2020: o que fazer para tentar retomar metas e encarar o fim de um ano totalmente atípico
Psicólogas recomendam reorganizar planos considerando as limitações atuais e exercitar a flexibilidade, fracionando as metas em pequenos objetivos
O ano de 2020 aconteceu às pressas diante de nossos olhos. Contudo, a pouco menos de quatro meses para o fim do ano, a sensação é de que não conseguimos fazer muita coisa. Afinal, quem esperava por uma pandemia que traria abalos emocionais, econômicos e sociais para o mundo? Agora o desafio que se tem é o de replanejar metas, tentar retomar planos e encarar o desfecho de um ano totalmente anormal da melhor forma possível.
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Nesse cenário pessimista, sentimentos de frustração e impotência são recorrentes entre as pessoas em maior ou menor proporção, como considera a psicóloga clínica e terapeuta de família Joana Vidal. “Para lidarmos com isso é preciso aceitarmos que as limitações existem. Quem tem uma maior capacidade e está aberto à flexibilização e resiliência lidará melhor com a frustração”, avalia.
Valorizar qualquer pequena conquista em meio ao caos que 2020 trouxe também é uma alternativa para lidar com essa sensação de desapontamento. A indicação é da psicóloga clínica Vivianne Paixão. “Os planos, se valem mesmo à pena, podem ser realizados em outros momentos, e não necessariamente com a data de 2020. Se não deu certo, não posso adiar? Viver lá na frente?”, propõe.
A também psicóloga clínica Luanna Cavalcante lembra que é natural sentir tristeza ou aborrecimento diante de algumas expectativas não realizadas, mas ressalta que a pandemia trouxe uma conjuntura que fugia ao controle de todos.
“Pensar em eliminar totalmente essa frustração é muito difícil, mas o que a gente pode tentar fazer é ter uma tolerância maior. Ver os problemas em relação à pandemia como uma oportunidade, por exemplo, para agir de um jeito diferente”, pondera.
Ainda dá tempo de reorganizar as metas?
Para as especialistas ouvidas pelo O POVO, é sempre possível resgatar metas pessoais. Não é necessário esperar um novo ano para se replanejar e traçar novos planos. Mas no cenário atípico que o mundo enfrenta, é preciso fazer isso com um olhar mais flexível. Isto é, levando em conta possíveis adaptações ou mudanças e considerando questões financeiras e de saúde física e mental.
“Para resgatar o ânimo com relação aos planos é preciso ter em mente que esse momento irá passar, buscar o apoio de amigos e familiares, fazer coisas que lhe dê sentido e, caso seja necessário, buscar ajuda de um psicólogo”, recomenda Joana Vidal.
Outra dica, além de estar aberto a possíveis ajustes, é estabelecer quais são as metas prioritárias hoje e o que vai trazer saldos mais positivos na vida. Depois disso, a psicóloga Luanna Cavalcante recomenda “fracionar” o que precisa ser feito em pequenas etapas.
“Se eu pensar só no resultado final, isso pode ser um fator para diminuir o meu ânimo, porque de repente é algo muito grande que demanda muito esforço. Mas se eu parcelar esse esforço, aumento a probabilidade de alcançar essa meta”, afirma.
Por exemplo, se alguém busca um emprego novo, precisa pensar: como dividir essa meta em pequenos objetivos? E a partir daí, calcular que ações são oportunas para chegar ao objetivo. Se já tem a capacitação necessária, se é preciso fazer um curso complementar, ou se basta enviar mais currículos.
Como encarar o fim de 2020
Um ano de perdas diversas: é essa a lembrança que muitos podem imaginar como a única cabível para 2020. Famílias perderam entes queridos, estabilidade financeira, empregos e até mesmo a liberdade de ir e vir ficou limitada. A rotina não é a mesma de antes, e isso deve perdurar por algum tempo.
A psicóloga Vivianne Paixão compara os danos diversos sofridos nesse período a diferentes processos de luto. “Cada pessoa vai encarar de uma forma. Existe a necessidade de reconfigurar os planos e ver o que vai saindo de possibilidades a partir disso. Sair da paralisia e continuar se movimentando minimamente”, reflete.
Vivenciar esse sentimento de luto também faz parte do processo de cura, segundo analisa Joana Vidal. Ela lembra das múltiplas iniciativas de solidariedade que surgiram no País, com profissionais das mais diversas áreas se voluntariando, vizinhos se ajudando e amigos se apoiando.
“Olharmos para esse outro movimento que surgiu é essencial para trazermos um pouco de esperança e confiança neste novo ano que virá. Rever as prioridades da vida está perto de quem verdadeiramente importa. Fazer aquilo que realmente nos dá sentido, pode nos ajudar a passar por esse momento tão atípico que estamos vivenciado”, direciona a psicóloga.
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Confira as recomendações para recomeçar depois de 2020:
O sentimento de recomeço é muito presente quando pensamos em um novo ano. Contudo, temos de levar em consideração que a pandemia não está 100% superada. Teremos impactos futuros, economicamente e psicologicamente. É interessante essa compreensão para encarar esses últimos meses e o próximo ano com metas e planos mais realistas, que estejam de acordo com o contexto social que estamos vivendo.
É preciso fazer uma avaliação sobre o que deve ser reorganizado. Colocar no papel e fazer uma reflexão. Sempre é momento de refletir sobre nossas ações, planos e metas. Lembre-se: cada pessoa tem o seu tempo nesse processo de reorganização. A ansiedade pode ser uma mola propulsora para essa mudança, desde que ela não seja em excesso, o que pode gerar um adoecimento.
É importante não correlacionar qualquer outra frustração com o fracasso. Frustração é um desejo não realizado naquele momento, por conta de algum problema ou obstáculo. Neste ano, o obstáculo pode ter sido a pandemia. Porém, isso não se define como um fracasso.
Coloque o foco nas coisas que estão sob seu controle; a pandemia é algo fora disso. No entanto, pequenas ações como colaborar usando máscara, cumprindo o distanciamento social, e usando álcool em gel podem ajudar todos a superar esse momento o quanto antes. Começar a compreender e se adequar é a melhor opção.
Recomece se planejando por aquilo que pode trazer maior impacto positivo na sua vida. Pense em tudo o que gostaria de realizar e volte atenções para concretizar a meta mais prioritária. Para isso, divida essa meta em pequenos objetivos. Isso deve ajudar a avançar aos poucos.
Seja compreensivo com si mesmo e empático com os outros. As pessoas passam pelas mesmas situações, mas experienciam as coisas de forma diferente. Entenda que planos são importantes, mas isso não significa que você vai fazer isso exatamente da forma que planejou. Esquecer de viver as outras realizações da vida por causa disso é acumular uma pilha de momentos perdidos.