúde até 31 de outubro. Conforme a Sesa, de março até agosto deste ano foram aplicadas 137.986 doses da vacina contra o sarampo no público alvo de 20 a 59 anos.
Na Capital, já foram vacinadas 43,3 mil pessoas desde a primeira fase da campanha, iniciada em outubro de 2019, até o momento segundo informou a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
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A coordenadora de Imunização garante que a Sesa mantém contatos mensais com as regionais e os 184 municípios do Estado. Osterno também assegura que todas as 2.631 salas de vacina no Ceará estão com estoques de vacinação abastecidos.
A exceção é para a vacina pentavalente que teve lotes suspensos pelo Instituto Nacional Controle Qualidade em Saúde (INCQS) em 2019 e está sendo distribuída aos poucos por outro laboratório aprovado na licitação.
Ainda de acordo com Osterno, existe uma orientação para que os municípios façam agora um monitoramento rápido da cobertura. Esse processo colabora para que cada cidade saiba como está a cobertura vacinal por micro área. Com essa identificação, é possível agir com a vacinação mais direcionada.
“Precisamos colocar que as unidades estão abertas, funcionando normalmente. Procurem as unidades de saúde. É importante que as pessoas não vacinadas no período de isolamento social façam isso agora”, alerta à população.
A coordenadora ressalta que o serviço de vacinação não foi suspenso durante a pandemia, mas ações como visitas domiciliares e monitoramento casa a casa tiveram de ser interrompidos. Segundo ela, isso começa a se normalizar totalmente em setembro com a volta gradual de profissionais da saúde que estavam afastados.
Para o imunologista Edson Teixeira, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), o medo das pessoas de sair de casa para ir até as unidades de saúde se justifica pela gravidade da pandemia ainda observada no Brasil.
Contudo, ele concorda que a situação epidemiológica no Ceará está mais controlada. Assim, já é possível sair para colocar a vacinação em dia ou para um consulta de rotina agendada, tendo todos os cuidados de higiene necessários. “Mantendo todo cuidado em relação ao uso de máscara, distanciamento social, lavagem de mãos, álcool gel, e evitando colocar as mãos no olhos, já é possível ir às unidades de saúde”, considera.
Vacinação para o bem coletivo
Recentemente, uma ação da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) trouxe à tona a discussão sobre a obrigatoriedade da vacinação. Uma peça publicada nas redes sociais dava destaque à declaração do presidente Jair Bolsonaro em oposição à obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19.
O imunologista Edson Teixeira acredita esse tipo de questionamento sobre a necessidade da vacina é um desserviço para a sociedade. “Temos um vasto material que demonstra o papel das vacinas como instrumento que melhorou a vida da humanidade. Negar isso ou acreditar em conspirações de que vacina faz mal depois de passar por todos os testes necessários, é trabalhar fora do campo da ciência”, aponta.
O especialista reitera que a prevenção proporcionada pelas vacinas representa qualidade de vida para milhões de pessoas, além de impactar positivamente na economia. Ao se vacinar, a população evita adoecer e isso implica também em menos gastos na saúde.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta de graça 19 vacinas que protegem contra mais de 40 doenças, entre elas o sarampo. O Ministério da Saúde disponibiliza a orientação detalhada sobre o calendário de vacinação ideal para crianças, adultos, adolescentes, idosos, gestantes e povos indígenas.
Confira algumas doenças preveníveis com vacinas de rotina:
BCG
Previne formas graves de tuberculose, meníngea e miliar.
Menigocócica C
Pode prevenir doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C.
Pentavalente
Previne difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae B e Hepatite B
Pneumocócica
Previne pneumonias, meningites, otites, sinusites pelos sorotipos que compõem a vacina.
Poliomielite
Atua na prevenção da poliomielite, doença que causa paralisia e pode ser fatal.
Tríplice Viral
Previne sarampo, caxumba e rubéola.